Opinião GP: Ferrari volta a vencer, mas faz pouco em revés de Verstappen e se enrola

Quando Max Verstappen surgiu lento pela pista de Silverstone, abriu-se ali uma grande oportunidade para a Ferrari enfim dar o troco na Red Bull e vencer novamente. E de fato, a equipe vermelha levou a vitória, só que as decisões tomadas na Inglaterra confirmaram um embaraço irritante, que parece afastar Maranello de uma potencial briga pelo título

ERA IMPERATIVO VENCER. E assim foi. A Ferrari precisava desesperadamente de uma vitória não só para recuperar a confiança, mas também para se manter viva em um campeonato que ensaiava dominar. O cenário era desolador: o último triunfo havia sido em abril, do outro lado do mundo, na Austrália, e de lá para cá, Maranello colecionou frustrações – a maioria causada por erros próprios, entre falhas de confiabilidade, de comunicação, de estratégia, de operação. Enquanto isso, a rival Red Bull empilhou vitórias e colocou Max Verstappen em uma liderança confortável. Então, quando o líder do Mundial surgiu lento pela pista de Silverstone, o jogo pareceu virar para os italianos. Ali se abria uma oportunidade de aproveitar bem o revés do adversário. Era a chance da redenção e de voltar a tomar fôlego em 2022. De fato, a escuderia ganhou, mas a impressão que fica é que não foi o suficiente. E essa sensação é resultado de um comportamento errático da escuderia mais famosa do grid.

Mas antes de mergulhar na análise sobre como a Ferrari atrapalha a si mesma, é importante e honesto colocar aqui que a equipe vermelha promoveu atualizações importantes em sua F1-75. Foram soluções que tornaram o carro mais veloz, equilibrado e gentil com os pneus. Tecnicamente, o modelo italiano se colocou muito próximo da performance dos taurinos. A corrida inglesa seria apertada de qualquer maneira, mas a sorte quis sorrir para Mattia Binotto – faltou aproveitar melhor.

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A pole de Carlos Sainz, ainda que em condições adversas, foi um bom sinal. Apenas preocupa que o espanhol tenha sido capaz de tirar proveito somente na segunda largada. Só que fez com maestria e coragem para cima do atual campeão. Uma pena que durou pouco, já que um pequeno erro na sequência o fez perder a liderança. Verstappen assumiu a ponta, mas logo também teve com o que se preocupar. Um dano no assoalho do carro acabou tirando o holandês da briga. E foi aí que começou o dramalhão ferrarista.

Com os dois carros na dianteira, Sainz à frente de Charles Leclerc, o rádio de ambos ecoou alto. Mais rápido e ainda sustentando um dano na asa da frente, o monegasco queria a ponta da corrida. O espanhol, por sua vez, teimava. Enquanto Charles falava impropérios e seguia mais veloz, a equipe pedia que Carlos aumentasse o ritmo, o que não acontecia. Uma conversa de louco e estabanada. A discussão demorou a encontrar um fim, enquanto Lewis Hamilton, terceiro, se aproximava perigosamente de ambos, com uma sequência de voltas mais rápidas.

Aqui surge um primeiro ruído e diz respeito ao gerenciamento de prova da Ferrari: dentro de como o campeonato se desenha, com Charles melhor colocado na tabela, é compreensível entender que ele teria alguma prioridade em termos de estratégia, considerando especialmente o revés de Verstappen – talvez fosse o mais racional a se fazer, ainda que seja também razoável dizer que o próprio Leclerc poderia ter colocado fim ao debate apenas ultrapassando o companheiro de equipe.

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O acidente da largada que envolveu vários pilotos e fez Zhou sair voando (Vídeo: F1 TV)

Porém, o fato é que Maranello hesitou em dar qualquer ordem ou ainda liberar geral, e isso é um problema – ter um mínimo de controle sob seus pilotos não é pedir muito e tudo vale quando se está em uma disputa de um campeonato tão acirrado. A confusão ainda abriu uma janela para que a Mercedes sonhasse mais alto – e poderia ter sido qualquer outra oponente, inclusive os taurinos. Algo que colocaria os italianos certamente em apuros.

A ordem acabou vindo só depois que Sainz e Leclerc trocaram os pneus, numa diferença de cinco voltas entre os dois e, mesmo assim, o monegasco sobrava, confirmando que tinha realmente condições de vencer. Hamilton ainda não tinha parado e se distanciava. Quando o heptacampeão foi aos boxes, voltou atrás da dupla ferrarista. A corrida parecia caminhar para uma disputa entre Carlos e Lewis. Isso porque Charles tinha mais de 4s de diferença para o colega espanhol, que tinha pouco mais de 2s para o heptacampeão. Até aí tudo bem, tudo ainda parecia sob um certo controle e dava para descontar uma bela diferença para a Red Bull.

Mas o abandono de Esteban Ocon, já na parte final, colocou a Ferrari de novo sob os holofotes. E mais uma vez, a decisão foi questionada. A parada do francês da Alpine forçou a entrada do safety-car. Neste momento, muita gente aproveitou para trocar os pneus e voltar com compostos novos. Hamilton foi um deles; Sergio Pérez também, e isso fez total diferença no resultado da corrida. Só que os italianos surpreenderam e chamaram apenas Sainz – deixando o líder Leclerc na pista.

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Charles Leclerc acabou fora da briga por um novo erro da Ferrari (Foto: Ferrari)

Foi um inexplicável Ferrari x Ferrari. Simplesmente, a equipe jogou contra si de novo e tirou do monegasco a chance de tentar a vitória. Leclerc chegou a falar no rádio sobre a pressão que seria segurar os adversários com pneus novos. E assim foi. Com compostos duros mais usados, Charles foi superado por Sainz e se tornou uma presa fácil, ainda que tenha feito defesas absurdas, sobretudo em Hamilton. Mas era impossível assegurar ao menos o pódio. O quarto lugar foi o que lhe coube.

Leclerc tem razão em se queixar da equipe. Apesar da necessária vitória no GP da Inglaterra e da performance de Sainz, a escuderia sai com o copo meio vazio de Silverstone devido às decisões atrapalhadas que tomou. No fim das contas, a diferença tirada em relação a Verstappen foi pequena, seis pontos apenas em um cenário que vislumbrava a vitória do monegasco ou ainda uma potencial dobradinha. Novamente, a Ferrari se enrolou por receio de assumir riscos. Um pit-stop duplo seria custoso, é verdade, mas valeria a pena ao deixar todos em pé de igualdade, dado o rendimento dos carros – o embate entre Leclerc, Hamilton e Pérez no fim é prova de que a Ferrari tinha desempenho e poderia enfrentar os adversários. Chamar Charles depois também o tiraria da liderança sob o SC, mas daria a oportunidade de revidar os rivais.

Seja como for que queira disputar esse campeonato, com Leclerc ou Sainz, ou com os dois, é preciso saber o que se está fazendo, de que lado está jogando, ou vai realmente sucumbir. E pior, perder para si mesma.

A temporada 2022 da Fórmula 1 retorna na semana que vem, em Spielberg, para o GP da Áustria dos dias 8-10 de julho.

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