Opinião GP: Ferrari se joga nas cordas, e Verstappen toma favoritismo para si

Max Verstappen fez as pazes com o Azerbaijão e seguiu em uma recuperação absurda desde o abandono na Austrália. O atual campeão não só se estabelece como grande favorito da temporada, mas o posto vem em um momento delicado para Charles Leclerc e a Ferrari. Uma vez mais, os italianos foram traídos por si mesmos e agora lutam contra o tempo

Se algum dia fui infeliz, não me lembro. Essa divertida premissa das redes sociais se aplica perfeitamente ao momento vivido por Red Bull e Max Verstappen na F1 2022. Afinal, a enorme desconfiança que antes rondava as garagens taurinas parece ter mudado de lado. Se no início da temporada os energéticos se preocupavam com a confiabilidade – ao ponto de o holandês falar que o campeonato não importava, porque era preciso primeiro terminar as corridas –, o drama agora é todo da Ferrari e na pior hora possível. Isso porque o momento é do campeão do mundo. Uma vez mais, Verstappen tirou proveito de uma falha do adversário para contabilizar. E mais: a vitória em Baku não só o fez quebrar uma espécie de maldição azeri, como o coloca agora na posição de homem a ser batido. Favoritismo é isso.

O triunfo deste domingo representou ainda o quarto em cinco corridas. É só mais uma parte da grande recuperação de Max na temporada. Desde o abandono na Austrália – onde ele cobrou publicamente a Red Bull por um equipamento mais consistente –, são 125 pontos somados. Esses números ganham solidez na diferença do que fez Charles Leclerc. No mesmo período, o monegasco da Ferrari perdeu a liderança no Mundial e obteve só 45 tentos. Portanto, é um incômodo déficit de 80 pontos.

O caso é que a Red Bull aprimorou seu carro nesse tempo. Soube encontrar as falhas rapidamente e saná-las. Entregou um RB18 revisado em Ímola e, mais tarde, foi aplicando pequenas atualizações para gerar velocidade e consistência. Só que, mais do que isso, os taurinos também abusaram das chances que apareceram. Tomaram decisões corretas no pit-wall e ousaram. E o fato de ter um Sergio Pérez que vence corridas é ainda mais impactante.

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Só que é essencial colocar a Ferrari nesse horizonte. Os italianos também promoveram mudanças fundamentais em sua F1-75. O carro vermelho ganhou velocidade de reta e tato com os pneus. Ainda, é um modelo que gosta de curvas de média e baixa velocidade. Mas há um calcanhar de Aquiles do qual a Red Bull se aproveita bem: a confiabilidade. E que agora parece totalmente fora do controle dos italianos.

De novo, Maranello cavou a própria cova. Porque novamente enfrentou um problema na unidade de potência enquanto liderava uma corrida – é a segunda falha em três etapas. O mesmo já havia acometido Leclerc na Espanha, onde os vermelhos estavam claramente em vantagem. Em Baku, o cenário era um pouco diferente, mas havia uma chance de tentar a vitória, ainda que Carlos Sainz estivesse fora de combate – uma falha hidráulica tirou o espanhol.

Apesar da pole sensacional do sábado, Charles largou mal e perdeu a ponta para Pérez logo nos primeiros metros. E passou a se defender de Verstappen, o terceiro. Sainz vinha em quarto, mas sem o mesmo ritmo dos ponteiros. E mesmo com uma velocidade de reta superior, Max encontrava dificuldades para passar o monegasco. Foi assim até a volta 9, quando Carlos parou a Ferrari #55 na pista.

Charles Leclerc deixa o carro após abandono em Baku (Foto: Reprodução/F1)

Com o safety-car virtual, Leclerc foi chamado aos boxes, enquanto a Red Bull manteve sua dupla na pista. A decisão se pagou, porque o ferrarista acabou se colocando à frente após os pits dos rivais. É difícil saber se a história trataria a chamada ferrarista de acerto, porque não houve tempo. Na 21ª volta, o motor de Charles estourou, abrindo caminho para os energéticos. Porém, até aquele momento, o ritmo de corrida da F1-75 #16 era muito forte.

Agora, é estanho perceber como o campeonato revirou para os ferraristas. O desempenho está lá, pois Leclerc vem em uma sequência de poles e liderava a corrida no Azerbaijão quando o motor apresentou problemas. Em Barcelona, a performance colocou os vermelhos como favoritos. Mônaco foi exceção na questão confiabilidade, porque a Ferrari jogou fora aquela vitória na trapalhada que teve nos boxes.

De toda a forma, a conclusão é: a Ferrari está nas cordas por conta própria, pelos tropeços que dá sozinha. E isso deve doer. “Certamente é uma preocupação. Dissemos antes que confiabilidade é um fator fundamental na batalha, porque, com relação ao desempenho, trabalhamos muito para desenvolver o carro. Mas mostramos que não somos totalmente confiáveis. Ainda temos trabalho pela frente e precisamos seguir concentrados e tentando responder os problemas. Se fizermos isso, seremos mais fortes no futuro”, afirmou Mattia Binotto, o chefão da Ferrari.

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Mattia Binotto pede paciência e tempo para entender as falhas (Foto: Ferrari)

“Em primeiro lugar, temos de analisar e entender o que aconteceu hoje, porque nem todos os problemas são iguais. Talvez algum deles seja possível de resolver rapidamente. Honestamente, não sei. Vamos tirar tempo para analisar e entender. O abandono de Carlos foi hidráulico, não foi a mesma coisa que Barcelona. Talvez seja fácil resolver. Temos de seguir pacientes e entender”, seguiu.

Binotto fala em tempo e paciência. Mas tempo é algo que a Ferrari não tem. Primeiro, porque o calendário apresenta uma corrida daqui a sete dias – e ainda que restem 14 provas para o fim, é desnecessário dizer que novos abandonos podem representar a pá de cal em cima de qualquer ambição de título. Segundo, as quebras colocam a escuderia sob uma pressão enorme, não só aquela que naturalmente a acomete, mas também a que determina o uso das unidades de potência – por enquanto, os engenheiros estão conseguindo adaptar os elementos do motor, mas as punições por trocas não devem tardar. E aí um novo drama começa.

Por fim, talvez seja importante mudar a mentalidade. Outro dia, Binotto afirmou que o objetivo da equipe era ser competitiva e não ganhar o campeonato. Engenheiro que é, justifica o discurso mais frio, mas talvez a Ferrari precise de um pouco mais de sangue nas veias.

Fórmula 1 volta já na semana que vem, entre os dias 17 e 19 de junho, em Montreal, com o GP do Canadá.

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