Então um novato na F1, Hamilton chegava à McLaren e tinha ao seu lado ninguém menos que o bicampeão Fernando Alonso. Mas o jovem, então com 22 anos, não se intimidou e peitou aquele que chegou contratado a peso de ouro pela equipe britânica. Não só pela sua postura, mas também — e principalmente — pelos resultados. Foi uma rivalidade explosiva que a F1 não via desde os tempos de Ayrton Senna e Alain Prost, com muita tensão nas pistas e nos bastidores. Ron Dennis comprou a briga e ficou ao lado do pupilo, e Alonso deixou o time no fim de um ano que marcou o início da sua espiral descendente na F1.
De 2008 para cá, o esporte se deparou com relações conflituosas entre Vettel e Mark Webber na Red Bull entre 2010 e 2013, nos anos de ouro da equipe taurina, que dominou aquele período. Com a transição para a nova ‘Era Turbo’ a partir de 2014, a Mercedes passou a ser a protagonista da F1, e a supremacia prateada insuflou o embate entre seus dois pilotos: Hamilton e Nico Rosberg. A dupla viveu momentos de tensão nos últimos anos, uma espécie de ‘guerra fria’ nos boxes da Mercedes, mas Toto Wolff e Niki Lauda tratavam de evitar que as coisas saíssem do controle. Mesmo no ano mais difícil da relação entre Hamilton e Rosberg, no ano passado, os nervos foram contidos até o fim.
Campeão, Rosberg não aguentou viver num ambiente tão carregado e se aposentou da F1.
Acabou o amor? Azerbaijão é ponto de partida para rivalidade 'raiz' entre Vettel e Hamilton (Foto: Reprodução/Twitter)
O enorme crescimento da Ferrari em 2017 em combinação com a estabilidade da Mercedes resultou em um cenário esperado por quase todo mundo na F1: a luta direta entre os dois maiores pilotos da década: Vettel e Hamilton. Com o Mundial sob nova e arrojada gestão do Liberty Media, uma luta franca e direta entre dois nomes das duas maiores marcas do esporte era mesmo o ideal para representar este novo momento. Mas o ambiente, outrora bastante cordial, deu lugar a uma verdadeira batalha entre gladiadores. Depois do que se viu em Baku, a mensagem é clara: a rivalidade entre eles é pra valer.
Não há santos nesta briga. No episódio controverso entre os dois, fica claro que Hamilton reduziu demais a velocidade durante o período de safety-car — após análise da telemetria, os comissários de prova da FIA negaram a possibilidade de 'brake test'. Seb não conseguiu segurar o carro e bateu de leve na traseira do Mercedes #44. Não satisfeito, foi tirar satisfação como numa dessas brigas de trânsito lamentáveis que estamos a ver todos os dias nas ruas e jogou sua Ferrari pra cima de Hamilton. Uma atitude que não combina com um tetracampeão mundial e jogou no ralo todo o discurso de respeito e admiração que um tinha pelo outro até então.
E por ser uma batalha ferrenha envolvendo duas equipes, a rivalidade Hamilton-Vettel tem tudo para ser visceral, até mesmo porque o alemão incorpora de forma perfeita toda a alma passional da Ferrari. Só mesmo a cabeça bem quente pode explicar uma atitude como a de Seb em Baku ao jogar o carro pra cima do Mercedes #44. Como o próprio
Maurizio Arrivabene chegou a dizer tempos atrás, Vettel se comporta muito mais como um latino do que como o alemão que é. E isso indica que a relação entre os dois pilotos não deve ser mais de paz e amor como antes.
A franca rivalidade entre os dois é o que a F1 precisava (Foto: XPB Images)
No fim das contas, tal cenário é bom para todo mundo: para os fãs, que vão ter muitos motivos a mais para acompanhar as corridas; para Hamilton e Vettel, pela chance que ambos tem de definir o próprio legado na F1; para o Liberty Media, que tem a oportunidade de explorar todas as nuances de uma rivalidade entre os melhores pilotos da década e, por fim, para a própria F1, que tem pela frente o tira-teima definitivo: no fim das contas, quem é o melhor? Lewis Hamilton ou Sebastian Vettel? Pergunta que muitos fizeram e que cabe à temporada 2017 responder.
Aposentadoria? Massa ainda tem muita lenha pra queimar
O esporte muitas vezes não costuma ser justo, mas foi um grande pecado o problema que fez Felipe Massa abandonar o GP do Azerbaijão que, depois de tudo o que se viu, indicou que o brasileiro tinha grandes chances de vitória. Mas a série de azares do veterano não apaga o que seus últimos resultados não refletem: Massa segue tão competitivo como antes, está com a motivação a pleno e mostra que merece estar por mais algum tempo na F1.
A corrida de Felipe em Baku foi a melhor em muito tempo. Aguerrido, o piloto fez uma grande largada, escapou das confusões, não se intimidou nas relargadas e também teve um carro que correspondia ao seu desempenho. Até que, logo após a bandeira vermelha, o sonho de voltar ao pódio depois de quase dois anos — o último foi no GP da Itália de 2015 — foi adiado por mais algum tempo.
Em Baku, Felipe Massa teve a melhor atuação dos últimos tempos na F1 (Foto: Williams F1/Twitter)
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Mas depois de lamentar a grande chance perdida, Massa mostrou porque é tão querido no paddock da F1 e também justificou o fato de ser conhecido como um grande cara de grupo: Felipe passou a incentivar com afinco o aprendiz Lance Stroll, que fez a melhor corrida da vida e conquistou seu primeiro pódio no Mundial, logo na oitava corrida da jovem carreira.
O GP do Azerbaijão foi daqueles que vai entrar para a história da F1 porque aconteceu de quase tudo: só não choveu. E também vai entrar para a trajetória de Massa como aquele que poderia ter sido o da sua primeira vitória desde o fim de 2008. Mas refletiu que a aposentadoria definitiva ainda pode esperar um pouco mais. Aos 36 anos, Felipe Massa mostrou que ainda tem muita lenha pra queimar na F1.
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