Power supera drama e dá volta por cima na Indy, mas Penske cria ‘sombra’ para futuro
Will Power teve mais pontos positivos na Indy do que negativos, mas Penske já projeta o futuro e David Malukas surge como candidato à vaga para 2026
Aos 43 anos, Will Power foi o piloto que manteve as esperanças de título até o final para a Penske na Indy em 2024. Porém, uma falha no cinto de segurança no GP de Nashville, decisão da categoria, fez as chances de se tornar tricampeão acabarem ainda no início da prova — o caminho ficou livre para Álex Palou conquistar o terceiro campeonato. No entanto, é o representante da equipe que está com o contrato mais próximo do fim — termina ao final da temporada de 2025 — e paira sobre o time de Roger Penske o questionamento: Power fica ou não?
Dentro da pista, Power teve um bom ano, mesmo terminando na quarta posição no campeonato. Ao lado de Pato O’Ward e Scott McLaughlin, companheiro na Penske, foi quem mais venceu na Indy em 2024, com três vitórias. O destaque fica para o triunfo no GP de Portland, no qual controlou Palou por 110 voltas — e ainda terminou com vantagem de quase 10s em um traçado em que o espanhol venceu em 2021 e 2023.
Fica como destaque negativo o fato de ter rodado sozinho no GP de Milwaukee 2, quando Palou teve problemas elétricos e só pôde largar depois de 27 voltas. Power também bateu sozinho nas 500 Milhas de Indianápolis, onde a Penske tinha um acerto muito competitivo — McLaughlin foi o pole mais rápido da história e Josef Newgarden foi bicampeão da corrida — e ter tocado no companheiro neozelandês em Toronto, que lhe rendeu uma punição de drive through, o que lançou ao espaço o bom resultado que ambos vinham conquistando.
No frigir dos ovos, Power teve um ano muito mais positivo do que negativo quando o assunto é resultado. Uma temporada de recuperação ao “velho Will”, após um dramático 2023, quando conviveu com problemas de saúde da sua esposa, Liz. O próprio piloto chegou a admitir que cogitou a aposentadoria, e, por razões óbvias, não desempenhou tudo o que poderia entregar.
A janela para troca na Penske não é ideal quando se fala em desempenho. Talvez, 2021 fosse o momento mais adequado, quando vencia o contrato de Power. Mesmo após temporada irregular, a equipe liderada por Tim Cindric deu um voto de confiança e renovou com o australiano por mais um ano. Na época, não havia um substituto engatilhado e veio o título de 2022, com Will sendo muito cerebral para a conquista, o que fez ser praticamente obrigatória a extensão do acordo, vigente até 2025.
No entanto, Power nos fez lembrar o “velho Will” também fora da pista, aquele que fica pistola sem se importar com as câmeras. Isso não agradou a Penske — mesmo já conhecendo o bicampeão com muita propriedade. Em duas ocasiões, não seguiu protocolos da equipe e explodiu, gerando situações que não agradaram a alta cúpula. A primeira — e mais séria de todas — foi quando não acompanhou o discurso da Penske após o escândalo do push-to-pass em São Petersburgo.
No episódio em que burlou o sistema de potência extra da Indy, a Penske aceitou a punição de desclassificação de Newgarden e McLaughlin, que apertaram o botão antes do permitido, enquanto Power teve 10 pontos subtraídos na tabela por não ter acionado o sistema. A equipe disse que foi uma “falha humana”, por ter esquecido de alterar a configuração do software após um teste; McLaughlin justificou que é um hábito apertar o botão antes da linha de largada/chegada, esperando pelo acionamento imediato após a passagem pelos sensores; Newgarden, dias após, deu uma coletiva, justificando que não sabia ter feito nada errado.
Power se manifestou entre as declarações de McLaughlin e Newgarden, mas não seguiu o protocolo da Penske. Abriu o comunicado aceitando a punição, assim como todas as partes fizeram, mas disse que não deveria ser sancionado, pois “sabia as regras”. Por fim, ainda mencionou que este era um problema da equipe, não dele. E, aqui, vale o adendo de que se tratava de uma nota divulgada no meio da semana, que foi calculada para ser redigida, sem influencia do calor e adrenalina das corridas.
O segundo episódio foi quando ‘pistolou’ com Newgarden no GP de Gateway. Ali, Power descontou a fúria do abandono em quem viu pela frente. Em polêmica relargada, Josef, então líder, foi acusado de ter variado o ritmo, o que não é permitido por regulamento. Na época, Colton Herta, Álex Palou, Alexander Rossi, Bryan Herta e o próprio Will acusaram o #2 desse movimento. Com isso, um efeito-sanfona foi gerado, com Rossi acertando a traseira de Power, causando o abandono dos dois.
A confusão foi tamanha que a direção de prova acionou a bandeira vermelha. Power viu o carro de Newgarden passar e apontou o dedo médio ao companheiro de equipe. Além de vociferar contra o bicampeão das 500 Milhas de Indianápolis à reportagem da transmissão, também gritou, de fato, a David Malukas — ambos haviam se tocado voltas antes, que causou o abandono do piloto da Meyer Shank.
Dias depois, Power pediu desculpas pelos incidentes, que errou com Malukas — inclusive, assumiu a responsabilidade pelo entrevero, na pista, de ambos — e que Newgarden não alternou o ritmo. Mas o ‘estrago’ estava feito. Episódios impulsivos marcam a carreira de Power, mas, dessa vez, respingou dentro da Penske.
Isso depõe contra Power em um momento em que a Penske parece ter engatilhado um possível substituto. Para 2024, o time acertou uma aliança técnica com a Foyt, que tem se tornado uma espécie de equipe júnior, com um fluxo de informações compartilhado entre as partes, com engenheiros da Penske sendo aportados na esquadra liderada por Larry Foyt.
Apesar de todas as partes negarem, muitas vozes dentro do paddock da Indy garantem que a assinatura de Malukas para competir pela Foyt para 2025 representa um interesse da Penske pelo norte-americano, que estaria sendo preparado para o futuro.
Os resultados estão ao lado de Power, ainda mais que Malukas oscilou um bocado pela Meyer Shank. Mas é sempre bom lembrar que não faltaram episódios na história em que a Penske apostou no futuro, mesmo diante de boas marcas de pilotos já veteranos. Depois de ter sido vice-campeão em 2015, tirou Juan Pablo Montoya saiu após a temporada de 2016 apagada, abrindo espaço para Josef Newgarden.
Em 2017, aconteceu o mesmo com Helio Castroneves, que brigou pelo título daquela temporada até a última corrida. Primeiramente, a Penske optou por ter somente três carros em todo campeonato, deixando o brasileiro somente em Indianápolis, mas o #3 ficou vago para o ingresso, anos após, de Scott McLaughlin na Indy.
Com o contrato indo para o último ano, Will Power terá um 2025 decisivo para sua pretensões na Indy. Ao que tudo indica, vai precisar manter o desempenho no mais alto nível.
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