Outra corrida, outro hino: em meio aos defeitos, FE apresenta temporada que é aberração de tão parelha

Quando é que na história de uma categoria de alto nível você viu um campeonato começar com seis vencedores diferentes de seis equipes diferentes nas primeiras seis corridas? A temporada 2018/19 da FE pode ter seus defeitos, mas é inegável que o acirramento que demonstra é totalmente fora da curva

Corrida: E-Prix de Sanya 
Pista: Circuito Haitang Bay 
Extensão: 2,2 km, 11 curvas
Pilotos inscritos: 22 
Pneus: Michelin Pilot Sport all-weather
Vencedor: Jean-Éric Vergne
Pódio: Oliver Rowland e António Félix da Costa
Brasileiros: Felipe Massa em 10º, Lucas Di Grassi em 15º 

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Caso você tenha lido o relato do GRANDE PRÊMIO para o eP de Sanya – e, se não leu, aqui está a oportunidade – já sabe como o texto começou: Seis corridas, seis pilotos, seis equipes. Cada uma das etapas da temporada até agora contou com um vencedor diferente, todos de equipes diferentes e, embora o menos importante para fim prático mas ainda bastante curioso, todos de nacionalidades diferentes. A Fórmula E tem encarado muitas críticas desde o começo da temporada, mas 2018/19 apresenta o ano mais competitivo de sua história e um dos campeonatos mais imprevisíveis de que se tem notícia no esporte a motor de mais alto nível.

 
A afirmação de que se trata do campeonato mais parelho da história tem que ter alguma base onde se segurar, porque na primeira temporada da FE também foram seis vencedores diferentes nas primeiras seis etapas. A Renault e.dams, entretanto, já havia vencido com sua dupla de pilotos e tinha um carro que podia ser apontado como favorito em todas as pistas, ainda que tivesse outras equipes para competir. Após seis corridas, os favoritos eram claros: as duas Renault e.dams, Lucas Di Grassi pela Audi ABT e Nelsinho Piquet com a China. Sam Bird, na Virgin, começava a se distanciar.  
A vitória de Vergne em Sanya (Foto: DS Techeetah)

Na primeira temporada, 23 pontos separavam líder e quinto colocado após seis etapas; na quinta, a atual, 21 pontos separam líder e décimo colocado. Se aquela foi durante um bom tempo o objetivo a ser tratado em termos de competição acirrada, agora fica evidente que temos um novo marco zero.

Há quem ache que a FE tem pistas ruins, que desrespeita os fãs com a cultura da muita festa que  não obstante coloca o esporte em segundo plano, os pilotos não acham que são ouvidos e, como o vencedor desse eP de Sanya afirmou na semana passada, o formato está favorecendo corridas sujas porque sobra energia e falta exigência de gerenciamento. Todas essas críticas são justas em algum nível. Como categoria ainda jovem, a FE precisa ainda ajustar seu caminho. O que não pode ser dito sob qualquer espécie é que se trata de um campeonato monótono e sem graça. 

 
Seis corridas, seis vitoriosos e seis equipes. Hinos de Portugal, Bélgica, Inglaterra, Brasil, Suíça e França pintaram até agora – e é bom que preparem mais músicas para o pódio-matinê não ser pego de surpresa.
Seis vencedores, de seis equipes em seis corridas (Arte: FE)

Vitorioso de forma contundente após Nissan e BMW apontarem como favoritas para a corrida, Vergne elogiou a reação da DS Techeetah após uma sequência de provas que não favoreceu aos chineses. 

 
"É nossa primeira vitória como essa nova equipe, DS Techeetah. Fico feliz por trazer essa vitória para a DS. Sempre é difícil quando você está começando algo. Depois de 20 corridas na zona de pontos, passar três sem pontuar é muito difícil. Falando por mim, não consegui dormir muito bem de Hong Kong para cá, mas seguir como uma equipe unida e trabalhar com o objetivo de ir em frente é algo que foi recompensado hoje. Não poderia estar mais feliz com o trabalho que fizemos", disse.
 
"Ele [Rowland] é um cara difícil de ultrapassar. Estava mudando um pouco de trajetória, algumas vezes muito, mas corridas são assim e você joga de acordo com as regras. Eu vi que só havia uma curva para atacar. Tentei em muitas outras curvas, mas em todas as voltas eu tinha que tirar o pé muito cedo, então não conseguia ficar tão próximo. Teve uma hora até que o António [Félix da Costa] tentou me passar. Quando chegou a hora [de passar o Rowland], eu só fui, e acho até que o peguei de surpresa, porque ele estava vendo que eu sempre estava tirando o pé muito cedo", seguiu.
Jean-Éric Vergne (Foto: DS Techeetah)

Segundo colocado, Oliver Rowland lamentou que a vitória tenha escapado após largar na pole e liderar mais de meia corrida, mas vibrou por não ter ficado no 'quase' do pódio como nas últimas etapas e conseguir, enfim, aparecer entre os três ponteiros.

 
"Fico feliz por um lado, mas desapontado por outro, porque tive uma oportunidade. O JEV [Vergne] fez um bom trabalho, ele me surpreendeu e eu sabia que ele ia me surpreender em algum momento. Eu estava com dificuldades e precisava tirar o pé muito cedo [nas curvas]. Estou muito feliz com o pódio, que já estava para vir há algum tempo. Perdi um no México, estava liderando em Hong Kong, então foram três corridas difíceis com três abandonos. É bom somar pontos e, no fim, a corrida virou questão de consolidar minha posição e não arriscar muito", afirmou.
 
"Quando você começa a ficar para trás em uma corrida de FE, cada piloto começa a achar que você está mais lento, então usam mais energia para te ultrapassar. Eu sabia que não podia perder muitas posições. Eu acho que estive no limite. Dentro das regras, mas no limite. Você precisa ser agressivo pelo campeonato. Você precisa pontuar com frequência e precisava estar no pódio, então assumi esses riscos", falou.
António Félix da Costa (Foto: BMW)
Novo líder do campeonato, António Félix da Costa foi ao pódio pela terceira vez no ano. O português nem saiu tão feliz assim, uma vez que sentiu que podia tirar mais do carro que o terceiro posto, mas justificou a prudência com a situação na classificação geral. 
 
"É óbvio que eu fico feliz com os pontos, mas queria um pouco mais hoje. Depois de seguir esses dois caras [Vergne e Rowland], eu senti que tinha o carro para vencer, mas é difícil ultrapassar aqui e você precisa assumir riscos, principalmente para alguém como o Oliver [Rowland]. Eu sei o que estava passando pela cabeça dele. Eu corri riscos em alguns momentos, ele se defendia tarde e teve o risco de dar errado. Por sorte, tudo se acertou. Eu estava lá, ficando frustrado. Eu não conseguia passar, então tinha que garantir que não iria começar a andar para trás. Enfim, é assim que as coisas são. Acho que ainda estamos na metade do campeonato e precisamos nos assegurar de que vamos estar lá [lutando pelo título] em julho" definiu.
 
"Eu não vou para as corridas pensando 'campeonato, campeonato, campeonato', mas hoje nós deixamos a pole escapar por um erro bobo. Dava para ter levado essa. É por isso que eu estou meio assim. Largando da pole, meu dia seria um pouco mais fácil. Não venho pensando apenas no campeonato, mas ao mesmo tempo você precisa. Se eu tivesse tentado mais hoje, provavelmente não teria pontuado e estaria acabado. Você precisa equilibrar as coisas e veremos se vai funcionar. Não luto por títulos há muito tempo. Acho que ainda sei como se faz, mas veremos", encerrou.
A pancada de Frijns em Di Grassi (Foto: Reprodução/Twitter)
Na sexta colocação até a última volta, Lucas Di Grassi teve algumas dificuldades com o modo ataque no começo mas fechava uma prova sólida. Marcaria mais oito pontos, porém acabou com zero. Um toque de Sébastien Buemi fez Robin Frijns não contornar o cotovelo e pegar no meio do Audi de Lucas. 
 
"Corrida difícil hoje. Na verdade estava muito boa até a última volta – eu estava logo atrás de Daniel no sexto lugar, seria excelente para a equipe e estaríamos na liderança do campeonato. Mas tomei uma pancada do Robin Frijns e perdi, bem tudo. Assim são as corridas… Vamos lutar de volta. Nos vemos em Roma", comentou. 

Felipe Massa terminou na beira da zona de classificação, em 11º, mas Sanya definitivamente não foi uma pista que se encaixou com a Venturi. Edoardo Mortara, que vinha dois pódios e uma vitória, afinal, também terminou apenas com o décimo posto. 
 
A outra dupla de brasileiros mais uma vez ficou para trás. É difícil julgar Felipe Nasr numa Dragon que parece andar para trás quando já nem era tão forte para começo de conversa. Depois de um acidente na primeira volta em Hong Kong, nem conseguiu largar em Sanya. Nelsinho Piquet voltou a classificar muito mal, um problema crônico da Jaguar – Mitch Evans também saiu em 20º. Até fazia uma boa corrida e se aproximava da zona de pontos, mas bateu sozinho e quebrou o carro. Abandonou pela terceira prova seguida, enquanto Evans continua somando pontos – é um dos dois pilotos, junto a Daniel Abt, a pontuar em todas as etapas. 
 
No campeonato mais acirrado de sua história e talvez em toda a história, a FE retorna em três semanas, direto de Roma. 

 

 
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