Retrospectiva 2023: Festival de lesões e erros de comissários mancham ano da MotoGP

As equipes da MotoGP criaram motos ainda mais velozes para 2023 e colocaram todos os pilotos em risco. Para piorar essa combinação, comissários perdidos instauraram o caos ao longo de toda a temporada e irritaram de competidores a torcedores

2023 foi um bom ano para a MotoGP — dentro da pista. A temporada foi brindada com muitas disputas, diversos vencedores e uma acalorada briga pelo título até a última etapa — e que coroou novamente Francesco Bagnaia como campeão. Mas se olhar mais de perto para tudo que aconteceu durante o ano, não será surpresa notar uma lista de episódios negativos e da reincidência de alguns casos.

Primeiramente, é impossível lembrar de 2023 no Mundial de Motovelocidade e não pensar nas muitas lesões. Com motos cada vez mais velozes, cheias de novidades aerodinâmicas e motores potentes, os pilotos acabaram vulneráveis em muitas pistas. As quedas foram frequentes até demais para os padrões da classe rainha, algumas assustadoras e preocupantes.

No total, foram 358 quedas que modificaram o grid ao longo ano. Por conta disso, diversos pilotos acabaram perdendo etapas durante 2023 após acidentes: Luca Marini, Álex Márquez, Marc Márquez, Joan Mir, Enea Bastianini, Aleix Espargaró, Miguel Oliveira, Raúl Fernández e Álex Rins.

Sim, após um longo calendário de 20 etapas, a MotoGP não viu seu grid oficial, com todos os pilotos titulares, uma única vez na pista. De março a novembro, entre Portimão e Valência, sempre faltou alguém na disputa. Um feito bizarro e perigoso.

Muitos acidentes (e lesões) marcaram a temporada 2023 da MotoGP (Foto: RNF)

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Todo esse cenário ainda reverberou na direção dos comissários. A verdade é que a gerência de prova pareceu perdida com tantos acidentes e polêmicas, especialmente em classificação. Os responsáveis pela ordem na MotoGP acabaram virando alvo de pilotos, equipes, e as críticas vieram de todos os lados.

Os comissários da Federação Internacional de Motociclismo (FIM) entraram no olho do furacão logo na primeira etapa por conta de um problema interpretativo no comunicado de uma punição. Marc Márquez, de maneira atabalhoada, derrubou Miguel Oliveira em Portimão e a pena foi dada para “a próxima corrida”.

Machucado, porém, o espanhol não entrou na pista nas três etapas seguintes (Argentina, Austin e Jerez) e, com isso, escapou da punição. Por conta da má redação, e de toda a polêmica criada, os comissários da FIM passaram a explicar que toda infração seria cumprida “na próxima etapa a ser disputada pelo competidor” — ainda que tenham se esquecido disso e repetido o erro no final do ano, com Aleix Espargaró.

Fabio Quartararo talvez tenha sido quem mais verbalizou as reclamações durante o ano. Primeiro após o toque com Oliveira em Jerez, reclamou de ser punido com uma volta longa e afirmou que também foi tocado. Depois, questionou a multa recebida no GP da Índia, quando desatou a cinta do capacete antes de parar nos boxes — enquanto Jorge Martín apareceu com o macacão abertou na mesma corrida e espcaou dos comissários.

No fim, a inconsistência de punições e até mesmo a demora para qualquer tipo de ação colocou os “juízes” da MotoGP contra a parede. Na Austrália, por exemplo, o clima hostil — com chuva e ventos — cancelou a etapa da classe rainha, mas Moto3 e Moto2 correram normalmente, com direito a acidentes graves. Até por isso os pilotos iniciaram um movimento de união, buscando melhores direitos e mais proteção nos bastidores, argumentando que só os interesses das equipes é visto dentro da categoria.

A prova da Moto3 na Austrália foi uma das polêmicas do ano (Foto: Red Bull Content Pool)

A parte médica do Mundial de Motovelocidade também deixou a desejar. O motociclismo é um esporte perigoso, sim, e que deixa os pilotos muito mais vulneráveis do que nos carros. Uma queda traz muito mais danos aos atletas do que ao equipamento, com certeza. Por isso, ter mais cuidado com quem faz o espetáculo deveria ser uma preocupação dos organizadores, algo que ficou bem distante do esperado nos últimos meses.

O caso de Phillip Island talvez seja o mais recente, mas também o mais grave na temporada 2023. As condições climáticas da região levaram frio, chuva e fortes ventos para a pista australiana, deixando a situação ainda mais delicada. Equipamentos e pilotos da Moto3 já são conhecidos por sua fragilidade e leveza, então colocar essa combinação para encarar o péssimo cenário da pista à beira-mar talvez não tenha sido a melhor ideia, como rapidamente se provou.

Antes mesmo da largada, três pilotos caíram. Matteo Bertelle foi quem se livrou com mais sorte. Daniel Holgado sofreu uma dura queda e chegou a cortar o rosto, enquanto Diogo Moreira admitiu que perdeu a consciência em seu acidente. O caso do brasileiro espanta porque menos de 15 minutos depois estava de volta em sua moto e largando para a prova na Austrália — ainda que tenha abandonado logo depois e encaminhado a um hospital.

Por mais que o recado tenha sido dado na primeira corrida do final de semana, a organização insistiu no erro com a Moto2. Novamente as condições extremas de Phillip Island complicaram a vida dos pilotos até que na volta 10, após o grave acidente de Celestino Vietti no final da reta principal, a prova foi encerrada. Antes do italiano, outros pilotos já tinham caído, como Jake DixonMattia CasadeiSergio García e Filip Salac. Por conta disso, a programação restante foi cancelada.

Ainda que esse caso da Austrália, como um todo, tenha sido chocante, não foi o primeiro. Se analisarmos várias sessões do Mundial deste ano, conseguimos achar exemplos. No GP da Índia, Deniz Öncü caiu durante o terceiro treino livre da Moto3 enquanto entrava nos boxes e rapidamente voltou para a pista sem antes passar no centro médico, como é solicitado. Como castigo, foi empurrado para o fim do grid e ainda precisou cumprir uma punição durante a corrida.

Bagnaia foi atropelado na Catalunha e liberado para correr com dores (Foto: Reprodução/MotoGP)

Na Catalunha, no início de setembro, o susto foi na classe rainha do Mundial. Na largada da corrida principal, Francesco Bagnaia caiu sozinho na frente do pelotão e acabou atropelado pela moto de Brad Binder. Ainda que milagrosamente não tenho sofrido fraturas, foi a um hospital e saiu do local caminhando com o auxílio de muletas e liberado para correr apenas uma semana depois, mesmo com muitas dores e passando por um sofrimento intenso no GP de San Marino.

Outro postulante ao título da MotoGP que passou por dores excruciantes foi Marco Bezzecchi. Uma semana antes da prova na Indonésia, caiu durante um treino e fraturou a clavícula. Dias depois, estava acelerando — e ao mesmo tempo se arrastando — na pista de Mandalika. Situação parecida com a que viveu o companheiro Luca Marini, também da VR46, na mesma etapa. Apesar do sofrimento de ambos, a MotoGP declarou a dupla apta para correr.

Correr em 2023 virou um ato de sobrevivência e os protocolos de segurança precisam proteger ainda mais os atletas para que novas lesões não se criem ou mesmo para evitar a piora das que já afetam os astros da principal categoria das duas rodas.

MotoGP volta a acelerar entre 6 e 8 de fevereiro de 2024, com os testes de pré-temporada na Malásia, no circuito de Sepang. O GRANDE PRÊMIO faz a cobertura completa do evento, assim como das outras classes do Mundial de Motovelocidade durante todo o ano.

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