Retrospectiva 2021: F1 vibra com Verstappen x Hamilton, mas sofre com erros da FIA

A Fórmula 1 2021 viveu a melhor temporada da Era Híbrida e, certamente, uma das maiores de todos os tempos. E a principal razão se deve à intensa disputa pelo título entre Max Verstappen e Lewis Hamilton. Só que o ano também foi marcado por trapalhadas e decisões controversas da FIA

Mesmo vivendo sob a ameaça constante da pandemia da Covid-19 e no último ano das regras atuais da Era Híbrida, a F1 entregou em 2021 um thriller que misturou ação e suspense, prendendo o espectador da primeira à última volta da corrida derradeira do calendário. Até os momentos finais, foi impossível apontar favoritos – haja vista que os dois candidatos à taça desembarcaram na etapa decisiva empatados, o que não acontecia desde 1974. Dado esse que é apenas uma das facetas dessa que já é considerada a maior temporada de todos os tempos.

Há outras razões mais fortes, entretanto. E a primeira delas é: a F1 acompanhou um dos duelos mais potentes da história entre um insolente Max Verstappen, atrás de sua primeira glória, contra um aclamado Lewis Hamilton, que não tem mais nada a provar. Ainda, o patamar de competitividade de ambos foi tamanho que muitas vezes foi difícil reparar nos coadjuvantes – e foram muitos neste ano. Acontece que Verstappen e Hamilton dominaram e encheram a tela, dentro e fora das pistas. Além deles, também é importante destacar o papel de seus chefes. Os mandatários de Red Bull e Mercedes foram personagens importantes e tomaram os holofotes para si com uma voracidade jamais vista.

Aliás, intensidade talvez seja a palavra que melhor defina esse campeonato. Tudo foi superlativo na F1 2021. Das atuações dos dois protagonistas ao trabalho impecável de suas brilhantes equipes no desenvolvimento dos carros. Ultrapassagens majestosas, acidentes polêmicos, além de falhas de ambos os lados. Houve também vitórias consagradoras, dramáticas e reviravoltas assombrosas. E derrotas doídas. De verdade, Verstappen e Hamilton, Mercedes e Red Bull elevaram o sarrafo de tal maneira que será difícil repetir uma disputa como essa.

RETROSPECTIVA 2021
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Max Verstappen e Lewis Hamilton se encontraram diversas vezes ao longo da temporada (Foto: Lars Baron/Getty Images/Red Bull Content Pool)

Todo esse cenário fez as redes sociais ferverem por Lewis e Max. Seguir o que se passava nos perfis foi uma tarefa hercúlea e de muita paciência. E esse movimento invadiu as pistas, o paddock, os boxes. Nunca se falou tanto de F1. O efeito da série ‘Drive to Survive’ foi sentido em todos os cantos também. Enfim, a ousada decisão da Liberty Media em mostrar o Mundial por dentro se pagou e trouxe mais gente, gente nova, para os circuitos. Neste ano, isso explodiu.

E não houve descanso. A Fórmula 1 viveu a temporada mais longeva de sua história. Precisou lidar com restrições de viagem, clima e diferentes regras. Por isso, o calendário inchou, foram três rodadas triplas, que proporcionaram corridas fantásticas, mais igualmente caóticas e imprevisíveis.

Foi aí que muitos conseguiram roubar a cena do Verstappen x Hamilton – muito embora os dois estivessem sempre envolvidos de alguma forma. Por exemplo, Esteban Ocon e sua incrível vitória na Hungria. O francês se aproveitou de uma largada desastrosa de Valtteri Bottas e de decisões erradas dos adversários, para tomar a ponta da corrida, que viu apenas um carro alinhar para uma relargada – justamente o do heptacampeão. Essa prova também acompanhou uma das mais empolgantes disputas por posição de 2021: Alonso e Hamilton protagonizaram um lindo roda a roda, eventualmente vencido pelo inglês, mas que serviu para tirá-lo também da briga pela vitória.

Houve ainda a dobradinha da McLaren. Na Itália, um inspirado Daniel Ricciardo devolveu a charmosa equipe inglesa ao topo do pódio, tendo como companhia o colega Lando Norris. Essa corrida, entretanto, ficou marcada pelo acidente em que a Red Bull de Max subiu em cima da Mercedes de Lewis após uma dividida de curva entre eles. Para muitos, a imagem do ano.

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Batida forte na Itália foi o último momento em que Hamilton e Verstappen trocaram suas caixas de câmbio (Foto: Beto Issa)

Não se pode também esquecer dos pódios conquistados por um cada vez mais excelente Pierre Gasly (Baku), além dos dois campeões Fernando Alonso (Catar) e Sebastian Vettel (Baku). Seb, inclusive, foi enorme fora da pista ao protestar contra os ataques à comunidade LGBTQIA+, além de pautas sobre o meio ambiente. O alemão da Aston Martin não brilhou tanto na pista, mas deu exemplo ao recolher o lixo das arquibancadas em Silverstone e na fazenda de formigas que construiu com as crianças na Áustria.

Ainda dá para destacar em um ano tão cheio de histórias os triunfos dos ‘segundões’: Sergio Pérez tirou proveito de um erro incomum de Hamilton para vencer no Azerbaijão, enquanto Bottas dominou o GP da Turquia. Além do francês da AlphaTauri brilharam Norris, cada vez mais maduro na McLaren, e Carlos Sainz, em uma estreia fortíssima na Ferrari.

No entanto, 2021 também revelou um lado sombrio. As corridas na Arábia Saudita e Catar ganharam manchetes negativas, pela associação do esporte a nações que tentam passar a imagem de progressistas em meio a denúncias graves quanto a violações dos direitos humanos. Hamilton e Vettel se manifestaram sobre os acordos. O heptacampeão admitiu que se sentiu desconfortável por correr em Jedá, acrescentando que era importante levantar o debate sobre os ataques às mulheres e às minorias.  

Outra questão que entra como ponto negativo da temporada tem a ver com o comportamento da direção de prova da F1 e dos comissários da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). Ao longo do campeonato, as queixas quanto às decisões dos homens que regem o esporte tomaram enorme protagonismo, especialmente na pessoa de Michael Masi. Pior, essas ações tiveram efeito direto na decisão do título.

Medidas inconsistentes permearam a temporada, como no não GP da Bélgica, em que, claramente, não havia condição de se fazer uma corrida, diante do temporal que desabou em Spa-Francorchamps. A direção de prova preferiu passar a mensagem de que a F1 correria de qualquer forma. Nada aconteceu e muita gente se sentiu enganada. Aliás, o dia anterior, foi necessário um acidente com Norris para que uma interrupção da classificação fosse feita.

MICHAEL MASI; DIRETOR DE PROVA; FIA; FÓRMULA 1;
Michael Masi esteve no centro da polêmica sobre o GP de Abu Dhabi (Foto: FIA)

Depois disso, algumas decisões quanto às disputas diretas entre Verstappen e Hamilton deixaram transparecer uma grande insegurança de quem deveria saber de cor e salteado o regulamento, bem como aplicá-lo. Também ficou evidente que a pressão exercida pelas equipes nos ouvidos de Masi foi demasiada e o deixou em uma posição vulnerável.

Um exemplo foi a má condução do GP da Arábia Saudita, que incluiu uma ‘negociação’ com a Red Bull, depois de uma dividida em Verstappen cortou uma curva para superar Hamilton. Mas ainda tinha um desfecho.

As voltas derradeiras do GP de Abu Dhabi ainda devem ressoar muito nos corredores da FIA. Isso porque, após o acidente com Nicholas Latifi a cinco voltas do fim, o safety-car precisou ser acionado. Naquele momento, Hamilton liderava a prova e encaminhava o oitavo título mundial. O piloto da Mercedes tinha 11s5 para o rival Verstappen, que tentava a aproximação. Mas o carro de segurança e os procedimentos tomados a seguir desviaram o curso. Masi mudou de ideia quanto a decisão tomada inicialmente e teve uma interpretação ‘freestyle’ do regulamento, como disse acertadamente Toto Wolff dias depois.

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No momento do safety-car, a Red Bull foi esperta, chamou Verstappen para os pits e colocou pneus novos e rápidos. A Mercedes decidiu manter Hamilton na liderança, especialmente por causa de uma primeira mensagem dada pela direção de que, diferente do usual, os retardatários não tinham permissão para ultrapassar o líder e descontarem a volta. Havia quatro carros entre os duelistas. “Claro! Decisão típica. Não estou surpreso”, ironizou Max no rádio.

Só que essa determinação caiu instantes depois, porque Masi decidira que esses quatro retardatários poderiam passar – mas apenas eles. E esse foi o início do fim.

A ideia era deixar tudo limpo entre os dois postulantes, mas o inglês tinha pneus muito gastos e se tornou um alvo fácil para o holandês, que vinha com os velozes macios vermelhos. Como golpe final, o diretor ainda autorizou a relargada sem o alinhamento do pelotão, como pede o livro de regras.

Hamilton foi ultrapassado logo após o reinício e viu o adversário celebrar a taça do mundo. O heptacampeão bradou no rádio: “Isso foi manipulado.”

A forma como as decisões foram tomadas nesta fase decisiva em Yas Marina foi errada em todos os sentidos.

É claro que a repercussão das atitudes de quem rege o esporte foram alvos de debates de toda a sorte, e isso bateu forte em que investe e é dono do campeonato. Assim, a FIA, num último pedido de seu então presidente, Jean Todt, solicitou uma “análise detalhada e um exercício de esclarecimento”. Foi uma confissão de culpa, diante da ameaça da Mercedes em recorrer – uma vez que teve os protestos rejeitados em Abu Dhabi. A equipe recuou da intenção de apelar, mas criticou as decisões tomadas e pressiona por mudanças.

O chefe da esquadra alemã, Toto Wolff, e Hamilton não compareceram à festa de premiação.

Mas que fique claro: Verstappen mereceu o título e lutou até o fim por ele. Aproveitou as oportunidades que surgiram e não fez nada errado naquele giro final. Hamilton teria feito o mesmo. Ambos tomaram de assalto a F1 em 2021 e mereciam um tratamento condizente com o espetáculo que apresentaram.

Ao fim e ao cabo, a falha não foi dos pilotos ou das equipes, mas de uma direção de prova errática e confusa. Que precisa de mudanças urgentes.

De qualquer maneira, a temporada 2021 está na história e não será uma tarefa fácil superá-la. Mas a F1 sempre dá se jeito.

A partir desta semana, o GRANDE PRÊMIO traz a Retrospectiva 2021 da Fórmula 1.

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