Na Garagem: Vettel peita ordem da Red Bull e garante vitória no GP da Malásia

Sebastian Vettel, que tinha uma relação estremecida com o companheiro de equipe Mark Webber, desrespeitou uma ordem da Red Bull para continuar em segundo, atrás do colega taurino e partiu para a vitória na Malásia. Episódio ficou conhecido como Multi 21

Uma das maiores polêmicas da história da Fórmula 1 completa, nesta sexta-feira (24), exatos 10 anos. No GP da Malásia de 2013, realizado em 24 de março, Sebastian Vettel desobedeceu uma ordem da Red Bull para não ultrapassar o seu companheiro de equipe, Mark Webber, e proporcionou o gatilho que faltava para que os relacionamentos dentro da escuderia se estremecessem. O episódio ficou conhecido como Multi 21.

Para relembrar essa história, é preciso desenhar todo o cenário da Red Bull no fim dos anos 2000 e início dos anos 2010. O australiano Webber estreou na equipe taurina em 2007 e vinha solidificando sua importância no paddock, quando, em 2009, Vettel, que brilhou na Toro Rosso, chegou como um furacão ao time principal da marca de energéticos.

O alemão sempre teve muito crédito com o consultor da escuderia, Helmut Marko, e isso ficou bastante evidente já na primeira temporada de Seb, quando o alemão foi vice-campeão mundial, atrás apenas de Jenson Button, da Brawn GP.

Vettel conquistou o título mundial em 2010. Piloto alemão chegou como um furacão na F1 (Foto: Red Bull/Divulgação)

Entre desconfortos e olhos tortos, mas com um relacionamento ainda cordial, a primeira grande briga entre os pilotos aconteceu no GP da Turquia, em 2010, quando ambos chegavam empatados no campeonato com 78 pontos.

Na volta 40, Webber e Vettel iniciaram um duelo pela liderança e, tão logo o alemão ultrapassou, também jogou o carro para cima do adversário. O resultado foi um choque que fez Seb abandonar a corrida e tirou a vitória de Webber. Deste acontecimento, nasceu a emblemática imagem do tetracampeão mundial fazendo um sinal que simbolizava que o australiano era louco.

A partir daí, o relacionamento entre os dois descambou. Por diversas vezes, se cutucavam em entrevistas, brigavam pelas vitórias nos GPs e proporcionavam situações desagradáveis para a Red Bull – esta, por sua vez, se mantinha conivente à predileção de Marko por Vettel, protegendo-o de qualquer polêmica.

A realidade é que já havia uma clara diferença de talento entre os pilotos. Webber não tinha a mesma consistência que o companheiro, tanto é que no período em que estiveram juntos na escuderia austríaca, o placar de vitórias em corridas aponta 38 x 9 para Vettel. Isso fazia com que qualquer dilema ético fosse superado pela importância do jovem alemão à Red Bull. É óbvio que o australiano não aceitava isso com facilidade e, assim, problemas de relacionamento eram frequentes.

Mark Webber (à esquerda) e Sebastian Vettel (à direita) após o GP da Malásia de 2013. Relacionamento dos pilotos da Red Bull foi, na maior parte do tempo, estremecida (Foto: Fórmula 1)

De acordo com Christian Horner, chefe dos turinos, em entrevista ao podcast oficial da F1, Beyond the Grid, o último gatilho para a confusão de 2013 aconteceu no GP do Brasil, em novembro de 2012.

“A situação piorou no final de 2012, quando Sebastian [Vettel] lutava com [Fernando] Alonso pelo título, e Mark [Webber] bateu nele no início do GP do Brasil, a última prova do campeonato. Sebastian estava furioso. Ele ainda estava de ressaca na Malásia, literalmente duas corridas depois, apesar de quatro ou cinco meses de diferença”, contou Horner.

Finalmente, chegamos ao GP da Malásia de 2013. Na classificação, Vettel apresentou suas credenciais ao conquistar a 38ª pole da carreira e ao superar, sem dificuldades, tanto a chuva que castigou a pista de Sepang, quanto os concorrentes de Ferrari, Mercedes e o companheiro de Red Bull, que terminou em quinto.

A precipitação também se fez presente às vésperas da corrida e fez com que os pilotos iniciassem a prova com pneus especiais. A largada deu a Webber duas colocações, enquanto Vettel se manteve na ponta. Já Alonso, da Ferrari, que começou em terceiro, bateu na traseira do alemão e teve danos na asa dianteira. Ao invés de entrar nos boxes para fazer a troca, o espanhol tentou seguir na corrida, mas uma escapada na segunda volta fez com que ele abandonasse a etapa.

Foi na volta 5 que a turma da frente ficou toda embaralhada. A chuva de antes da corrida foi sucedida por um forte calor, que secou rapidamente a pista de Sepang. Todos os pilotos, então, foram para os boxes para trocarem os pneus e, depois de três voltas, Webber inesperadamente apareceu na liderança do GP da Malásia.

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O australiano passou a guiar para a vitória. A primeira colocação só era perdida quando o piloto entrava nos boxes. E, em uma das trocas de pneus, entre as voltas 33 e 34, Webber voltou para a pista com o composto duro, enquanto Vettel retornou com o médio.

Mais rápido, o alemão a cada volta reduzia distância para o companheiro de equipe. Na volta 45, Vettel já estava colado no rival, mas a Red Bull, temendo um duelo que pudesse prejudicar a corrida de ambos – como aconteceu no GP da Turquia em 2010 –, deu a orientação para o alemão: “Sebastian, multi map 21. Multi map 21”. Portanto, ele não deveria atacar, pelo contrário, deveria diminuir o ritmo porque a ordem de chegada já estava estabelecida: o carro 2, de Webber, à frente do dele, o 1 – por isso o “21”.

Mas Vettel não aceitou e ultrapassou. O colega taurino ficou furioso e reclamou tanto no rádio, quanto após a corrida, na antessala que levava ao pódio. E até hoje não digeriu bem.

Segundo Horner, o tetracampeão mundial fez isso propositalmente, como uma vingança ao que aconteceu no GP do Brasil em 2012: “É 100% certo. Vettel disse [a Webber] após a corrida. Não teria como ser mais tenso”.

Em sua autobiografia, Webber detalhou os próximos capítulos da confusão: “Meu encontro seguinte com Seb foi na quinta-feira do GP da China. Esse foi o momento mais decepcionante de nosso relacionamento. Ele disse que estava aborrecido com o que eu havia dito no pódio na Malásia, e que, embora me respeitasse como piloto, ele não tinha respeito por mim como homem.”

No pódio do GP da Malásia, o australiano, de fato, não poupou palavras para o seu rival e chegou a dizer que ele era protegido pela Red Bull.

“Depois da última parada, a equipe nos disse que era para diminuirmos o ritmo, que precisávamos cuidar dos pneus e dos carros para chegar ao fim da corrida inteiros. Foi o que fiz. O Seb [Vettel] desrespeitou as ordens e tomou suas próprias decisões. Agora não dá para rebobinar a fita. Ele terá proteção como sempre. É assim que funciona”, disse Webber.

Por outro lado, Vettel se desculpou, mas ao mesmo tempo cutucou o adversário: “Obviamente, percebi naquele momento que havia um grande conflito. Por um lado, sou o tipo de cara que respeita as decisões da equipe e, por outro lado, provavelmente Mark [Webber] não foi quem mereceu vencer. O ponto principal é que eu estava correndo, fui mais rápido, passei por ele, ganhei.”

Pódio do GP da Malásia de 2013. Sebastian Vettel subiu no lugar mais alto, acompanhado por Mark Webber em segundo e Lewis Hamilton, da Mercedes, em terceiro (Foto: FIA)

Para fechar toda a situação, o australiano tentou pedir para Red Bull algumas explicações, por meio de sua empresária, Ann Neal. A resposta, segundo o piloto, foi controversa e o fez desanimar da Fórmula 1.

“Quando Ann perguntou a Christian [Horner] por que a equipe nunca havia repreendido ou sancionado Seb pelo Multi 21, ele disse que a equipe havia recebido uma carta de duas páginas do advogado de Seb alguns dias depois da prova da Malásia, indicando que eles haviam violado o contrato, dando-lhe ‘uma instrução irracional para a equipe’. Para tentar colocar panos quentes no caso, a Red Bull acabou dando o bônus de vitória aos dois, e não foi uma quantia pequena”, relatou.

A relação entre os dois pilotos no restante da temporada pode ser definida como constrangedoramente respeitosa. Ainda que quase nenhuma nova rusga tenha vindo a conhecimento do público, o sentimento de um pelo outro não era positivo. Webber se aposentou no fim da temporada, após o GP do Brasil, onde conseguiu o segundo lugar, atrás apenas de Vettel – que chegou ao seu quarto título mundial consecutivo.

E o Multi 21 ficou para a história.

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