Opinião GP: Cirúrgica, Red Bull tem vitória providencial. Leclerc vacila e liga sinal de alerta

A Red Bull promoveu um salto de qualidade desde a corrida em Melbourne e, em Ímola, foi recompensada por interpretar melhor as condições do tempo e da pista. Max Verstappen aproveitou todas as chances, enquanto Sergio Pérez segue muito consistente. Pelos lados da Ferrari, a prova caseira serve como um duro sinal amarelo

ESSA É UMA TEMPORADA de detalhes também. Observações minuciosas de tudo que pode fazer ganhar tempo e enganar o adversário. Foi mais ou menos assim que a Red Bull trabalhou para vencer a Ferrari diante de arquibancadas pintadas em vermelho neste fim de semana. Os taurinos identificaram suas falhas e trouxeram atualizações certeiras. Mas também contaram com uma interpretação perfeita das condições do tempo e do asfalto em Ímola, além de uma condução paciente e sem erros de Max Verstappen, reproduzida também por Sergio Pérez, diga-se. A recompensa veio em forma de dobradinha – a primeira desde 2016 –, mas que tende a representar um ponto de virada no campeonato.

Depois dos problemas enfrentados no Bahrein e na Austrália, os energéticos trataram de neutralizar aquilo que mais tira o sono de quem disputa o título: a confiabilidade. Desta vez, tudo funcionou muito bem. O trabalho feito em conjunto com os japoneses da Honda – que ainda têm grande influência nas decisões sobre as unidades de potência em Milton Keynes – surtiu o efeito esperado. Esse esforço também ganhou impulso com os estudos com relação à parte aerodinâmica do RB18. Era necessário promover um salto de qualidade no que diz respeito ao downforce e a estabilidade geral do carro. Esse passo à frente consentiu na escolha de um bom acerto, que priorizaram os pneus. Ou ao menos, permitiram um gerenciamento mais eficaz da borracha.

Relacionadas

“Depois de Melbourne, as fábricas de Milton Keynes e do Japão trabalharam duro. Ambos os pilotos foram rápidos aqui. Os pit-stops e a estratégia também foram corretos. No final, foi um trabalho de equipe perfeito e um dos nossos melhores fins de semana de corrida”, disse o chefão Christian Horner.

▶️ Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2

Max Verstappen, Sergio Pérez e Lando Norris (Foto: Red Bull Content Pool)

“Viemos para cá atacar e trouxemos algumas atualizações pequenas. Muita gente achou que não devíamos fazer isso por ser um fim de semana com somente um único treino livre [antes da classificação], mas acreditamos em nós mesmos e tudo se pagou”, emendou o dirigente.

Deu tudo certo, de fato. Verstappen foi capaz de aquecer os pneus rapidamente para cravar a pole na sexta-feira. No sábado, usou a experiência para pegar Charles Leclerc e, neste domingo, não deu chances a ninguém. As condições adversas do tempo, o piso úmido e, mais tarde, seco também fizeram brilhar o equilíbrio do carro austríaco. “Tivemos de aprender com nosso problema de confiabilidade e acho que aprendemos como equipe”, disse Max. “E neste fim de semana, fizemos as escolhas certas, estávamos no topo de tudo, exceto no início da corrida de ontem, que não foi bom, mas recuperamos isso muito bem”, completou.

“Toda a corrida foi muito bem executada, sem muitos problemas, mas você ainda tem que se concentrar. É fácil cometer um erro nestas condições complicadas, por isso estou muito satisfeito com o resultado”, acrescentou o campeão do mundo.

LEIA TAMBÉM
+CLASSIFICAÇÃO: Verstappen é perfeito em Ímola e corta vantagem de Leclerc
+Verstappen celebra grand-chelem e o domínio da Red Bull na Emília-Romanha
+Pérez demonstra alívio com o 1-2 da Red Bull em Ímola: ‘Já tivemos muito azar’

Verstappen venceu todas as corridas que terminou até aqui. E aí vem o detalhe máximo dessa prova: o holandês fez todos os pontos possíveis. Não deixou nada para trás. Verstappen somou 34 tentos, contra apenas 15 do líder do campeonato. E ainda contou com a eficiência de Pérez – cada vez mais adaptado ao carro taurino.

Portanto, foi uma vitória providencial, diante do cenário pós-Austrália, mas não nada acidental. A Red Bull se preparou para esse fim de semana e tirou proveito de todas as oportunidades que surgiram pelo caminho. Talvez a maior lição da disputa do título do ano passado. E a tendência agora é de crescimento.

Largada teve toque entre Sainz e Ricciardo (Vídeo: F1)

E o sucesso dos taurinos também significa a derrota dos italianos da Ferrari. Maranello viveu uma jornada inglória em casa. Cometeu erros e quase colocou tudo a perder. O carro ainda é muito bom e competitivo, como disse Mattia Binotto após a corrida. Mas os detalhes, sempre eles, jogaram contra desta vez. Aparentemente, faltou uma compreensão do todo. Embora muito veloz, o carro ferrarista apresentou um estranho desgaste, especialmente nos pneus dianteiros – algo que não lhe é próprio, como as três primeiras etapas do ano mostraram. Talvez tenha sido a escolha do acerto, talvez a má interpretação das condições da pista. O certo é que algo saiu do controle.

Além da parte técnica, é preciso também falar da operação. Os pit-stops foram mais lentos do que os do adversário, e isso também põe o desempenho em risco. E aí chega-se aos pilotos. Sem dúvida, a escuderia tem uma das duplas mais forte do grid, mas que por alguma razão não está funcionando.

Carlos Sainz errou na classificação de sexta-feira, mas escalou o pelotão na sprint para obter uma forte posição de largada neste domingo. Só que as pretensões do espanhol duraram alguns metros apenas, quando foi acertado por Daniel Ricciardo. Uma falta de sorte tremenda, verdade. Assim, a Ferrari perdeu um homem, enquanto o outro partiu muito mal e teve de buscar a recuperação.

Neste momento, ficou claro que o ritmo dos taurinos era muito melhor, e isso tanto com os intermediários por conta daquela condição de piso úmido do início da corrida, como com os pneus slicks médios/macios. A Red Bull esteve sempre melhor. Por isso, Leclerc não mentiu quando disse que o “terceiro lugar era o máximo que dava”.

Leclerc rodou sozinho e perdeu pódio em Ímola (Vídeo: TSN/F1)

Mas aí o monegasco quis a volta mais rápida, dada a impossibilidade de alçar voos mais altos. A Ferrari o chamou para isso, mas ele acabou tendo outra ideia, diante da reação dos austríacos, que pararam os dois carros na sequência, na parte final da corrida. Charles impôs um ritmo forte para tentar pressionar Pérez – a quem perseguia desde o começo –, mas a ambição desenfreada o acabou jogando contra o muro. Foi sorte conseguir voltar e ainda terminar em sexto, sem antes ter de parar mais uma vez.

“O erro não deveria ter acontecido hoje. O terceiro lugar era o melhor que eu podia fazer, não tínhamos ritmo para muito mais. Fui muito ganancioso, paguei o preço por isso e perdi sete importantes pontos, comparado ao terceiro lugar que estava antes. É uma pena”, lamentou o piloto da Ferrari. “São sete pontos que são valiosos no final do campeonato, com certeza. E isso não pode acontecer novamente”, completou.

Leclerc cometeu um erro sério em um momento que pedia calma, diante da vantagem na classificação. De novo, esse é um campeonato de detalhes e detalhes costumam cobrar seu preço. E nunca é barato.

Fórmula 1 segue a temporada 2022 em duas semanas, entre os dias 6 e 8 de maio, com a estreia do esperado GP de Miami, em nova pista nos Estados Unidos.  

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.