Guia Fórmula E 2024: Porsche junta cacos após desmonte e precisa ao menos mostrar força

Após ser atropelada na reta final da temporada 2023 da Fórmula E, Porsche não tem outra solução diferente de catar os cacos e mostrar brio

Há certas coisas na vida que não podem ser varridas para baixo do tapete como se ninguém mais pudesse desfrutar da memória. A Porsche vive um desses momentos a partir da chegada para a temporada 2024 da Fórmula E. O desmanche que apresentou em 2023, quando pintava como virtual campeã com metade do campeonato e acabou no quarto lugar, ficou com resposta pendente. Cabe à equipe da fábrica alemã responder.

Se o leitor já passou os olhos no outro texto do GUIA DA FÓRMULA E 2024 publicado hoje, sobre o favoritismo da Jaguar, deparou-se com descrição dos números do começo de 2023. Após cinco corridas das 16 do calendário do ano passado, a Porsche já marcara 126 pontos, enquanto a Envision, cliente da Jaguar, aparecia com 84 e a própria Jaguar, 38. Somadas as duas, ainda ficavam atrás dos alemães.

Até ali, Pascal Wehrlein vencera duas corridas e fora a outro pódio, além de um quarto lugar; António Félix da Costa vencera outra vez. Mais que isso, quem pintava como rival era a Andretti, equipe cliente que, na lógica atual do Gen3 da Fórmula E, funciona basicamente como uma equipe que opera dois outros carros da Porsche. Só que as clientes têm muito menos possibilidade de testes de pista e desenvolvimento do projeto ao longo do ano em comparação aos times oficiais.

Daquele momento em diante, as coisas mudaram amplamente. Ao fim das 11 corridas restantes entre São Paulo e Londres, a Envision fez o bastante para terminar campeã com 304 pontos contra 292 da Jaguar, vice. A Porsche, com 242, ficou atrás até da própria cliente. Repare bem nos números: a Porsche marcou 126 pontos nas primeiras cinco corridas e 112 nas 11 últimas.

Pascal Wehrlein nos braços do povo na Indonésia após a última vitória de 2023 (Foto: Porsche)

Entre os Pilotos, Wehrlein liderava para a Porsche e tinha 80 pontos após as quatro primeiras provas. Número impressionante, que dava a ele ares de dono das rédeas da temporada mesmo tão no início. Nas 12 corridas restantes, marcou 69 tentos. Da Costa, que fazia o primeiro ano defendendo a marca alemã, sempre esteve abaixo, mas também caiu de rendimento: foi de 46 pontos nas primeiras cinco provas a 47 nas 11 derradeiras.

Terminou o ano sem os títulos, obviamente, mas não apenas isso: viu a Jaguar passar de passagem como dona do melhor trem de força da categoria. Envision e Jaguar, ambas empurradas pelos motores felinos, terminaram por sobrar entre as Equipes, enquanto a Andretti levou o título de Pilotos, com Jake Dennis, e soube tocar a situação de maneira que a Porsche jamais aprendeu. Não dá para negar o desmonte. Foi feio.

O regulamento dos motores e todo o rem de força está congelado. Ou seja, não haverá mudança significativa nesta seara em 2024 na comparação a 2023: o ano vai começar igual ao anterior terminou. É por isso que a Porsche tem de entender de maneira fina o que foi que deu errado e ajustar dentro das possibilidades do carro para competir com competência.

É impossível, já que não haverá grande mudança? Evidente que não. Isso porque a Andretti, com o mesmo pacote, conseguiu encontrar soluções que a Porsche foi simplesmente incapaz em 2023. O rendimento na classificação, principalmente, onde o time de fábrica teve atuações sofríveis. E até na recuperação de energia, onde foi perdendo fôlego no fim até sentir outras rivais incomodando comumente, como foi o caso da Maserati.

“Em primeiro lugar, precisamos melhorar nossa performance de classificação. Isso foi realmente decisivo”, afirmou Wehrlein ainda no fim do campeonato passado. É fato notório.

E pedir mais dos pilotos. Wehrlein, por melhor que tenha sido no começo do campeonato, deixou claro que estava totalmente incomodado no caminho final, mesmo enquanto ainda tinha chances de caneco.

“Enquanto equipe, aprendemos muito. A Porsche chegou na Fórmula E na sexta temporada e, conforme as regras da categoria, os carros sempre são homologados por dois anos. Então, creio que passamos tempo coletando experiência nas temporadas seis, sete e oito”, apontou.

“A temporada passada foi a primeira em que, com muita experiência, juntamos o que era necessário e começamos o campeonato muito fortes. Isso foi positivo, porque na parte eletrônica o nosso trabalho foi ótimo”, recordou.

António Félix da Costa vai para o segundo ano de Porsche (Foto: Fórmula E)

“Nosso carro é muito eficiente. Lideramos o campeonato na maioria do ano. Temos áreas a melhorar, especialmente na classificação, que estranhamente tinha sido nosso ponto forte nos anos anteriores. É diferente das temporadas prévias, mas nosso foco está em melhorar a classificação. Sabemos que somos fortes nas corridas e temos apenas de tornar nossas vidas mais fáceis para subir mais ao pódio”, comentou.

“António e eu somos capazes de fazer boas classificações, isso não é segredo. Acho que eu fui o melhor classificador duas vezes em quatro temporadas, e António é muito bom também. Mas podemos melhorar dentro desta nova geração de carros”, finalizou.

Claro, a Porsche espera que António Félix da Costa aproveite no segundo ano pelo time e seja aquele piloto dono de oito vitórias, 19 pódios e um título da Fórmula E.

“Ano passado foi uma curva de aprendizado para todo mundo. Quando chega um carro totalmente novo, com novos pneus para todos, dá muito trabalho para todo mundo. Além disso, eu estava chegando a uma equipe nova para entender e conhecer a ética de trabalho e como fazer as coisas. Foi quase que o dobro do trabalho de alguns dos outros pilotos, e pagamos um preço por isso”, afirmou ao site FormulaNerds em outubro.

O português, porém, garantiu que pretende ficar na Porsche por bastante tempo. “Odeio mudar e normalmente não mudo de equipe. Gosto de criar raízes onde estou. E as coisas estão acontecendo assim, é incrível. A equipe me recebeu bem ano passado e, quando você supera alguns momentos ruins e consegue vitórias e coisas assim, cria laços muito fortes”, continuou.

Com uma das duplas mais fortes do grid e motor campeão, a Porsche não tem o direito de desmanchar novamente.

A temporada 2023/24 da Fórmula E está marcada para começar no dia 13 de janeiro, com o eP da Cidade do México, no Autódromo Hermanos Rodríguez. No ano que vem, a categoria ainda passa por DiriyahHyderabadSão PauloTóquioMisanoMônacoBerlimXangaiPortland e Londres.

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