Hamilton se põe contra derrubar floresta para fazer autódromo no RJ: “Não é inteligente”

Além de não apoiar a derrubada de árvores da Floresta do Camboatá, o hexacampeão ainda disse que, pessoalmente, não acha que o mundo precisa de mais circuitos

Lewis Hamilton se pronunciou sobre o apoio da Fórmula 1 para a construção do autódromo de Deodoro, que vai provocar a destruição da Floresta do Camboatá, uma das últimas áreas de Mata Atlântica no Rio de Janeiro. Ativista de causas pela proteção do meio ambiente, o hexacampeão fez críticas aos planos que têm como objetivo levar o Mundial para a capital fluminense, por meio da edificação de um novo circuito.

Chase Carey, diretor-executivo do Liberty Media, grupo que comanda a maior das categorias do esporte a motor, enviou uma carta, obtida pelo DIÁRIO MOTORSPORT, parceiro do GRANDE PRÊMIO, ao governador do RJ, Cláudio Castro, pedindo para que acelerem as licenças ambientais para a construção da pista. Trata-se, na prática, de um lobby exercido pelo CEO da F1 em um assunto político e ambiental de um país que não é o seu nem o do campeonato.

Neste momento, o projeto está parado porque o estudo de impacto ambiental ainda está sendo analisado pelo INEA, o Instituto Estadual do Meio Ambiente, órgão do governo estadual do Rio, e responsável pela proteção e conservação do meio ambiente. São os técnicos do Instituto que hão de assinar ou vetar a obra do autódromo. Além disso, os Ministérios Públicos Federal e Estadual consideram o projeto irregular.

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Ainda, por conta da ‘carta-lobby’ do chefão da F1, há uma mobilização para que a floresta não seja derrubada, inclusive com a criação de uma petição contra o autódromo.

Hamilton criticou o projeto para Deodoro (Foto: AFP)

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“Primeiro, eu amo o Brasil, acho que alguns dos meus maiores fãs estão no Brasil. O apoio que eu tive nos últimos anos foi incrível”, disse Hamilton, durante a coletiva de imprensa da F1, em Nürburgring, nesta quinta-feira (8), ao ser questionado sobre o projeto de Deodoro.

“Eu estava esperando que não perguntassem a mim, porque minha opinião pessoal é que o mundo não precisa de um novo circuito. Creio que há muitos circuitos no mundo que são ótimos”, afirmou.

“Amo Interlagos e conheço o Rio, é um lugar lindo, lindo. Derrubar [árvores] – e não conheço todos os detalhes -, apenas ouvi que seria uma corrida sustentável, mas o mais sustentável que pode ser feito é não derrubar nenhuma árvore. Especialmente num momento que estamos lutando contra uma pandemia e uma crise global. Não acho, pessoalmente, que o desmatamento seja uma decisão inteligente. De novo: não tenho todos os detalhes, mas não é algo que eu, pessoalmente, sou a favor”, completou o líder do campeonato.

Entenda o caso

O processo de construção do autódromo na região militar é alvo de suspeitas pelo envolvimento da citada Rio Motorsports, de José Antonio Soares Pereira Júnior, que virou JR Pereira para evitar expor os problemas judiciais que enfrenta desde que uma de suas empresas, a Crown Processamento de Dados, acumulou dívidas superiores a R$ 25 milhões à União.

A Rio Motorsports, através do próprio JR Pereira e de uma das companhias vertentes da Crown, acabou participando da regulação do processo de licitação da obra, algo que qualquer ente público proíbe. Ainda, nunca houve comprovação, por parte da Rio Motorsports, da origem dos mais de R$ 800 milhões inicialmente previstos para a obra — na região da floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica.

A promessa da Rio Motorsports era tirar o GP do Brasil de Interlagos já a partir de 2021. A proposta ganhou apoio do presidente Jair Bolsonaro, que, em 24 de junho do ano passado, disse que era “99% certo” que a corrida passaria a ser realizada no RJ. O projeto do novo autódromo de Deodoro segue parado.

Os últimos meses foram marcados por intensa batalha judicial envolvendo o licenciamento do autódromo. É que ainda em maio a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 14ª Vara da Fazenda Pública, suspendeu a audiência pública para apresentação do EIA/RIMA [Relatório de Impacto do Meio Ambiente] referente à tentativa de construção da pista na região do Camboatá.

Meses e liminares depois, em meio a uma pandemia de coronavírus, o prefeito Marcelo Crivella pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a realização da audiência pública virtual. O governante obteve êxito.

Em agosto, na audiência pública virtual que durou mais de dez horas e atravessou a madrugada, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro concluíram que o projeto de autódromo de Deodoro é ilegal por conta do impacto ambiental em área de mata atlântica, além do processo de licitação irregular.

A carta do lobby de Chase Carey

Carta enviada por Chase Carey ao governador do Rio de Janeiro pede liberação das licenças ambientais (Foto: Reprodução)
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