Retrospectiva 2023: ano da F2 comprova que experiência ainda é ingrediente indispensável

A expectativa com a safra da F3 2022 era alta, mas a disputa do título da Fórmula 2 acabou dominada pelos veteranos. Mesmo assim, deixa um cenário dos mais interessantes para Gabriel Bortoleto, Andrea Kimi Antonelli e companhia

Já diz o ditado que a expectativa é a mãe da decepção, mas talvez seja um exagero aplicá-lo à temporada 2023 da Fórmula 2, por mais que o produto final entregue não tenha correspondido à espera no mesmo nível. Com um grid renovado e cheio de jovens talentos que brilharam na Fórmula 3 no ano anterior, imaginou-se que ao menos mais pilotos chegariam à reta final com chances de título. A decisão, no entanto ficou praticamente entre dois, ainda que totalmente de acordo com o que se viu ao longo do campeonato.

2022, na verdade, criou expectativas de ambas as partes. Se de um lado, os novatos prometiam incomodar bastante a vida dos veteranos, a temporada passada da F2, dominada por Felipe Drugovich, ajudou a consolidar alguns nomes na lista de favoritos ao título. E em algumas formações de equipes, o confronto rookies × veteranos seria direto — ART, Prema e Carlin, por exemplo

Bom, bastou o campeonato de fato estrear para mostrar que a experiência ainda é um ingrediente indispensável, principalmente numa classe tão concorrida, com tantos jovens dispostos a darem tudo de si para ganharem a vez na empacada fila em direção à Fórmula 1. Ao longo das 13 rodadas, por mais que alguns novatos enchessem os olhos, foram os veteranos quem comandaram a festa.

É enganoso, porém, dizer que 2023 foi equilibrado. Ainda que a liderança tenha em algum momento passado pelas mãos de quatro pilotos diferentes (Ralph Boschung, Ayumu Iwasa, Frederik Vesti e Théo Pourchaire), a disputa foi ganhando corpo cada vez mais entre apenas dois pilotos dessa lista. E assim foi até a última corrida da última rodada, algo que não acontecia desde 2018, ano que coroou George Russell como campeão.

Théo Pourchaire vibra muito após conquista do título da F2 2023 (Foto: F2)

A temporada da F2 começou e terminou com o mesmo piloto no topo: Pourchaire. No degrau mais alto do pódio, todavia, o francês só subiu uma única vez em 26 corridas realizadas, e por isso talvez alguns achem o merecimento do título ao piloto da ART questionável. Só que também não há como tirar os méritos de quem conquistou outros nove pódios, seis em corridas principais.

2023, portanto, esteve longe de ser injusto para a classe, mas deixou um sentimento de que faltou algo — ou melhor, faltou alguém. Dois, para sermos ainda mais exatos: Jack Doohan e Enzo Fittipaldi.

O primeiro era uma das apostas do CEO da F2, Bruno Michael, na briga pelo título, ao lado de Iwasa. Só que o jovem australiano, filho do pentacampeão das 500cc (atual MotoGP), Mick Doohan, demorou a pegar a mão do carro da Virtuosi.

“Tenho lutado para ter confiança com o carro. Tivemos alguns problemas fundamentais até agora, o que foi um grande choque para todos nós, porque não estava sob o nosso controle. E tentando eliminar isso toda vez que entramos na pista — mesmo hoje [em Jedá], não tive nenhuma confiança, infelizmente, mas espero restabelecer isso a partir das mudanças que estamos fazendo”, disse o jovem na época da rodada da Arábia Saudita

Isso só veio a acontecer na reta final, quando Doohan não tinha mais chances de levar o caneco. Mesmo assim, foram três vitórias em corridas principais que o puxaram para terceiro na classificação final.

Fittipaldi também penou com a Carlin, equipe vice-campeã no ano anterior. Ao lado do novato Zane Maloney, viu as chances de título cada vez mais distantes rodada após rodada muito em função das classificações ruins, fosse pela falta de ritmo do carro ou mesmo por bandeiras vermelhas acionadas nos momentos errados.

“Tem sido um início de temporada difícil, mas estamos trabalhando muito para melhorar na classificação. Esse é o nosso objetivo para a próxima corrida, em Melbourne“, disse Enzo logo após a rodada em Jedá, segunda do ano. Na corrida 2 da Arábia Saudita, terminou em sétimo após largar em 14º, elogiando o carro da Carlin, mas foi o retrato do início do campeonato: corridas de recuperação.

Fittipaldi disputou a Fórmula 2 2023 com a Carlin (Foto: Dutch Photo Agency)

Mesmo sem Doohan e Fittipaldi, a experiência pesou a favor de Pourchaire, Vesti e Iwasa, os que chegaram à última etapa do ano com chances matemáticas de título. O japonês da DAMS acabou ficando pelo meio do caminho ainda na classificação, pois teria de fazer a todo custo a pole-position para se manter vivo na briga. No fim, o bom duelo em pista entre Théo e Frederik fez valer o ingresso. E foi o vice-campeão de 2022 quem riu por último.

O melhor novato da lista acabou sendo Victor Martins, detentor do título da F3 na última temporada. Jovem arrojado, que impressiona pela velocidade, mas pecou significativamente em lances bobos. Terminou em quinto, à frente de Oliver Bearman, outro diamante a ser lapidado na classe. Bearman tornou-se o único piloto a liderar todas as atividades de um mesmo final de semana, no Azerbaijão, marcando 38 dos 39 pontos possíveis. Impossível não colocá-lo na lista de favoritos para 2024.

Mais uma vez, o grid da F2 trará nomes que muito prometem, como Gabriel Bortoleto e Andrea Kimi Antonelli, respectivamente os campões de 2023 de F3 e FRECA. Mas diante do que se viu este ano, o melhor é permitir ser surpreendido, seja por quem for.

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