Indy perde tempo e passa vergonha com “pré-temporada do milhão” na Califórnia

O Desafio do US$ 1 Milhão não tinha cara de ser bom. E realmente não foi. Indy perdeu tempo com um enorme churrasco de pré-temporada e deixa o campeonato, que tinha bastante potencial, bastante frio

Horrível, constrangedor, desnecessário. Faltam palavras para descrever o Desafio do US$ 1 Milhão da Indy, realizado no Thermal Club, neste domingo (24). Se a intenção da categoria era de um “evento para TV”, o que foi visto passou longe do entretenimento. Basicamente, uma pré-temporada de luxo, com um pouco de motivação de competição. É como se os sócios do clube californiano contratassem a Indy para participar de um churrasco e uma festa infantil. Quem são os palhaços na história? Os fãs.

Um dos principais problemas da Indy é a questão do calendário. Para evitar competições com a NFL, o campeonato religiosamente acaba em setembro — ultimamente, na mesma semana de início do futebol americano. Ou seja, com audiências baixas. Com o início sempre em março, acontece um tremendo intervalo de 6 meses entre uma temporada e outra. Evidentemente, tudo fica muito mais frio.

As críticas cresceram, especialmente na gestão de Roger Penske, por conta da falta de inovação nos calendários. Com a exceção da corrida de rua de Nashville (que inclusive não acontece em 2024), pouco mudou nos últimos anos. E pior: praças repetidas no mesmo calendário. Qual era a necessidade, por exemplo, de duas corridas no misto de Indianápolis? A Indy precisava mudar, mas sofreu duros golpes e fez uma aposta muito ruim.

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Alexander Rossi (Foto: Indycar)

Em 2023, a prova que esteve no intervalo entre os GPs de St. Pete e Long Beach foi o oval do Texas. Mesmo de contrato renovado, a corrida ficou de fora pela primeira vez do campeonato desde a criação da Indy Racing League por dificuldades de encaixe. Não poderiam colocar neste fim de semana para não competir com a Nascar, que visita o Circuito das Américas. Em abril, a própria categoria de turismo estará em Fort Worth. A Indy poderia trabalhar com outras soluções, mas em meio à dificuldades e falta de criatividade, escolheu o péssimo Desafio do US$ 1 Milhão.

Nada contra o Thermal Club, que por sinal é um lugar bastante bonito e com uma pista interessante para testes privados e eventos de pré-temporada, mas era realmente a melhor opção da Indy para não ter uma lacuna de seis semanas no calendário? Com uma corrida que sequer vale pontos para o campeonato em um local onde o fã médio nem tem condições de adquirir ingressos?

Existem, é claro, problemas de temperatura, de logística e outros fatores para preencher este espaço, como o fato da Nascar ser dona da maioria dos ovais nos Estados Unidos, mas é neste momento que confiamos na expertise de Penske para ter ideias fora da cartola e aparecer com soluções. Mais uma vez, ele decepcionou.

A disputa em si foi um horror. A primeira bateria teve um acidente logo na largada, tirando Romain Grosjean e Rinus VeeKay da disputa. Scott Dixon acabou também ficando de fora após receber um drive-through, já que foi julgado como o culpado pelo incidente, mas ao longo daqueles 20 minutos, vimos como seria a tônica do evento. Os cinco primeiros colocados pouco se importaram em andar a mais no período. A briga mesmo foi entre Colton Herta contra Nolan Siegel, Will Power e Kyle Kirkwood pela última vaga.

Colton Herta se arrastou na pista (Foto: Indycar)

Na segunda bateria, o fator McLaren esteve disponível para deixar as coisas mais animadas. Depois do erro estratégico durante a classificação, Pato O’Ward, Alexander Rossi e Callum Ilott precisaram ralar para tentar se colocar no evento principal. Só deu para Rossi, que foi o único a conseguir se meter no top-6 após 10 voltas em um circuito de difícil ultrapassagem. Na frente, muita tranquilidade para Álex Palou e companhia, que garantiram seus respectivos lugares na final com facilidade.

E aí, veio o confuso evento principal. 20 voltas e com uma pausa de 10 minutos para reabastecimento no meio. O que foi visto na primeira metade da corrida foi uma das maiores vergonhas dos últimos tempos na Indy. Enquanto Álex Palou disparou na frente, o resto do pelotão deu apenas duas voltas competitivas buscando posição de pista. Logo, partiram para a economia de equipamento visando o que aconteceria após a bandeira vermelha. Colton Herta comandou o plano desde a largada e foi praticamente se arrastando. O resto dos pilotos adotou o mesmo.

Pietro Fittipaldi foi quem se deu mal no meio de tudo isso, já que a RLL colocou combustível insuficiente até para as primeiras 10 voltas, também visando a economia. No fim, o brasileiro acabou desclassificado durante a pausa e sequer teve a chance de colocar o plano em jogo. A bandeira verde foi feita em fila indiana, sem o tradicional alinhamento lado a lado. Muito tranquilo para Palou sair com a vitória. Herta, com pneus mais novos que todos, se recuperou até o quarto lugar. Talvez o grande piloto da corrida tenha sido Alexander Rossi, que foi agressivo praticamente o tempo todo.

Não há problema algum se a corrida não é tão animada (o sucesso da Fórmula 1 está aí de exemplo), não há problema em Álex Palou dominar tudo de cabo a rabo. Nem tudo que se planeja vai dar certo, o espanhol é um grande piloto e já provou isso pelo jeito com que levantou o título em 2023. Porém, muitos problemas em gastar um fim de semana inteiro com horas infinitas de teste e apenas 10 voltas realmente competitivas pensando que isso é algum tipo de entretenimento. Não é, e restringe mais a categoria do que necessariamente atrai fãs como se desejava.

Agora, são mais quatro semanas até a próxima corrida da Indy, que acontece em Long Beach. Ao total, é um intervalo de 1 mês e meio entre provas que realmente valem alguma coisa. O campeonato, que só esquenta de verdade em maio, vai chegar nas 500 Milhas de Indianápolis mais frio do que nunca. Não há carro novo, o motor novo atrasou uma barbaridade (e vai ser introduzido no meio da temporada) e as soluções de calendário são horríveis. Roger Penske parece não entender que o brinquedo que tem nas mãos está cada vez maior e pode não comportar seus planos pouco ousados.

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