Alfa Romeo critica “falta de visão” e mente tacanha de “alguns senhores” da F1

Frédéric Vasseur, chefe de equipe da Alfa Romeo, adotou discurso semelhante ao de Toto Wolff e revelou certa ojeriza com o lado político da Fórmula 1. O dirigente francês disparou contra a visão míope de alguns dos seus pares que enxergam a categoria mais importante que a realidade: “As estrelas deste ano não são os pilotos, mas os médicos e enfermeiras”, disse

De todos os chefes de equipe da Fórmula 1 na atualidade, Frédéric Vasseur, comandante da Alfa Romeo, foi um dos mais assertivos e críticos sobre a postura dos seus pares frente à pandemia do novo coronavírus. Em março, dias depois do cancelamento do GP da Austrália, o francês bradou ao dizer que a categoria “não é o centro do mundo e não é muito útil para a sociedade”. Nesta semana, em entrevista ao jornal suíço Blick, o francês esbravejou contra o jogo político, o que chama de “falta de visão” e os pensamentos tacanhos de alguns dos outros chefes de equipe da F1 frente à pandemia do novo coronavírus.

Nos últimos meses, sem atividade nas pistas, a Fórmula 1 discutiu, por meio de videoconferências, mudanças importantes no regulamento para os próximos anos, como a introdução de um teto orçamentário menor que o outrora previsto — começando com US$ 145 milhões em 2021 —, o adiamento da ‘revolução’ nas regras do ano que vem para 2022 e ajustes no calendário para a temporada deste ano.

Vasseur não citou nomes, mas se mostrou bastante incomodado com a postura de alguns dos seus pares durante as reuniões recentes.

“Graças ao Skype, estive em contato várias vezes ao dia com a Fórmula 1, com a FIA e outros chefes de equipe. Numa época em que a Fórmula 1 é sobre sobrevivência, você conhece o caráter dos seus oponentes muito bem”, explicou.

Frédéric Vasseur criticou a mentalidade tacanha de alguns chefes de equipe da Fórmula 1 (Foto: Alfa Romeo)

Engenheiro de formação, o francês de 52 anos revelou contrariedade sobre o posicionamento de determinados dirigentes que insistem em ver a Fórmula 1 mais importante do que o mundo, que hoje sofre em razão da pandemia. “Fiquei surpreso com a falta de visão de alguns senhores. Muitos devem finalmente entender que o mundo poderia viver sem a Fórmula 1. Temos de manter os pés no chão. As estrelas deste ano não são os pilotos, mas os médicos e enfermeiras”.

As palavras de Vasseur refletem o quanto o jogo político na Fórmula 1 causa certa repulsa. Recentemente, Toto Wolff criticou o ambiente nos bastidores do esporte.

“Estou no esporte desde 2009 com a Williams e nunca vi tanto oportunismo e manipulação. Há aspectos do esporte que questiono e, às vezes, o esporte se converte em um pano de fundo e deixa de ser o ato principal”, detonou o austríaco em entrevista à ESPN britânica.

“Aprendi muito com várias pessoas e ainda que saiba que estamos falando de um entorno muito politizado e que todo mundo tenta tirar proveito, diria que os últimos meses foram os mais politizados da F1 desde que passei a fazer parte”, acrescentou o chefe da Mercedes.

Toto se mostrou farto de ter de lidar com determinadas pessoas no paddock. Sem citar nomes, mas ao melhor estilo ‘indireta de internet’, o ex-piloto e dirigente não economizou nas críticas.

“Em primeiro lugar, de certa forma o isolamento foi bom porque não tive de interagir com certas pessoas. Por outro lado, claramente pude ver que tem gente que sentia a necessidade de se comunicar por meio da mídia, mas, no fim das contas, tudo isso é irrelevante”, disparou.

“O motivo pelo qual amamos este esporte é porque ele se baseia na performance. Uma vez que a bandeira cai, todas essas bobagens somem. Essas bobagens vão parar, e todas essas entrevistas e opiniões voltarão a ser irrelevantes”, complementou Wolff.

Sobrevivência garantida

A venda da equipe fundada por Peter Sauber para o fundo suíço de investimentos Longbow Finance, em 2016, assegurou a permanência de uma das últimas equipes fundadas por ‘garagistas’ na Fórmula 1. Mas a partir de 2019, o sobrenome Sauber deixou oficialmente o grid para dar lugar ao retorno da Alfa Romeo, que rebatizou o time de Hinwil.

Com a interrupção dos trabalhos e a incerteza provocada pela pandemia, muitas equipes decidiriam cortar parte dos salários de pilotos e funcionários. A Alfa Romeo, com uma solidez financeira, comemora o fato de, mesmo sendo uma equipe de orçamento reduzido na comparação com as grandes da Fórmula 1, conseguir manter todos os empregos e passar pela fase mais difícil da crise financeira.

“Vamos sobreviver à crise graças às autoridades e aos donos [da equipe]. Graças aos proprietários que podemos manter todos os 500 funcionários. Esse suporte é único e muito tranquilizador. Isso nos dá a esperança para o futuro porque ainda temos um longo caminho a percorrer”, salientou Vasseur.

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