Retrospectiva 2024: Aston Martin se arrasta com Alonso e vive ano à espera de Newey
Depois de colocar as manguinhas de fora e surpreender no início da temporada 2023, a Aston Martin entrou na lista das maiores decepções de 2024. Perdida entre o talento de Fernando Alonso e os erros inaceitáveis de Lance Stroll, a equipe britânica abriu os cofres e não perdeu a oportunidade de contratar Adrian Newey, em quem deposita as esperanças de um futuro melhor
A Aston Martin definitivamente é uma fábrica de expectativas. Após o bom e surpreendente início de temporada em 2023 — quando Fernando Alonso, inclusive, chegou ao pódio em seis das primeiras oito corridas —, era natural esperar que o time de Silverstone pudesse começar 2024 novamente com o pé direito, ainda que a segunda metade do ano passado tenha mostrado uma tendência de queda, que acabou ficando mais evidente por causa do crescimento de Mercedes, McLaren e Ferrari. Ninguém esperava os esmeraldinos brigando por um top-3, claro, mas ficaram devendo — e muito.
O primeiro sinal de alerta surgiu logo no GP do Bahrein, a abertura do campeonato. Embora Alonso tenha conseguido uma boa sexta posição no grid de largada, ficou claro no dia seguinte que a escuderia inglesa tinha perdido muito terreno em comparação com as rivais. Enquanto o espanhol despencou no pelotão e cruzou a linha de chegada em nono, mais de 1min14s atrás de Max Verstappen, que venceu, Lance Stroll também não brilhou e completou o top-10.
Na etapa seguinte, na Arábia Saudita, o dono do AMR24 #14 conquistou aquele que seria o melhor resultado dele e da equipe na temporada: o quinto lugar. Ao mesmo tempo, o colega da garagem ao lado não demorou para estampar o carro no muro e ter de abandonar em Jedá. Na Austrália, 15 dias depois, o bicampeão caminhava para uma boa sexta colocação, mas levou 20s de punição após ser considerado culpado pelo forte acidente de George Russell nos momentos finais da prova, caindo para oitavo. Stroll foi quem herdou o sexto posto.
As corridas seguintes foram no mesmo embalo, com Fernando e Lance brigando sempre pelas últimas posições dentro do top-10. Ainda que fossem totalmente incapazes de duelar contra os carros de Red Bull, McLaren, Ferrari e Mercedes, permaneciam levando boa vantagem sobre as demais equipes da chamada ‘F1 B‘ — somente a RB (Visa Cash App RB), principalmente com Yuki Tsunoda, que aparecia de vez em quando para virar uma pedra no sapato.

Tanto é verdade que, após o GP do Canadá, onde a Aston Martin conseguiu o melhor resultado coletivo do ano, com Alonso em sexto e o dono da casa em sétimo, a equipe inglesa aparecia na quinta posição do Mundial de Construtores com 58 pontos somados — 66 a menos que a Mercedes, quarta colocada, e 30 a mais que a RB. Ou seja, os verdinhos estavam navegando de maneira solitária, uma tendência que se seguiu ao longo de toda a temporada 2024.
Mas a calmaria vivenciada na tabela de classificação não significava que tudo estava indo bem nos bastidores, muito pelo contrário. Após uma sequência de resultados aquém do esperado, Mike Krack, chefe da equipe, admitiu que Lawrence Stroll, pai de Lance e comandante das operações na F1, estava colocando uma “pressão enorme” para que os altos investimentos efetuados na estrutura refletissem no desempenho do carro.
De fato, após as férias de verão, no período entre o GP da Itália e a grande final em Abu Dhabi, a Aston Martin saiu de 73 pontos no Mundial para 94 — apenas 21 tentos somados em nove etapas. Mas além de ter sofrido uma queda no desempenho já mediano que vinha apresentando, já que chegou a ficar sem pontuar entre as etapas em Austin e Las Vegas, o crescimento das rivais chamou a atenção: durante o mesmo intervalo de tempo, a Alpine acumulou 54 pontos, enquanto a Haas colecionou 31.
Claro, o pódio duplo de Esteban Ocon e Pierre Gasly paro o time francês no atípico GP de São Paulo acabou destoando dos demais resultados. Mas, de qualquer maneira, considerando apenas as três últimas semanas de campeonato, com as provas em Las Vegas, Catar e em Yas Marina, a Aston Martin conquistou somente 50% dos pontos somados pela Alpine e 33% dos alcançados pela Haas. Apesar de ter terminado à frente na classificação, a reta final de certame deixou uma perspectiva mais otimista para as rivais do que para os esmeraldinos, que viram o desenvolvimento do carro estagnar.

As expectativas futuras podem até ser melhores, mas pouco deve mudar já para 2025. Depois de inaugurar uma fábrica totalmente nova em Silverstone e viver a expectativa do novo simulador e túnel de vento, que deve entrar em funcionamento em breve, Lawrence Stroll investiu pesado na composição do corpo técnico para os próximos anos. Além de Enrico Cardile, que chegou da Ferrari para assumir o cargo de diretor-técnico, e Bob Bell, que ocupou o posto de diretor-executivo, o grande trunfo desta temporada realmente foi ter atraído Adrian Newey.
Incomodado com a crise interna e a briga de poder que assolaram a Red Bull, o projetista decidiu arrumar as malas e encontrar um novo lar. O ‘Mago da Aerodinâmica’ ficou tão impressionado com as instalações da escuderia britânica que rejeitou outras propostas, inclusive da Ferrari, para ter em mãos as melhores ferramentas na tentativa de ajudar em uma possível reviravolta. Mas Newey só chega no início de março, por isso não terá influência no carro que vai à pista nos testes de pré-temporada, no Bahrein, e nas primeiras corridas do ano.
Outro movimento importante foi a renovação do contrato de Alonso. Embora o bicampeão não seja exatamente o mesmo de outrora, ainda é acima da média e pode entregar resultados melhores caso a equipe consiga entregá-lo um equipe à altura. Aos 43 anos de idade, o espanhol já deixou claro que se sente tão bem fisicamente quanto quando tinha seus 20 e poucos, e, por isso, decidiu permanecer na F1 por mais alguns anos, pois acredita que ainda pode dificultar a vida dos rivais e sonhar com um eventual terceiro título em 2026. E a chegada de Adrian serviu como uma motivação inesperada.
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Embora os resultados em pista não tenham sido os mais animadores para a Aston Martin, a temporada 2024 foi, sem dúvida, a que a equipe mais investiu. Lawrence mostrou as cartas e provou para as rivais que está disposto a desembolsar o que for para realmente ser competitivo quando o novo regulamento chegar em 2026.
Mas nem tudo são flores, e algumas atitudes mostram que a mentalidade parece não acompanhar o dinheiro que sai dos cofres. Mais uma temporada se passou e o time insistiu em Lance Stroll, que terminou o ano com 46 pontos a menos que Alonso e ainda foi responsável por proporcionar uma cena pífia no GP de São Paulo. Falta bastante coisa ao garoto, que em diversos momentos inclusive dá sinais de que não está nem um pouco motivado a estar ali.
É por essas e outras que olham para a Aston Martin com uma pulga atrás da orelha. E só depende dela para mudar o cenário e se colocar como verdadeira ameaça para as rivais da parte de cima da tabela. Está na hora da equipe decidir se ela realmente quer ser grande.
A Fórmula 1 agora entra oficialmente de férias e dá adeus a 2024. A próxima atividade é exatamente a sessão única de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, nos dias 14-16 de março.

