Retrospectiva 2023: Bottas e Zhou seguem Alfa Romeo em ano de inércia na F1
Com a chegada de Andreas Seidl como diretor-executivo, Alfa Romeo passou por um processo de reestruturação na Fórmula 1, mas despencou na ordem de forças e se tornou mera figurante em 2023
A Alfa Romeo foi uma das decepções da Fórmula 1 em 2023. Depois de trabalhar bem no regulamento que explora o efeito-solo e somar bons pontos nas primeiras corridas em 2022, esperava-se que o novo diretor-executivo Andreas Seidl arrumaria a casa para passar o bastão para a Audi em 2026, o que naturalmente deveria resultar em ganho de performance. No entanto, o cenário foi oposto e tanto equipe quanto a dupla de pilotos formada por Valtteri Bottas e Guanyu Zhou foram meros figurantes durante o ano. Talvez os mais figurantes de todos.
O carro do começo de 2022 da Alfa Romeo foi o único perto do peso mínimo, e, por isso, se mostrou muito rápido, teve um início de temporada dos mais interessantes e conseguiu somar bons pontos, mas naturalmente caiu pelas tabelas conforme as rivais iam evoluindo. Para 2023, a estrutura de Hinwil procurou corrigir os erros do ano anterior — principalmente no que diz respeito aos problemas com as atualizações — mesmo passando por um momento de reestruturação em que promoveu Alessandro Alunni Bravi após a saída de Frédéric Vasseur, que foi para a Ferrari. O resultado, no entanto, foi diferente do esperado.
Logo no início do ano, Seidl afirmou que o objetivo era tornar a Alfa Romeo/Sauber uma equipe desejável tanto para pilotos quanto para engenheiros e patrocinadores. Não parece ter rolado.
“Nossa visão [na fábrica] em Hinwil para o futuro é clara: queremos seguir em frente e, finalmente, nos tornar uma equipe capaz de lutar por pódios e vitórias. Queremos nos tornar um time desejável, na qual as pessoas querem estar – funcionários, pilotos e parceiros. Queremos nos tornar um time que os torcedores queiram seguir. Meu foco é elaborar, implementar e executar um plano claro de como chegar lá”, contou Andreas em entrevista divulgada pela Sauber.
Mas não foi exatamente essa a imagem que foi passada durante o primeiro ano junto da Sauber. Isso porque tanto a equipe quanto os pilotos viveram um estado de inércia e deixaram a desejar ao longo de toda a campanha. Bottas, inclusive, admitiu que a escuderia não atingiu a meta esperada.
“Não demos os passos que queríamos do ano passado para este. Agora que sou parte disso, vi que a equipe se tornou bem mais forte em termos de como operar na fábrica e nas corridas. Há uma reconstrução acontecendo na equipe também, o que espero que apareça um pouco mais no ano que vem”, contou o finlandês.
O #77, no entanto, também foi um nome pouco lembrado em 2023. Ainda que a primeira etapa no Bahrein não tenha sido das piores, com corrida de recuperação depois de cair no Q2 para fechar a prova em oitavo, o ano de Valtteri foi marcado por mais momentos ruins do que bons. Aliás, mais mornos do que ruins, quase invisíveis. Tanto que, após a rodada de abertura, só conseguiu um novo top-10 seis corridas mais tarde, quando foi décimo no GP do Canadá. As outras aparições na zona de pontos aconteceram apenas na Itália e no Catar. No fim, foi 15º no Mundial de Pilotos com 10 tentos.
Se dentro das pistas Bottas não teve tanto destaque, fora delas utilizou sua imagem para promover uma boa ação. Famoso por viralizar nas redes sociais com fotos sem roupa, Valtteri preparou uma campanha para arrecadar fundos para uma organização que ajuda no combate ao câncer de próstata. Assim, em novembro, mês mundialmente conhecido pela conscientização sobre a importância do exame de próstata, o finlandês divulgou nas redes sociais o site ‘BOTTASS‘, um trocadilho com o próprio sobrenome e a palavra ‘ass’ — bunda, em inglês. No local, foi possível comprar calendários de € 20 — cerca de R$ 107, na cotação atual —, sendo que € 5 (aproximadamente R$ 27) de cada foram doados para o Centro de Pesquisas da Próstata, que fica no Reino Unido.
Guanyu Zhou, por sua vez, conseguiu ser ainda mais discreto em 2023. Mesmo quando obteve os melhores resultados ao terminar os GPs da Austrália, Espanha e Japão na nona posição, não teve performances chamativas. Na verdade, era difícil lembrar que Guanyu estava no grid da Fórmula 1.
O chinês até teve um momento de muito holofote, quando conseguiu a melhor posição de largada da carreira no GP da Hungria e alinhou o carro na quinta posição. Era uma chance clara de pontos, mas que Zhou colocou tudo a perder antes mesmo da primeira curva. No apagar das luzes, não tracionou bem e despencou para 15º. Na curva 1, perdeu o ponto de freada, tocou no carro de Daniel Ricciardo, que acabou sendo jogado para cima dos dois pilotos da Alpine. Zhou ainda tentou justificar a causa do acidente.
“Não faço ideia [o que aconteceu]. Preciso dar uma olhada. Estava controlando os giros antes das luzes apagarem e aí simplesmente perdi totalmente a resposta do acelerador. É realmente decepcionante, pois acho que poderia ter sido muito bom na largada. Precisamos ver mais detalhes do que aconteceu, pois isso é estranho, nunca tinha acontecido”, contou o chinês.
Também sofrendo com o ritmo da Alfa Romeo, e sem performances brilhantes, Zhou somou apenas 6 pontos no ano e foi 18º no Mundial de Pilotos. A equipe ficou em nono na tabela de construtores, com 16 tentos.
Em meio às dificuldades na F1, em setembro Felipe Drugovich surgiu como um possível candidato à vaga de Zhou na Alfa Romeo em 2024. No entanto, embora de fato tenha existido algumas conversas com o brasileiro, o time de Hinwil apostou na estabilidade e confirmou Guanyu ao lado de Bottas no próximo ano. Na época, Alunni Bravi elogiou a evolução do piloto #24 e afirmou que a dupla com o finlandês era forte.
“A decisão de continuar nossa jornada com nosso line-up inalterado é uma prova do investimento que fizemos no nosso projeto. Nada na Fórmula 1 muda da noite para o dia, e nós tomamos a decisão consciente de focar na estabilidade e seguir construindo nossa equipe juntos conforme embarcamos em um importante período de transição”, contou
“Valtteri e Zhou são pilotos de talento e habilidade conhecidos e trabalham realmente bem juntos: eles são uma boa combinação e podem empurrar um ao outro” disse o representante da Alfa Romeo.
Para 2024, no entanto, Bottas e Zhou vão precisar fazer muito mais do que já apresentaram nestes dois últimos anos na F1. Afinal, a Audi tem intenções em se tornar uma potência e busca pilotos rápidos e experientes para iniciarem o projeto na categoria. Por isso, não é absurdo imaginar que a dupla pode perder a titularidade ao fim da próxima temporada.
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