Coluna Rookie Text, por Gabriel Araújo: Haja trabalho

Óbvio que a missão de Domenicali era das mais complicadas: substituir os membros dos anos de ouro da Ferrari. Jean Todt, Ross Brawn, Rory Byrne e Michael Schumacher. Mas ficou longe de sequer chegar perto de algo produzido pela equipe do início dos anos 2000. Nem o retorno de Byrne ao time técnico em 2013 resolveu os problemas. O agora ex-chefe de equipe se afundou em erros

O assunto do momento na F1 é, e não poderia deixar de ser, a saída de Stefano Domenicali da Ferrari. Anunciada na manhã de segunda-feira em comunicado curto e frio, a queda do chefe de equipe, aparentemente, é o ciclo natural para a escuderia italiana. Não foi bem? Fora. Não é o correto, claro, visando 2014, onde a “vaca já deitou” e a equipe abandonou o barco somente após três corridas, mas um ponto interessante tomando o lado das mudanças para um futuro talvez não tão próximo.

A gestão de Domenicali foi um verdadeiro desastre. Membro de Maranello desde 1991, sempre no RH, Stefano sucedeu Jean Todt no comando do cavalo rampante em 2008. Acumulou um título de construtores, justamente em seu primeiro ano como chefe de equipe, e 20 vitórias, além de um quase-título de pilotos com Alonso. Pouco. Para uma equipe do nível Ferrari, um desempenho fraco. Colecionou, ainda, diversas falhas técnicas, esportivas, estratégicas. Com bônus de tensão, com o acidente de Felipe Massa na Hungria, em 2009, e polêmicas, como a troca de posições entre Massa e Alonso na Alemanha, em 2010. Um fracasso, em geral.

2014, que poderia ser o ano da virada do jogo, por sua vez, já começou mal. As mudanças nas regras geraram uma boa oportunidade para a Ferrari enfim engrenar sob o comando de Domenicali. Falhou novamente. O domínio escancarado acabou no colo da Mercedes. E os italianos, enquanto isso, amarguram o meio da tabela. Três corridas, 33 pontos. Kimi Räikkönen, contratado como possível salvação da lavoura, penando. Fernando Alonso comemorando um modesto nono lugar.

Domenicali não é mais o chefe da Ferrari (Foto: Getty Images)

O espanhol foi regular em Melbourne e Sepang, quartos lugares. O finlandês, muito mal, sétimo e 12º, respectivamente. Mas o estopim para a queda de Domenicali, anunciada como pedido de demissão apenas por preservação, foi definitivamente o GP do Bahrein, onde a Ferrari foi a quinta equipe na pista, e só pelo abandono da dupla da McLaren. Levou uma solada de Luca di Montezemolo, que deixou Sakhir antes do fim da corrida, enquanto os carros vermelhos sofriam ultrapassagens atrás de ultrapassagens, em desempenho pífio: “Ver a Ferrari tão lenta nas retas me causa dor profunda”. Arrivederci, Stefano.

Óbvio que a missão de Domenicali era das mais complicadas: substituir os membros dos anos de ouro da Ferrari. Jean Todt, Ross Brawn, Rory Byrne e Michael Schumacher. Mas ficou longe de sequer chegar perto de algo produzido pela equipe do início dos anos 2000. Nem o retorno de Byrne ao time técnico em 2013 resolveu os problemas. O agora ex-chefe de equipe se afundou em erros. Não havia mais nada a ser feito: a Ferrari precisa de dias melhores, e com Stefano era evidente que isso não aconteceria.

Para seu lugar, foi selecionado Marco Mattiacci, diretor-executivo na América do Norte. Nada relacionado ao setor esportivo. Escolha estranha. O mais conspiracionista diria que é uma fachada para Montezemolo mandar e desmandar. Mas é alguém, no fim, para tentar colocar os italianos nos trilhos novamente. Terá muito trabalho. O resto de 2014 está perdido, e será apenas um reconhecimento de gramado.

A partir de 2015, Mattiacci começará a disputar a final, que terá de vencer com goleada, apesar de não saber nada com nada de F1, pelo que se vê. A tática da equipe ainda não está elaborada. Ninguém sabe se Marco é o certo. Na vaga, alguém com experiência esportiva certamente facilitaria a situação. O rapaz é um tiro no escuro de Montezemolo, que espera acertar no alvo.

Até lá, verá somente Domenicali desaparecer do mapa. Tomar um chá de sumiço. E buscará contornar a crise de Maranello. Que agora, como bem pensado pelos conhecedores do riscado, também cutuca Alonso, já que os carros andarão no pelotão médio – e olhe lá – até o fim do campeonato.

O asturiano tem sede de vitórias. Em uma irritação qualquer, pula fora e deixa a Ferrari a ver navios. O time não pode se esquecer de quem precisa na pista. A F1 não é só acelerar e virar o volante. Alonso é fundamental para as pretensões ferraristas. O ponto não é só produzir: é também segurar Alonso, que já não é amigo do peito de Räikkönen – muito menos de Montezemolo –, e não veria problema algum em mudar de equipe. McLaren de novo? Ron Dennis aceitaria? Com a Honda, seria a combinação perfeita. Red Bull? Bom lembrar que o piloto já deu uma olhada com carinho para o time dos energéticos.

O que, no início, pintava como solução, agora escancara seus problemas. Um segundo erro na administração seria crasso para a Ferrari. Os últimos seis anos foram praticamente jogados fora. Se falhar novamente, a equipe pode voltar a pensar em vacas magras. E em reestruturação. Complicado sujeitar-se a isso. Como diria o primeiro locutor, agora haja coração. Ou melhor: haja trabalho.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.