Mercedes encena conto da Cinderela ao ver W15 voltar a ser abóbora na Fórmula 1 2024
Num passe de mágica, a Mercedes emplacou três vitórias nos quatro últimos GPs antes das férias, mas ainda sofre com a instabilidade de um W15 que teima em impedir o time chefiado por Toto Wolff de finalmente ter o 'final feliz' na F1 2024
Sabem aqueles exercícios, do tipo ‘se você fosse um filme, qual seria?’, que as pessoas às vezes fazem para conhecer melhor o gosto das outras? Pois bem, se tal pergunta fosse feita à Mercedes, certamente a equipe adoraria dizer que vive um conto de fadas na Fórmula 1 após dois anos de completo ostracismo com a chegada do regulamento vigente, em 2022. E essa, na verdade, foi a história que se desenhou do GP da Áustria — aquele do acidente entre Max Verstappen e Lando Norris e que acabou com a vitória caindo no colo de George Russell — até o GP da Bélgica, antes da tradicional parada para as férias de verão na Europa, num momento em que nem a própria equipe entendia ao certo a razão do surpreendente progresso.
Foi, de fato, um conto de fadas, mas a história está muito mais para a da Cinderela, exatamente no instante em que a magia acaba e a carruagem da princesa volta a ser uma simples abóbora. Pois não é exagero nenhum dizer que o W15 se enquadra bem no exemplo.
Verdade seja dita: tudo o que se vê da Mercedes de hoje é consequência do mal nascido projeto de 2022, aquele do famigerado ‘zeropod’. A esquadra de Brackley ainda teimou em aceitar que o desenvolvimento escolhido para o carro era equivocado, e isso consequentemente atrasou todo o trabalho que viria a seguir. Ainda assim, a qualidade técnica do grupo sempre foi notória, portanto a sensação de que engrenaria em algum momento também era clara.
E não foi por falta de trabalho, que começou a dar frutos a partir de um robusto pacote de atualizações introduzido em Ímola, principalmente no assoalho — peça fundamental no conceito do efeito-solo. As mudanças nas aletas laterais trouxeram um melhor direcionamento no fluxo de ar gerado na parte de trás do piso. Em seguida, no Canadá, mexidas na suspensão dianteira foram feitas para trazer mais equilíbrio ao carro.
E se a vitória na Áustria foi totalmente circunstancial, o belo triunfo de Lewis Hamilton diante da torcida inglesa, em Silverstone, confirmou que finalmente havia, sim, para onde seguir. A Mercedes ainda conquistou magistral dobradinha em Spa-Francorchamps graças a uma ousada estratégia de Russell de apenas uma parada — ok, ele foi desclassificado por infração técnica, mas era outra evidência de que ‘a campeã havia voltado’.
E talvez este tenha sido o maior erro da Mercedes: superestimar a si própria. Os primeiros sinais vieram logo nos Países Baixos, com Hamilton e Russell passando longe do top-3. O cenário se repetiu na Itália e só não foi o mesmo no Azerbaijão por Carlos Sainz e Sergio Pérez deram o pódio de bandeja ao baterem na penúltima volta — e, novamente, o #63 foi quem riu por último. Singapura ainda deu indícios de que daria para entrar na briga novamente, porém tal qual um time de meio de pelotão que não tem nada a perder, jogou no lixo uma chance clara de pódio ao errar a estratégia de Lewis.
É como diz o velho ditado, ‘o buraco é mais embaixo’ quando se trata de Mercedes, por isso ela se vê mais uma vez perdida, jogando as fichas restantes no “último e grande” pacote de atualizações que será introduzido nos Estados Unidos. Mas a não ser que haja uma importante mudança técnica no regulamento, como a diretiva em 2022 que forçou as equipes a subirem mais a altura dos assoalhos e sacrificou boa parte da força do carro da Ferrari na ocasião, é muito difícil alcançar um salto de performance tão significativo de uma hora para outra.
Enquanto guiava a bela e luxuosa carruagem, o grupo chefiado por Toto Wolff lançou mão de constatações rápidas, declarando, por exemplo, que não entendia “o carro não ter sido rápido desde o início”, ou mesmo confirmar que o modelo de 2025 será “um primo próximo” do W15. A verdade é que ainda se trata de um equipamento instável e que possui uma questão séria quando exposto a temperaturas mais altas — cenário que deve encontrar em Austin, Interlagos e Catar, considerando as datas.
Em suma, a Mercedes ainda pode encontrar mais alguma coisa e vencer novamente em 2024? Pode, claro, só que enquanto não solucionar o cerne do problema, será sempre assim, um passe de mágica aqui e ali, mas ainda longe do ‘final feliz’.
A Fórmula 1 agora faz longa pausa e retorna de 18 a 20 de outubro em Austin, Estados Unidos, início da perna americana da temporada 2024
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