Guia Fórmula E 2025: Wehrlein carrega peso da expectativa em fase inédita na carreira

Uma porta repleta de novos desafios se abre à frente de Pascal Wehrlein mais uma vez para a temporada 2024/25 da Fórmula E. O atual campeão mundial possui as ferramentas certas, tanto no quesito material quanto mental, e a força apropriada para se reinventar e suportar o peso da expectativa jogado sobre si

Embora seja um dos pilotos mais experientes do atual grid da Fórmula E, já que compete na categoria desde 2018, Pascal Wehrlein está prestes a viver um momento completamente novo na carreira. Agora, com o peso da responsabilidade de ser o atual campeão mundial recaindo sobre os ombros pela primeira vez, o alemão precisa mostrar que também sabe lidar muito bem com o outro lado da pressão: o de ser a caça, não mais o caçador. Depois de desbravar caminhos tortuosos e colher bons frutos do árduo trabalho nos últimos anos, a temporada 2024/25 se apresenta como um mais um teste, mas daqueles que só os grandes vencedores possuem a oportunidade de enfrentar.

De qualquer maneira, os desafios sempre foram os principais acordes na trilha sonora dos altos e baixos que marcam a história do #94 da Porsche. Após os ótimos resultados alcançados no kart, que lhe deram o rótulo de uma das maiores promessas de sua geração, Wehrlein precisou navegar por mares tempestuosos até finalmente repousar em um cais seguro. Na posição de reserva da Mercedes na Fórmula 1, tornou-se campeão do DTM em 2015. Em 2016, na classe rainha, foi jogado na nanica Manor e parecia em boas condições para herdar um espaço da Force India – atual Aston Martin – no ano seguinte. Mas a chegada de Esteban Ocon, outro pupilo da Mercedes, mexeu nas estruturas e nos planos, a Pascal acabou deixado de lado. Fez mais uma temporada pela Sauber, e até teve momentos de destaque, mas foi o fim do sonho da F1.

A porta que se abriu na Fórmula E parecia mais uma saída de emergência, um lugar confortável para uma eterna promessa que ficaria, talvez, esquecida em algum canto nos anos seguintes. No entanto, as duas temporadas com a Mahindra, em 2018/19 e 2019/20, e as quatro concluídas com a Porsche até aqui mostraram muito bem que o nome de Wehrlein poderia vir impresso em todos os dicionários ocupando o espaço reservado para a definição da palavra ‘perseverança’.

O início de campeonato avassalador em 2023, quando ficou em segundo no México e venceu a rodada dupla na Arábia Saudita, parecia pavimentar o caminho para o primeiro título já naquele ano. Mas uma sequência abaixo do esperado, incluindo o abandono na África do Sul, mostrou que a estrada a ser percorrida era, de fato, muito maior do que os primeiros resultados mostravam. Pascal terminou o certame de maneira amarga, com o quarto lugar no campeonato, ficando atrás do campeão Jake Dennis, da Andretti, e da dupla da Jaguar, Nick Cassidy e Mitch Evans, respectivamente.

A preparação para a temporada 2024/25 começou muito antes para Pascal Wehrlein (Foto: Fórmula E/LAT/Simon Galloway)

Curiosamente, o cenário em 2024 foi o inverso. Apesar de ter subido no degrau mais alto do pódio logo na primeira etapa, no Autódromo Hermanos Rodríguez, o alemão só voltou ao top-3 na sétima corrida do ano, em Misano, quando venceu a segunda prova do fim de semana no circuito italiano. Dali em diante, os maiores destaques foram o segundo lugar no eP de Xangai 1 e a rodada final em Londres, onde foi perfeito em todos os detalhes para superar os rivais e entrar na lista de campeões da categoria elétrica.

O que aconteceu na ExCel Arena, diga-se de passagem, é digno de um destaque próprio neste texto. Até porque, por mais incríveis que sejam, o primeiro e o segundo lugares fisgados por lá não contam a história completa. Claro, as posições finais são o que trazem os pontos necessários para escalar a tabela e alcançar o objetivo — mas o enredo da conquista mostrou um lado da personalidade de Wehrlein que parecia estar guardado em algum lugar dentro de si e lacrado com a etiqueta ‘quebre apenas em caso de emergência’. Bem, deu certo. Mas essa figura secundária precisará dar o ar da graça mais vezes na próxima temporada.

A pressão, que serviu de combustível na capital inglesa, terá uma nova roupagem a partir do eP de São Paulo, no dia 7 de dezembro. De uma forma ou de outra, seria dramático demais dizer que os desafios dobram de tamanho a partir de agora ou que a balança começa a pesar desfavoravelmente. De igual modo, seria injusto afirmar que Pascal pode não ser capaz de assumir o papel de protagonista da vez. É claro que pode, já provou isso.

Depois de pontuar em 14 das 16 corridas e vencer mais vezes do que os principais concorrentes na corrida pelo prêmio individual — apenas o companheiro de equipe António Félix da Costa triunfou mais (4) —, ficou claro que a consistência foi a principal arma do alemão ao longo de 2024. Mas engana-se quem pensa que isso foi uma novidade. Em 2023, o #94 já havia pontuado em 15 oportunidades em um calendário de 16 etapas — e venceu o mesmo número de vezes. Se já é difícil apresentar tal regularidade uma vez, imagine duas.

Pascal Wehrlein é o atual campeão mundial da Fórmula E (Foto: Fórmula E)

Com velocidade e sabedoria advindas de uma carreira mais experiente, é totalmente plausível que Wehrlein emplaque uma terceira temporada tão regular quanto as anteriores. O alemão aprendeu a jogar com as regras e entende que somar poucos pontos em um fim de semana ruim vale muito mais do que arriscar demais e colocar tudo a perder. Na verdade, descobriu como controlar o instinto natural de qualquer piloto.

Porém, se há uma observação a ser feita, levando em consideração a própria capacidade do atual campeão, é a de que finais de semana de rodada dupla como o de Londres precisam acontecer com mais frequência. Fácil? Não mesmo. Pascal foi apenas oitavo e sétimo em Diriyah, zerou os ePs de Misano 1 e Xangai 2, minimizou os danos em Berlim e deixou Portland com somente 13 pontos na bagagem — enquanto que, em solo britânico, no apagar das luzes, viveu dois dias próximos da perfeição e somou impressionantes 43 tentos.

Ainda que Porsche chegue à era Gen3 Evo como postulante ao título do Mundial de Equipes mais uma vez, a Jaguar, detentora de tal honraria, vai contar novamente com Cassidy e Evans — ambos sedentos por começar do zero e fugir dos erros cometidos no passado. Além disso, Da Costa pode ser uma pedra no sapato de Wehrlein das mais incômodas, ao mesmo tempo em que Oliver Rowland, da Nissan, Jean-Éric Vergne, da DS Penske, e Dennis, destronado por Pascal, são nomes que demandam atenção.

De qualquer forma, o campeão reinante tem as ferramentas necessárias para continuar desempenhando bem, assim como a mentalidade certa para evitar que o peso de qualquer pressão esperada — e até, talvez, inesperada — sirva como âncora para suas expectativas e o tire do caminho do bicampeonato. O desafio é grande, mas a capacidade de Wehrlein de se reinventar é ainda maior.

Fórmula E começa a se preparar oficialmente para a estreia da temporada, já nesta semana, no dia 7 de dezembro, em São Paulo. O GRANDE PRÊMIO fará a cobertura completa do evento, com presença IN LOCO, e do campeonato na íntegra.

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