Retrospectiva 2023: Gasly faz ano sólido e bate Ocon em estreia pela instável Alpine

Na primeira temporada de casa nova, Pierre Gasly se adaptou rapidamente e, especialmente em classificações, foi melhor que Esteban Ocon. Mas o duelo interno é o de menos em uma Alpine toda atrapalhada, sem comando e que, naturalmente, contamina seus pilotos

É difícil tirar algo de positivo do que foi a temporada 2023 da Alpine. Sexto lugar nos Construtores, milhas e milhas distante do top-5, em meio a um tremendo ‘passaralho’ na chefia do time. Ainda assim, os pilotos franceses não merecem e nem podem entrar na mesma equação do resto.

O ponto é que, se a Alpine tem algo de bom, isso é a dupla de pilotos. Além do orçamento altíssimo — que quase nunca tem se pagado — e de um ou outro lampejo de estratégia, o ponto forte do time realmente está em Esteban Ocon e Pierre Gasly.

Não é exagero nem colocar os franceses como uma das quatro melhores duplas do grid, por exemplo. Mercedes e Ferrari estão na frente, claro, talvez a própria McLaren possa entrar com os garotos, mas Sergio Pérez e Lance Stroll causam desequilíbrios em Red Bull e Aston Martin que a Alpine não possui. Gasly e Ocon são muito bons. E geralmente nivelados.

Aliás, para a gente começar aqui a falar da temporada da dupla, vale todo um contexto: a Alpine e o esporte a motor como um todo estavam com muito medo de uma potencial implosão pelo reencontro de Gasly e Ocon. É que estamos falando de um caso clássico no mundo competitivo, o de ex-melhores amigos.

Esteban Ocon e Pierre Gasly tiveram boa convivência na Alpine em 2023 (Foto: AFP)

Pierre e Esteban cresceram juntos, competiram no kart desde pequenininhos, receberam apoio da Federação Francesa, não vieram de famílias com grandes posses, se gostavam muito. No entanto, alguma ponta se soltou quando entravam na adolescência e os amigos se tornaram rivais ferrenhos.

Os dois nunca tocaram para valer no tema e reconhecem que não são mais amigos, mas, desde a chegada de Gasly na vaga de Fernando Alonso, prometeram profissionalismo e uma convivência respeitosa. Ao menos pelo que se vê e pelo que se há de relatos, eles cumpriram, lidando bem até com um acidente no GP da Austrália.

São caras competitivos e que não gostam de perder, claro — Ocon é uma carne de pescoço com qualquer companheiro, diga-se —, mas isso nunca furou uma linha do respeito. Mesmo em uma equipe em que ninguém sabe até hoje quem era o chefe, os dois levaram relativamente bem as coisas. Brigaram menos que, por exemplo, Lewis Hamilton e George Russell. Que ano maluco, aliás, hein?

“Sabia que não seria fácil, ao mesmo tempo em que sabia que havíamos crescido muito. Fiquei um pouco preocupado em como ele me receberia e trabalharia comigo. Conheço Esteban há muito tempo, então sei como trabalhamos. Temos personalidades diferentes, somos apenas dois tipos diferentes de pessoas, mas, no final das contas, acho que temos trabalhado muito bem. Acho que entendemos a responsabilidade”, disse Pierre, já na reta final da temporada.

Terceiro lugar de Ocon em Mônaco foi um dos poucos pontos altos na temporada da Alpine (Foto: AFP)

Focando na performance, parece justo dizer que Gasly teve um ano mais forte que o de Ocon. Praticamente empatados em pontos e em posições de chegada nas corridas, Pierre teve um pódio a mais se contarmos as sprints e, em classificações, dominou o duelo: 14×9.

Em favor de Gasly também está o fato de que ele estava chegando no time depois de passar a carreira toda na F1 na estrutura Red Bull/AlphaTauri/Toro Rosso. Não é uma mudança tranquila, especialmente porque Ocon tinha três anos de casa, conhecia muito bem o que tinha nas mãos.

Ambos sofreram com problemas de confiabilidade — Esteban um pouco mais, é verdade —, além da gritante falta de performance da equipe. Tanta que a Alpine chegou a admitir que tinha bem menos potência no motor que todas as rivais. Como ser feliz assim?

No fim, o pódio de Ocon em Mônaco e os de Gasly na sprint da Bélgica e no GP da Holanda foram pontos altos de um time que nem merecia isso tudo. Errinhos lá e cá e até alguns princípios de rusgas entre os dois — principalmente por trapalhadas do time nas estratégias — não apagam o que foram as boas temporadas de Esteban e Pierre.

Gasly brilhou na chuva no segundo pódio do time em 2023 (Foto: AFP)

Mas a Alpine não tem direito de se animar. Por mais que os ânimos tenham ficado relativamente controlados, parece muito mais fácil imaginar que a dupla vai voltar a se odiar do que o time vai chegar no grupo da frente. E quando se perde, a tendência de caos aumenta.

“Precisamos melhorar. A equipe está ciente de onde precisa ir em termos de evoluir o carro. Poderemos atacar algumas fraquezas e receber antes o feedback, mas até construir o carro, você realmente não sabe como será”, comentou um semianimado Ocon.

A Alpine é um navio sem capitão, e Pierre e Esteban estão à deriva.

Com a temporada encerrada, a Fórmula 1 retorna apenas no ano que vem, no dia 2 de março, com a estreia do campeonato no GP do Bahrein.

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