Lendas do Rali dos Sertões: Edu Piano

Eduardo Domingues, conhecido simplesmente como Edu Piano, é o maior vencedor do Rali dos Sertões correndo na categoria Caminhões. Na reportagem especial da Revista WARM UP 28, o piloto destacou a estratégia como chave para conquistar mais um título no Sertões

 

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Na quarta entrevista da série ‘Lendas do Rali dos Sertões’, como parte da reportagem que a Revista WARM UP 28 traz com os grandes pilotos que fizeram a história da prova, o piloto da vez é um peso-pesado. Ninguém tem mais títulos correndo na categoria Caminhões que Edu Piano. Atualmente com 43 anos, o paulista, radicado em Tatuí, detém nada menos que quatro troféus correndo com os ‘brutos’: 2007, 2008, 2009 e 2011, sempre com Ford de sua própria equipe, a Território Motorsport. Os parceiros também são os mesmos desde o início: Solon Mendes e Davi Fonseca.

Edu Piano, que tem como nome de batismo Eduardo Domingues, tem ainda outro título, conquistado na década passada: ao lado de Rogério Almeida, o piloto garantiu o troféu geral dos carros correndo com uma Chevrolet S10, em 2005. Com cinco títulos, sendo que o último foi vencido na categoria Caminhões Leves, em 2011, Edu é um dos raros pentacampeões do Rali dos Sertões.

O laureado piloto foi entrevistado pela reportagem da WARM UP e falou um pouco de sua carreira, passado, presente e futuro no automobilismo. O que nem o próprio Edu imaginava é que uma trajetória iniciada com um ‘rolo’ envolvendo uma moto seria uma das mais vitoriosas do cross-country brasileiro. A seguir, a íntegra da entrevista com o peso-pesado Edu Piano.

Grande Prêmio: É verdade que sua jornada no Rali dos Sertões começou por causa de um ‘rolo’?

Edu Piano: É verdade. Tudo começou em 1996, quando um amigo meu me convidou para fazer o Rali dos Sertões. E eu tinha uma moto, uma DT, que acabou entrando no rolo. Dei a moto e esse meu amigo acabou pagando a inscrição. Comecei com um Suzuki Samurai. Foi assim que eu comecei. Em 2012 será a minha 17ª participação na prova. Em 2006 foi a minha última vez nos carros e, em 2007, já estreei como piloto oficial da Ford correndo nos Caminhões. E de lá para cá eu gostei tanto que não quis mais voltar para os carros.

GP: Como um dos veteranos da prova, como você analisa a evolução do Rali dos Sertões desde 1996 até os dias atuais? O que mudou desde então?

EP: Naquela época, o Sertões era mais como um grupo de amigos que fazia um rali, um ajudava o outro. E hoje está tudo mais profissional. Existe um pouco de companheirismo, mas está tudo muito mais competitivo. Muita gente está lá mesmo para ganhar a prova. E hoje existem melhores equipamentos de navegação, o rali está mais controlado, mais seguro, enfim. Tudo evoluiu. E o rali se tornou muito mais rápido: os veículos, como carros e caminhões, ultrapassam os 200 km/h.

GP: Não sei se é possível mensurar isso. Mas, em sua opinião, é mais seguro correr de carro ou de caminhão? Ou é tudo a mesma coisa?

EP: É a mesma coisa. A segurança, tanto nos carros quanto nos caminhões, é muito grande, já que existe sempre o uso dos equipamentos obrigatórios, como gaiola, macacão, o Hans… Claro que, no caminhão, você anda praticamente na mesma velocidade dos carros, mas, se acontecer alguma coisa, são sete toneladas, ao passo que um carro geralmente pesa 2 mil quilos. O impacto é muito maior, mas, em compensação, a gaiola também é muito mais reforçada. Mas, em termos de segurança, é tudo muito tranquilo. Graças a Deus não sofri nenhum acidente grave, a cada ano que passa está mais seguro, então não me preocupo.

Edu Piano é o maior vencedor na categoria Caminhões no Rali dos Sertões (Foto: Haroldo Nogueira/SHEZ)

GP: O que você mais percebeu de mudança ano após ano em sua trajetória no Rali dos Sertões?

EP: Fui amadurecendo, né? Foi analisando cada uma das provas, e você vai analisando as estratégias. E com o passar do tempo, você vai amadurecendo, vai ficando mais velho, e aí você tem uma atitude diferente em relação há alguns anos atrás. Acho que o Sertões é uma prova estratégica, que você não ganha na hora, no primeiro dia. E com o passar dos anos, o rali vai se tornando cada vez mais difícil, então você também tem de estar muito mais preparado. Sempre a preparação é na expectativa de que a prova seguinte é mesmo a mais difícil. E essa receita vem dando certo.

GP: Em todos esses anos de Sertões, você guarda consigo algum tipo de decepção?

EP: São vários momentos. Em 16 participações, foram 11 decepções (risos). Em 2002 nós ficamos em segundo lugar na classificação geral, com um carro praticamente todo original. Em 2003 nós corremos com praticamente o mesmo carro, apenas com algumas modificações, e vínhamos liderando com quase 40s de vantagem para o segundo colocado e faltando três dias para acabar, estava praticamente com a prova ganha. Então tive um problema no cabeçote, começou a baixar água, aí tivemos de parar, colocar água, voltar… Depois, bem mais atrás, saí na poeira atrás de um carro e, quando tentei ultrapassá-lo, bati o carro na beira da estrada e arrebentei a suspensão. Esse ano foi o mais frustrante: a prova estava praticamente ganha, mas fui do céu ao inferno em 100 km.

GP: E quais foram os momentos mais marcantes nessa trajetória do Sertões?

EP: A primeira vitória é a que mais marca. Foram tantos anos tentando lutar por uma vitória no Rali dos Sertões, e ela veio em 2005, na geral, e com S10, o que marcou muito. Mas acho também que, em 2007, na primeira vitória nos caminhões, também foi muito marcante para a gente. Foi um ano de bastante dificuldade para nós, já que montamos correndo um caminhão. Para mim, as duas têm mais ou menos o mesmo peso.

GP: E como tem sido a preparação de vocês para o Sertões 2012?

EP: Nesse ano nós vamos apresentar um novo caminhão para a categoria dos Pesados, que é o novo Ford Cargo 1933 4×4. É um projeto novo. E além desse caminhão, estamos indo com outro na categoria dos Leves, e também com a equipe Troller, com mais dois carros. Então são dois caminhões e dois Troller para o rali deste ano. Mas a grande novidade mesmo é esse caminhão novo, que, com certeza, vai ser um grande sucesso nos próximos anos e, quem sabe, tenha muito chão ainda para correr em termos de desenvolvimento. Mas estamos tendo um trabalho muito bom nesse caminhão. E estamos reestruturando a equipe para, no futuro, quem sabe, fazer um Dakar.

GP: Ano passado o Rali dos Sertões teve apenas cinco inscritos nos caminhões. Nesse ano o número já é um pouco maior. Mas a que você atribui essa variação entre os competidores dos ‘brutos’?

EP: O Sertões em si é uma prova muito cara. Mas não foi só por isso. Calhou que muitos competidores não quiseram participar, e aí deu uma diminuída boa no grid. Mas nesse ano tudo melhorou, já temos mais que o dobro em relação ao ano passado. E eu te falo uma coisa: acho que a categoria Caminhões é a que mais tende a crescer. Se você for comparar com as outras categorias, ela tem um custo bastante similar ao das outras, mas tem uma visibilidade muito boa. E tem muitos pilotos que se enquadram nesse perfil do caminhão. E o pessoal está vendo isso com bons olhos. A tendência é que esse número de inscritos, para os próximos anos, seja além dos 15, que é um número bom.

GP: E já que você falou sobre custos, é possível dizer qual é o orçamento, em média, de uma equipe como a sua para correr uma temporada completa de caminhão aqui no Brasil?

EP: Por contrato, nós somos orientados a não divulgar valores. Mas, como estimativa, para fazer toda uma temporada, pode colocar aí mais de R$ 1 milhão, incluindo o desenvolvimento.

GP: Qual a sua avaliação sobre o novo roteiro do Rali dos Sertões, entre São Luís e Fortaleza?

EP: Olha, para nós, pilotos, foi muito ruim essa mudança. Nós já tínhamos colocado as propostas de patrocínio, e esse ano está muito difícil, o mercado tá meio parado, está meio complicado de patrocínio, então foi ruim. Tivemos um acréscimo no nosso custo de logística e não tivemos como passar isso para o patrocinador, e isso acabou sobrando para a gente. Mas enfim. A prova promete ser muito dura. Eles prometem sempre se superar. E, como se trata da edição dos 20 anos, estamos esperando uma prova muito difícil, principalmente nos primeiros dias, com muita areia, então a gente está prevendo que, logo no começo, muita gente vai ficar para trás.

GP: Para fechar, qual é a sua avaliação sobre o atual nível do rali cross-country no Brasil?

EP: Falta divulgação. Tá muito melhor que no passado, mas ainda há muito para melhorar. O rali tem muito a crescer.

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