RETROSPECTIVA F1 2019
_F1 vive duas temporadas em uma, irrita e diverte ao mesmo tempo
_Hamilton vive ano irretocável com hexa e atos de grandeza
_Antes aprendiz, Leclerc se candidata a líder da Ferrari
_Parceria Red Bull-Honda rende bons frutos no primeiro ano
_Red Bull troca Gasly por Albon e arruma as duas casas Agressivo, implacável, rápido e agora maduro. Às vezes é assustador pensar que Max Verstappen tem apenas 22 anos – idade que Lewis Hamilton tinha quando estreou na F1, por exemplo – e que já pode ser considerado quase um veterano. Mas mais do que isso, o arrojado holandês já figura entre os principais nomes do grid, tira o sono dos campeões e atiça velhas rivalidades. Dono de uma personalidade forte, o filho de Jos tomou de assalto a Red Bull de tal forma que fez Daniel Ricciardo procurar outra equipe. E em 2019, assumiu de vez o papel de líder da esquadra austríaca com maestria e amadurecimento, abraçando a parceria com a Honda e liquidando seus companheiros de equipe, que não tiveram qualquer chance.
A verdade é que o campeonato deste ano será visto no futuro como um divisor de águas na carreira de Verstappen. Ou seja, só tende a ser melhor. Isso porque, na temporada passada, o dono do carro #33 teve lições tão valiosas quanto duras. A batida durante os treinos em Mônaco e a armadilha em que caiu no toque com Esteban Ocon no Brasil cobraram preços altíssimos e deixaram cicatrizes marcantes. Os erros parecem virar fontes de motivação e evolução, e isso pode ser notado claramente ao longo da temporada. Verstappen manteve tudo aquilo que encanta o fã, mas também acrescentou doses de paciência e equilíbrio,
e muito disso o fez terminar o Mundial dentro do top-3 pela primeira vez em sua precoce trajetória na F1.
Max Verstappen amadureceu e está pronto para a briga (Foto: Getty Images/Red Bull Content Pool)
Também é certo dizer que a Red Bull demorou a entender o sofisticado carro que construiu e a resolver as falhas. Enquanto isso, Max já tirava tudo que dava de um RB15 difícil e de ainda pouca potência na comparação com as rivais. E foi neste momento que o mundo pode perceber um piloto fortalecido, tal qual o leão que estampa seu capacete. Quer dizer, mesmo sem ter o melhor equipamento nas mãos, o piloto extraiu leite de pedra. É tão correto que Verstappen esteve no top-4 nas seis primeiras etapas do ano, sempre à espreita e aproveitando cada vacilo adversário, como aconteceu na Austrália, no Bahrein e na Espanha.
A performance sistematicamente consistente fez a Red Bull sonhar com o vice-campeonato,
e isso começou a tomar corpo quando o RB15 ganhou atualizações importantes para a etapa de casa, na Áustria. Foi na pista que leva o nome da marca dos energéticos que Verstappen teve a primeira grande atuação do ano. Max foi capaz de se recuperar de uma má largada, abusou da estratégia e esbanjou desempenho, ofuscando não só a Ferrari de Charles Leclerc – que havia comandado toda a prova, mas que acabou tomando a ultrapassagem a três voltas do fim em uma manobra arrojada do #33 –, como também a Mercedes, que foi ao pódio apenas com Valtteri Bottas.
Mas não pense que parou por aí.
O chuvoso e maluco GP da Alemanha foi o palco da vez para uma nova vitória de Max. Ao longo das encharcadas 64 voltas, o piloto da Red Bull cometeu apenas um errinho, antes de celebrar o triunfo. Aí veio a Hungria, e Verstappen lutou como um monstro para conseguir vencer, depois de largar da pole pela primeira vez na carreira. Acontece que a Mercedes e Hamilton tinham outros planos. Ainda assim, foi interessante ver o crescimento de Max frente às adversidades, encarando tudo com bem mais serenidade.
Max Verstappen, seria o novo leão da F1? (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)
Após as férias, a Red Bull deu alguns passos para trás em termos de configuração do carro, evolução do motor e avanços no que dizia respeito às atualizações. Max passou a errar mais em largada, como na Bélgica e precisou aturar punições por troca dos elementos. Então, enquanto a Ferrari enfileirava vitórias e poles, Verstappen tentava tirar a zica e voltar ao ponto de performance de antes da pausa de verão, mas isso só foi possível a partir do GP dos EUA, onde foi ao pódio. Na verdade, no México, uma semana antes, Max poderia até ter vencido, dada a performance no fim de semana, mas uma punição na classificação o tirou da posição de honra do grid.
O fim de temporada foi especialmente competitivo. Verstappen venceu lindamente em Interlagos, com uma performance soberba e foi ao pódio em Abu Dhabi, fechando o campeonato na terceira posição, atrás apenas dos dois caras da Mercedes, o que disse muito sobre o quanto andou Max neste ano e o quanto os vermelhos ficaram devendo.
De toda a forma, o holandês se mostrou fantástico em 2019. Ainda precisa, é claro, de um ajuste aqui e ali. E algumas situações ratificam essa afirmação, como a largada afobada e desastrosa em Spa-Francorchamps e também em Monza,
além do que fez na etapa mexicana, quando não tirou o pé do acelerador durante uma bandeira amarela. O misto de imprudência, uma vez que havia ali um acidente, e arrojo à flor da pele custou não só a pole, mas também uma provável vitória.
Lewis Hamilton e Max Verstappen, a próxima grande rivalidade da F1? (Foto: F1)
Verstappen ainda comete erros, é verdade, mas também foi o piloto que venceu três das cinco melhores corrida de 2019, e isso diz muito mais. É também justo colocar que Max foi único a encarar Hamilton sem temer ou errar, como aconteceu na Hungria e no Brasil.
Portanto, com tudo isso dito, é possível cravar que o homem que arrasta um exército laranja ao redor do mundo enfim está pronto para disputar o título mundial. Agora sé depende da Red Bull.
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