50 anos de F1 no Brasil: as vitórias mais marcantes de pilotos da casa

A Fórmula 1 comemora 50 anos de presença no Brasil em 2022, e o GRANDE PRÊMIO separou cinco vitórias históricas de pilotos da casa antes do GP de São Paulo, 21ª etapa da temporada

A Fórmula 1 se prepara para completar 50 anos de presença no Brasil este ano, meio século depois do argentino Carlos Reutemann vencer a primeira corrida realizada pela categoria no país, em 1972. De lá para cá, foram nove vitórias brasileiras no período: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet, Ayrton Senna e Felipe Massa venceram duas cada, enquanto José Carlos Pace triunfou uma vez.

Neste especial, o GRANDE PRÊMIO separa cinco corridas marcantes dessa lista para relembrar a felicidade do povo brasileiro com uma vitória dentro de casa — algo que não acontece há 14 anos.

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O GP do Brasil de 1973 foi o primeiro a distribuir pontos no Mundial de Fórmula 1 (Foto: Arquivo)

GP do Brasil de 1973 – Emerson Fittipaldi (Lotus-Ford)

Reutemann foi o primeiro a triunfar em uma corrida realizada pela Fórmula 1 no Brasil, mas é importante destacar que a prova de 1972 foi realizada pela FIA como forma de garantir que o espetáculo teria segurança. Uma vez aprovada, a corrida passou a incorporar o calendário oficial da categoria a partir do ano seguinte, e Emerson Fittipaldi foi o responsável por vencer a primeira disputa que efetivamente distribuiu pontos em um campeonato de F1 no Brasil.

Na véspera, Fittipaldi garantiu o 1-2 da Lotus na segunda posição, alinhando atrás de Ronnie Peterson por apenas 0s2. Jacky Ickx sairia da terceira posição, com Clay Regazzoni e Denny Hulme completando o top-5. Entre os demais brasileiros, José Carlos Pace era o sexto, Wilson Fittipaldi largaria em 11º e Luiz Pereira Bueno em 20º e último lugar.

A largada foi excelente para os pilotos da casa, o que levou a torcida brasileira ao delírio em Interlagos: enquanto Fittipaldi aproveitou saída ruim de Peterson e tomou a primeira posição, Pace fez um início espetacular e saltou de sexto para segundo. Sir Jackie Stewart aparecia em terceiro, com Ronnie em quarto.

A partir daí, Emerson começou a abrir em relação aos carros de trás e Pace fez o possível para segurar seus rivais. Ainda assim, tanto Stewart quanto Peterson deixaram o brasileiro para trás e foram à caça de Fittipaldi — até que um problema na roda causou o abandono do sueco na quinta volta.

Em uma época na qual as quebras eram absolutamente comuns na Fórmula 1, rapidamente os brasileiros Wilson e Pace abandonaram com problemas. Emerson, por outro lado, seguia abrindo distância para Stewart e não deu chance ao britânico, que terminou 13s5 atrás. Denny Hulme completou o pódio, e apenas os três primeiros terminaram na volta do líder.

Na primeira corrida oficial do Mundial de Fórmula 1 no Brasil, o top-10 terminou composto por Fittipaldi, Stewart, Hulme, Arturo Merzario, Ickx, Regazzoni, Howden Ganley, Niki Lauda, Nanni Galli e François Cevert.

Aquela seria a segunda vitória de Fittipaldi em duas corridas no campeonato, o que confirmava um ótimo início de campeonato para o brasileiro. No entanto, após sofrer com problemas de confiabilidade na segunda metade da temporada, Emerson acabou ultrapassado pelo tricampeão Stewart.

Apesar da festa da torcida pela vitória brasileira, o primeiro GP do Brasil não foi de felicidade para todo mundo. O Autódromo de Interlagos ficou claramente superlotado, com mais de 150 mil pessoas presentes, e o forte calor piorou ainda mais a situação — os bombeiros chegaram a jogar água em boa parte das arquibancadas para refrescar a torcida.

Além disso, foram encontradas ocorrências de garrafas de vidro atiradas na pista, mais de 500 atendimentos na enfermaria de Interlagos — a grande maioria por desidratação e insolação, causados pelo forte calor — e 114 registros de furtos e agressões. Não foi um dia tranquilo, mas terminou com a primeira vitória do Brasil em casa pela Fórmula 1.

Fittipaldi levou a Lotus ao lugar mais alto do pódio em Interlagos (Foto: Divulgação)

GP do Brasil de 1975 – José Carlos Pace (Brabham-Ford)

A primeira dobradinha da história do Brasil na Fórmula 1 foi conquistada em casa, naquela que se tornou também a única vitória de José Carlos Pace na principal categoria do automobilismo. No dia 26 de janeiro de 1975, o piloto da Brabham subiria ao lugar mais alto do pódio pela única vez na carreira, seguido pelo então campeão Emerson Fittipaldi — que fez uma corrida de recuperação.

A classificação do dia anterior confirmava algo que já havia sido visto na primeira etapa do ano, na Argentina: o carro da Shadow era dos mais rápidos do grid, ao menos em ritmo de classificação, e causava surpresa naquele início de temporada. Jean-Pierre Jarier quebrou a expectativa brasileira e colocou o carro britânico na primeira colocação, com Fittipaldi completando a primeira fila. Pace largaria em sexto.

No domingo, os dois primeiros colocados fizeram uma largada muito ruim. Jarier foi rapidamente superado por Carlos Reutemann, o novo líder, enquanto Emerson se deu ainda pior e despencou para o sétimo lugar. Pace, por sua vez, aproveitou o caos e subiu para a terceira colocação.

Por mais que Reutemann se esforçasse para segurar a ponta, o ritmo da Shadow de Jarier era claramente superior e o desgaste nos pneus da Brabham piorava a situação ainda mais. Com isso, a liderança do argentino durou cinco voltas e o francês passou a abrir distância. Nove giros depois, foi a vez de Pace deixar o rival para trás e assumir o segundo lugar.

Jarier seguiu aumentando sua vantagem em relação ao brasileiro até a 32ª volta, quando um problema na alimentação de combustível fez com que o carro parasse na pista. Para delírio da torcida local, José Carlos Pace assumia a liderança da corrida com apenas sete voltas para o fim.

E se a situação já parecia boa para os brasileiros, Fittipaldi daria um jeito de melhorar. Enquanto Jarier tratava de abrir vantagem na ponta, o campeão passou por Jody Scheckter, Niki Lauda, Reutemann e Clay Regazzoni para tomar a terceira colocação. Com o abandono do francês, passou a ser o segundo e completava o 1-2 dos sonhos da torcida.

Apesar de ter contado com a sorte de ver o líder abandonar, Pace também viveu momentos de apuros nas últimas voltas. Com problemas no freio do carro, o brasileiro quase não conseguiu completar a corrida e viu Emerson dizimar a vantagem para pouco mais de 5s ao fim da prova.

Companheiro de Fittipaldi na McLaren, Jochen Mass completou o pódio. Regazzoni, Lauda, James Hunt, Mario Andretti, Reutemann, Jacky Ickx e John Watson fecharam o top-10. No dia seguinte, o grande destaque nos jornais brasileiros esportivos era a liderança dupla do Brasil na F1, com Emerson em primeiro e Pace em segundo. No fim daquela temporada, entretanto, Lauda seria campeão mundial pela primeira vez.

Dez anos depois daquele dia histórico em Interlagos, o local passou a se chamar Autódromo José Carlos Pace em homenagem ao piloto — que morreu em um acidente aéreo em 1977.

José Carlos Pace conquistou sua única vitória na F1 justamente em casa (Foto: Divulgação)

GP do Brasil de 1991 – Ayrton Senna (McLaren-Honda)

Depois de bater na trave diversas vezes, a primeira vitória de Ayrton Senna no Brasil já seria histórica de qualquer forma. No entanto, certamente ninguém esperava as doses cavalares de emoção que tomaram conta do GP do Brasil de 1991: naquele dia 24 de março, o então bicampeão mundial — que viria a ser tri no fim do ano — foi ao lugar mais alto do pódio após segurar a liderança apenas com a sexta marcha durante sete voltas.

A classificação foi apertada, mas não trouxe problemas ao brasileiro, que garantiu a McLaren na ponta. Naquele momento, a equipe britânica não tinha mais a absurda vantagem apresentada no fim dos anos 1980 e já via a Williams mostrar as primeiras credenciais daquela que seria a força dominante da década seguinte — tanto que Riccardo Patrese alinhou em segundo, apenas 0s3 mais lento que Senna, e Nigel Mansell colocou o segundo carro do time de Grove em terceiro, 0s4 atrás do líder.

A largada de Senna foi boa, e o brasileiro manteve a liderança — o mesmo não pode ser dito de Patrese, que perdeu o segundo lugar para o companheiro Mansell. Ainda que Ayrton tenha aberto vantagem nas primeiras voltas, o “Leão” foi atrás e começou a se aproximar perigosamente do rival.

A corrida se desenrolou com Mansell buscando se aproximar de Senna, em vantagem que chegou a ser de apenas 0s7 a favor do brasileiro. O inglês passou a perder rendimento a partir da volta 44, e um pequeno furo em um de seus pneus — que estava causando severa perda de pressão — foi identificado. Nigel retornou aos boxes da Williams e fez a troca, dando mais de 30s de vantagem a Ayrton.

Com a disputa prevista para 71 voltas, Mansell fez de tudo para se aproximar do brasileiro e passou do ponto na 59ª, rodando justamente no S do Senna. O câmbio de sua Williams, que já havia apresentado alguns problemas ao longo da corrida, enfim desistiu e causou o abandono do Leão.

A partir daí, o alívio da torcida era geral e a vitória de Senna tratada como questão de tempo. Faltou combinar com a McLaren, no entanto: o câmbio de Ayrton também começou a apresentar problemas e o brasileiro foi perdendo suas marchas, o que automaticamente aumentava seus tempos de volta.

A chuva já caía sobre o Autódromo de Interlagos quando Senna ficou sem a terceira marcha. Logo depois, a quarta também quebrou e a quinta o abandonou em seguida. A situação era dramática. A partir daí, Ayrton manteve a sexta marcha até o fim e fez um esforço descomunal para manter o carro na pista, já que passou a ser necessário entrar nas curvas em alta velocidade para poder reacelerar no momento da retomada — isso, é claro, sem rodar na chuva.

Enquanto Patrese se aproximava em ritmo alucinante, Senna segurou o carro na pista durante as últimas sete voltas apenas com a sexta marcha e venceu a corrida, causando uma verdadeira explosão nas arquibancadas. O esforço foi tão grande que o brasileiro nem conseguiu manter sua McLaren funcionando na volta de desaceleração, com o motor Honda apagado na pista.

A cena de Ayrton erguendo o troféu do GP do Brasil de 1991 é uma das imagens mais icônicas da história da Fórmula 1, contrapondo a felicidade pela primeira vitória em casa com o sofrimento pelas dores nas costas, nos braços e no pescoço. O momento ficou marcado como um símbolo de garra e resiliência, gravado para sempre na memória dos fãs do automobilismo como um dos maiores retratos de adversidade em uma corrida da categoria.

Gerhard Berger completou o pódio em Interlagos naquele dia, com Alain Prost, Nelson Piquet, Jean Alesi, Roberto Pupo Moreno, Gianfranco Morbidelli, Mika Häkkinen e Thierry Boutsen fechando o top-10.

Ayrton Senna venceu de forma heroica no GP do Brasil de 1991 (Foto: Norio Koike)

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GP do Brasil de 2006 – Felipe Massa (Ferrari)

Ayrton Senna ainda conquistaria sua última vitória no Brasil em 1993, e o país passou a viver um enorme hiato correndo em casa até que Felipe Massa subisse ao lugar mais alto do pódio 13 anos depois. E ao contrário da vitória de 1991, o brasileiro viveu poucas emoções naquele 22 de outubro em Interlagos: garantiu a pole-position e venceu de ponta a ponta, em dia de bicampeonato mundial conquistado por Fernando Alonso.

A batalha pelo título de 2006 incluía apenas Alonso e Michael Schumacher, que se aposentaria naquela corrida — o encerramento da temporada. Assim, dez pontos separavam os dois pilotos, com Fernando à frente, e a matemática era simples: o alemão, se quisesse ser campeão, precisaria vencer e torcer para o espanhol não pontuar. Missão quase impossível.

Massa largou bem e manteve a primeira posição sem maiores problemas, enquanto Nico Rosberg não passou dos primeiros metros — logo no início, o alemão bateu e causou a entrada do safety-car. Na relargada, uma repetição do começo da corrida: Felipe disparou na frente e Schumacher partiu para cima dos adversários, ocupando a sétima colocação naquele momento.

No entanto, enquanto o carro da Ferrari pilotado pelo brasileiro abria vantagem na ponta, o do alemão recebeu um toque ao passar por Giancarlo Fisichella — companheiro de Alonso na Renault — e teve seu pneu traseiro esquerdo furado. De volta aos boxes para a troca, Schumacher sabia que a briga pela taça estava perdida e passou a enfileirar ultrapassagens, retornando ao quarto lugar e dando um verdadeiro show para a torcida.

Já em relação a Massa — que vestia um macacão verde e amarelo autorizado especialmente pela Ferrari —, o brasileiro não encontrou nenhum entrave para garantir sua primeira vitória em casa. Com absurdos 18s6 de distância, Felipe cruzou em primeiro e viu Alonso e Jenson Button completarem o pódio. Mais atrás, Schumacher, Kimi Räikkönen, Fisichella, Rubens Barrichello, Pedro de la Rosa, Robert Kubica e Takuma Sato fecharam o top-10.

Felipe Massa celebra vitória em Interlagos de verde e amarelo (Foto: Ferrari Media)

GP do Brasil de 2008 – Felipe Massa (Ferrari)

Se a disputa de 2006 não reservou grandes emoções a Massa, que venceu de ponta a ponta, a corrida de dois anos depois certamente trouxe a maior frustração da carreira do brasileiro. No dia 2 de novembro de 2008, Felipe Massa e Lewis Hamilton decidiriam o título mundial da Fórmula 1. E o brasileiro ganhou, mas não levou.

Bastava a Hamilton, líder do campeonato, um quinto lugar para ser campeão. No entanto, ainda pairava sobre o inglês o fantasma do ano anterior: Lewis precisava apenas de um sexto lugar no GP do Brasil de 2007 para ficar com o título, mas uma série de erros fez com que o britânico chegasse em sétimo e Kimi Räikkönen soltasse o grito de campeão.

Assim, o único que poderia impedir a conquista da McLaren seria o brasileiro, que garantiu a pole no dia anterior e viu Hamilton ficar apenas com a quarta colocação. A chuva começou a cair em Interlagos poucos instantes antes da largada, o que causou um atraso de dez minutos no início da corrida. Quando a prova enfim começou, um repeteco de 2006: Massa não teve problemas para segurar a primeira colocação e o safety-car foi acionado quase que instantaneamente, já que David Coulthard rodou e abandonou em sua corrida de despedida.

A pista começou a secar após a relargada, já que a chuva havia parado, e os pilotos foram aos boxes. No retorno à pista, enquanto Massa conseguiu manter o primeiro lugar, Hamilton caiu para sexto. Ainda assim, rapidamente tomou o quinto lugar de Fisichella e se colocou à frente de Timo Glock — em uma posição que lhe seria suficiente para ser campeão. Foi o último momento de emoção durante algum tempo na corrida, que entrou em fase bem mais monótona e tinha Massa abrindo cada vez mais vantagem na ponta.

A questão é que o GP do Brasil sempre tem suas surpresas. A chuva recomeçou a cair sobre o Autódromo de Interlagos e alterou todos os planos, já que os pilotos precisaram trocar para os pneus intermediários. No entanto, a Toyota optou por um caminho diferente e preferiu adotar a estratégia mais ousada, deixando Timo Glock e Jarno Trulli na pista e torcendo para que a chuva não aumentasse nas últimas voltas.

A estratégia do time japonês parecia ter dado certo por um momento, já que tanto Glock quanto Trulli conseguiram escalar o pelotão com tempos competitivos e aproveitando as paradas, inclusive com voltas melhores que os pilotos com pneus intermediários. A torcida explodiu de vez na antepenúltima volta, quando Hamilton cometeu um erro na Junção e viu Sebastian Vettel tomar tranquilamente a posição. No sexto lugar, o inglês via o título ficar com Felipe naquele momento.

E Massa cumpriu sua parte, manteve a primeira posição e cruzou a linha de chegada como campeão do mundo — o primeiro título brasileiro desde Ayrton Senna, em 1991. Porém, um verdadeiro dilúvio desabou sobre a pista na última volta e Glock passou a se arrastar, se esforçando a todo custo para não perder o carro e rodar.

Assim, Hamilton conseguiu encostar no alemão logo antes da reta final e completou a corrida na quinta posição, quase 40s atrás do brasileiro. A torcida, que já comemorava efusivamente a conquista histórica, precisou ver Lewis se tornar o campeão mais jovem da história da Fórmula 1, aos 23 anos de idade.

Massa, Alonso e Räikkönen subiram ao pódio, com Vettel, Hamilton, Glock, Heikki Kovalainen, Trulli, Mark Webber e Nick Heidfeld completando o top-10.

Glock ficou marcado pela torcida brasileira como o “culpado” pela perda do título de Massa, mas o alemão realmente não teve o que fazer. Com pneus de pista seca em um asfalto completamente encharcado, Timo simplesmente tentava segurar o carro e não foi páreo para a STR de Vettel e a McLaren de Hamilton. O inglês, punido um ano antes pelos erros cometidos em China e Brasil, garantiu a consagração ao mesmo tempo em que a torcida brasileira passava pelo maior anticlímax já vivido em Interlagos.

A decepção do brasileiro era evidente no pódio, com a oportunidade de vencer o título mundial em casa perdida (Foto: Divulgação)
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