Vettel fala de filhas e ações pelo clima ao justificar saída da F1: “As metas mudaram”

Sebastian Vettel usou a recém-criada conta no Instagram para publicar um vídeo onde justifica a decisão de se aposentar da Fórmula 1

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A carreira de quatro títulos mundiais, 53 vitórias e quase 300 GPs de Sebastian Vettel na Fórmula 1 chega ao fim quando o atual campeonato acabar. O anúncio veio na manhã desta quinta-feira (28), por meio inicialmente de comunicado da Aston Martin e, depois, com vídeo divulgado pelo piloto na conta criada ainda ontem no Instagram. Foi na rede social que o alemão se justificou e disse que os interesses mudaram com o passar dos anos: apontou especificamente para o desejo de ver o crescimento das filhas e lutar de forma concreto contra as mudanças climáticas causadas pelo homem.

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O vídeo saiu ainda pela manhã, ao mesmo tempo em que o comunicado da equipe inglesa que defendeu nos últimos dois anos e com quem se tornou muito próximo. CEO e chefe da Aston Martin, respectivamente, Lawrence Stroll e Mike Krack deixaram claro: queriam que ele continuasse. Foi Vettel quem definiu que queria sair de cena.

O vídeo dito no Instagram conta com texto muito bem redigido. Exatamente o que se esperaria de um sujeito como Vettel. Nele, explica que os desejos da vida mudaram com o passar dos anos. Aos 35, quer ver passar mais tempo com a família e ver as crianças crescerem. Sebastian é casado desde 2019 com Hanna Prater, namorada de muitos anos, e junto com quem tem três filhas. Emilie, nascida em janeiro de 2014; Matida, de setembro de 2015; e um terceiro filho, nascido em novembro de 2019 e que nunca teve o nome revelado.

Para além da família, Vettel quer garantir um futuro para as crianças por meio da briga contra as mudanças climáticas e o aquecimento global. É com isso em mente que diz que “a melhor corrida ainda está por vir”. Sebastian indica que não sairá da vida pública.

Sebastian Vettel deixa F1 (Foto: Christian Walgram/ GEPA pictures/ Red Bull Content Pool)

“Por este meio, anuncio minha aposentadoria da Fórmula 1 ao fim da temporada de 2022. Provavelmente deveria começar com uma longa lista de pessoas para agradecer, mas sinto que é mais importante explicar os motivos que me levaram a tomar essa decisão. Eu amo o esporte e ele tem sido uma parte central da minha vida desde que consigo me lembrar. Mas, por mais que exista uma vida na pista, existe também uma fora dela. Ser um piloto de corrida nunca foi minha única identidade. Eu acredito muito em uma identidade construída por quem somos e como tratamos os outros, acima do que fazemos para viver”, disse.

“E quem sou eu? Sou Sebastian, pai de três crianças e marido de uma mulher maravilhosa. Sou curioso e facilmente fascinado por pessoas apaixonadas e habilidosas. Sou obcecado por perfeição. Sou tolerante e sinto que todos nós temos os mesmos direitos de viver – não importa como é nossa aparência, de onde viemos e quem amamos. Amo sair e amo a natureza e suas maravilhas. Sou teimoso e impaciente. Posso ser muito chato, também. Gosto de fazer as pessoas rirem. Gosto de chocolate e do cheiro de pão fresco. Minha cor favorita é azul. Acredito na mudança e no progresso – e que cada pequena ação faz a diferença. Sou otimista e acredito que as pessoas são boas. Além do automobilismo, tenho uma família e amo estar perto dela”, apontou.

“Adquiri, ao longo do tempo, outros interesses além da Fórmula 1. Minha paixão pelo esporte e pela F1 acarreta em muito tempo longe da família e tira muito da minha energia. Viver comprometido com a minha paixão – do jeito que fiz e que acredito ser certo – não é mais compatível com o meu desejo de ser um ótimo pai e marido. A energia necessária para se juntar ao carro e ao time, em busca da perfeição, demanda foco e comprometimento. Minhas metas mudaram: de vencer corridas e lutar por campeonatos, para ver meus filhos crescerem e passar meus valores a eles, ajudando-os quando eles caem, ouvindo-os quando precisam de mim, não ter que falar ‘tchau’, e mais importante, ser capaz de aprender com eles e deixar eles me inspirarem, explicou.

“As crianças são o nosso futuro. Além disso, sinto que há muito para explorar e aprender sobre a vida e sobre mim mesmo. Falando do futuro, sinto que vivemos em tempos muito decisivos e como todos nós moldamos esses próximos anos determinará nossas vidas. Minha paixão vem com certos aspectos que aprendi a não gostar – eles podem ser resolvidos no futuro, mas a vontade de aplicar essa mudança tem que crescer muito, ser muito mais forte, e tem que levar à ação hoje. Falar não é suficiente e não podemos esperar. Não há alternativa. Essa corrida já está em andamento. Minha melhor corrida? Ainda está por vir, garantiu.

“Eu acredito em seguir e olhar para frente. O tempo é uma rua de mão única, e eu quero ir com ele. Olhar para trás só vai atrasar você. Estou ansioso para correr em pistas desconhecidas e encontrar novos desafios. As marcas que deixei na pista ficarão até o tempo permitir e a chuva as lavará. Novas marcas serão colocadas. O amanhã pertence àqueles que moldam o hoje. A próxima curva está em boas mãos, pois a nova geração já está aqui. Acredito que ainda há uma corrida a vencer. Adeus, e obrigado por me deixar compartilhar a pista com você. Eu amei cada parte disso”, terminou.

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Vettel marcou aposentadoria para fim do ano (Foto: Aston Martin)

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A carreira de Vettel

Por mais que não tenha sido um dos principais pilotos do grid na ‘Era Drive to Survive’, que trouxe tantos novos fãs ao Mundial, a carreira de Vettel é uma das mais impressionantes de todos os tempos nos mais de 70 anos de F1.

Desde que entrou no grid e estreou no GP dos Estados Unidos de 2007, já na parte final da temporada, então com 20 anos, Vettel disputou 289 corridas e terá mais 11 pela frente. Assim, chegará aos 300 GPs. Neste período, venceu 53 corridas, foi a 122 pódios, anotou 57 poles e conquistou quatro títulos mundiais. Números de um peso-pesado histórico.

Sebastian está empatado com Alain Prost como tetracampeão mundial, atrás apenas de outros três pilotos com mais conquistas; é o mais jovem da história a fazer pole e vitória no mesmo fim de semana (21 anos e 73 dias, GP da Itália de 2008) e o mais jovem da história a fazer pole, vitória e volta mais rápida (21 anos e 353 dias, GP da Inglaterra de 2009). É, junto de Nigel Mansell em 1992, o piloto com mais vitórias partindo da pole num mesmo ano (nove, 2011). Vettel é o terceiro piloto com mais vitórias e voltas lideradas, o quarto com mais poles e o sétimo com mais corridas da história.

Apesar do começo na BMW, Vettel fez apenas oito corridas na temporada a primeira cedido pela Red Bull, mas as outras sete já na Toro Rosso. No ano seguinte, 2008, começou nos quadros do time B dos energéticos e brilhou. Mesmo com muitos abandonos no fim do ano, soube trabalhar para colocar a equipe nos trilhos e fazer uma segunda metade do ano mágica, com direito a vencer o GP da Itália, com pole e tudo.

A Red Bull era o destino óbvio, e assim foi para 2009. Foi quando tudo mudou para si e para a equipe dos energéticos, que deu salto imponente no grid e deixou as gigantes Ferrari e McLaren para trás. O título não veio por conta do fenômeno Brawn GP, mas a Red Bull estava bem posicionada. Vettel foi vice-campeão mundial e surgiu favorito para 2010.

Aí, sim, começou um dos momentos mais dominantes de qualquer piloto na história da F1. No ano em que completaria apenas 24 de idade, Vettel soube como brigar. Com cinco vitórias no ano, incluindo em três das quatro últimas corridas, bateu Fernando Alonso por pouco para conquistar o título mundial Vettel. Dominou em 2011 para ser bi e teve novamente de lidar com Alonso pelo tri, em 2012. Em 2013 não houve disputa: Vettel foi tetra e ainda fechou a temporada com nove vitórias seguidas – dez nas últimas 11, 11 em 13 e 15 vitórias ao todo.

Com a chegada da ‘Era Híbrida’, em 2014, a ordem de forças mudou e a ascensão da Mercedes foi meteórica, com o domínio de Lewis Hamilton e Nico Rosberg. Vettel parecia desanimado durante o ano e, em outubro, definiu que iria para a Ferrari no ano seguinte. Durante os seis anos que se seguiram, defendeu a cor vermelha.

Logo em 2015, quando a Ferrari passava por uma reconstrução após as saídas de Luca di Montezemolo, Stefano Domenicali e Alonso, Vettel venceu três vezes. A partir de 2017, as coisas mudaram. A Ferrari saltou e se colocou em condições de desafiar a Mercedes, com Vettel começando os campeonatos de 2017 e 2018 de maneira muito forte e liderando por vários momentos sobretudo na metade inicial daqueles anos. Os dois campeonatos têm lances importantes que demarcam a saída de Sebastian da briga: o acidente com Max Verstappen na largada do GP de Singapura de 2017 e a escapada da pista no GP da Alemanha de 2018. Hamilton levou a melhor nos dois casos.

Após o erro na Alemanha, que veio justamente depois de uma vitória na Inglaterra, onde Hamilton sempre reinou, Vettel não se recuperou. O fim daquela temporada foi ruim, enquanto Charles Leclerc chegou no ano seguinte e se tornou rapidamente o queridinho da equipe, que novamente mudara de chefe e presidente, com a saída de Maurizio Arrivabene e o afastamento e morte de Sergio Marchionne. Mesmo sem o sonhado título, Vettel venceu 14 corridas pela Ferrari o que coloca o alemão atrás somente de Michael Schumacher e Niki Lauda.

A saída foi anunciada para o fim de 2020, mas ainda antes do campeonato começar. A Aston Martin, que retornava à F1 como marca após de quase 60 anos, aproveitou e assinou com Vettel. No primeiro ano, o tetracampeão foi ao segundo lugar no GP do Azerbaijão e alcançou o mesmo resultado na Hungria, mas, nesta segunda, foi desclassificado por uma infração técnica relacionada à quantidade de combustível entregue na inspeção. Um problema da equipe. A expectativa era ter um time mais forte em 2022, mas não aconteceu. A Aston Martin regrediu e pensa em como sair das últimas posições neste ano e nos próximos. Algo difícil mesmo com os planos ousados, com direito a nova fábrica e túnel de vento, mais funcionários e a tradição da marca.

Uma carreira nada menos que gloriosa, de maneira inegável. Avesso às redes sociais, nos últimos anos, Vettel aumentou a maneira como tratava questões sociais, sempre nos circuitos, aproveitando a plataforma da F1. Neste período, defendeu questões climáticas e a defesa das abelhas, espécie que sofre ameaça global de extinção – algo que mudaria o ecossistema do planeta, já que são as responsáveis pela polinização -, pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ e antiguerra após a invasão da Rússia na Ucrânia, além do antirracismo. Agora, terá mais tempo para tratar de outros assuntos.

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