AlphaTauri se vê na berlinda e precisa neutralizar crise para deslanchar em 2023

Em um momento em que a alta cúpula da Red Bull não está satisfeita com o desempenho da AlphaTauri, equipe liderada por Franz Tost enfrenta um início de ano complicado e precisa consertar uma AT04 malnascida para manter as chances de seguir com projeto na F1

A AlphaTauri vive um início de temporada dos mais complicados em 2023 na Fórmula 1. Depois de terminar no nono lugar entre os construtores no ano passado — pior resultado desde 2018, quando ainda se chamava Toro Rosso — a equipe de Faenza tinha como primeiro objetivo se recuperar da perda de Pierre Gasly com um carro menos problemático e decisões mais assertivas. Mas não é exatamente isso que vem acontecendo. Na verdade, é o oposto.

Possivelmente 2023 é o ano de maior crise dentro das garagens do time B da Red Bull, e o projeto malnascido da AT04 parece ser só a ponta do iceberg. O problema no desempenho tem gerado inúmeras consequências dentro da equipe, como o ‘elenco rachado’ e até boatos de que a alta cúpula da esquadra taurina está interessada em se desfazer da escuderia — que tem se tornado uma estrutura insustentável por não cumprir o seu papel de formar pilotos para os assentos na equipe principal. Por isso, é preciso ir por partes para entender o cenário caótico da AlphaTauri.

A situação já era complicada no ano passado, mas começou a ser externada algumas semanas atrás, logo após o GP do Bahrein. Na ocasião, Franz Tost, chefe da escuderia, detonou os engenheiros responsáveis pela aerodinâmica e chegou a dizer que não confiava mais em seus funcionários, uma vez que eles prometeram um “carro fantástico e não entregaram”.

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Chefe da AlphaTauri, Franz Tost se queixou dos engenheiros da equipe: “Prometeram tudo e não entregaram nada” (Foto: Peter Fox/Getty Images/Red Bull Content Pool)

“Há problemas especialmente no lado da aerodinâmica. Há diferentes melhorias em andamento e os engenheiros me dizem que fizemos progressos. Mas não confio mais neles. Só quero ver o tempo de volta, porque é a única coisa que conta”, bradou Tost.  “Durante os meses de inverno, eles [engenheiros] me disseram ‘o carro é fantástico, fizemos um grande progresso’, então fomos ao Bahrein e não chegamos a lugar nenhum. O que devo dizer?”, lamentou o austríaco.

Como desgraça pouca é bobagem, os engenheiros voltaram a pecar quando as atualizações previstas para o GP da Austrália finalmente foram colocadas nos carros. É bem verdade que Yuki Tsunoda marcou o primeiro ponto da equipe no ano na etapa realizada em Melbourne. Mas também é preciso levar em conta que a prova foi um completo caos e que apenas 12 carros cruzaram a linha de chegada. O próprio piloto afirmou no pós-corrida que não esperava ficar entre os dez mais bem colocados.

“Tenho sentimentos mistos sobre essa corrida. Marcamos nosso primeiro ponto da temporada, o que é bom, mas, para ser honesto, dado o nosso ritmo, não esperava marcar nenhum ponto”, admitiu Tsunoda. “Considerando o quanto estávamos tendo dificuldades antes da bandeira vermelha, tanto com aquecimento de pneus quanto com acertar como fazer os pneus duros renderem, devemos ficar felizes com o resultado”, finalizou o japonês, que ocupa o 16º lugar na tabela.

Tost tem seus motivos para ficar irritado, mas externar o sentimento dessa forma é como tentar apagar fogo com gasolina, ainda mais considerando os rumores sobre o futuro do time. Antes mesmo da temporada 2023 ter início, pipocaram informações sobre possível interesse da Red Bull em vender a AlphaTauri em um futuro não muito distante. Dentre os motivos, foram destacados a falta de competitividade e os gastos insustentáveis.

Na época, Helmut Marko, consultor do time dos energéticos, falou sobre o assunto e disse que o futuro da AlphaTauri “estava nas mãos dos acionistas”, o que, de certa forma, ajudou a alimentar a narrativa. Cerca de um mês depois, o consultor deu uma nova declaração para dar uma esfriada no assunto e confirmou que o projeto seguiria em frente.

Apesar de ter conquistado o primeiro ponto na Fórmula 1 em 2023, Yuki Tsunoda se mostrou frustrado com o resultado na Austrália (Foto: Paul Crock / AFP)

“É verdade que o nono lugar da AlphaTauri no Mundial de Construtores não é o que esperamos. Isso significa que é preciso que haja alguma melhora. Também é certo que o compromisso financeiro com a AlphaTauri é grande demais, o que mostra que temos de fazer algo no que diz respeito sobre patrocínio e receita”, admitiu. “No curso desse processo, discutimos várias possibilidades, mas sempre tendo muito claramente que a AlphaTauri vai continuar na casa [com a Red Bull]. É parte importante do nosso trabalho de jovens pilotos”, disse Marko.

Mas a equipe satélite da Red Bull já não promove talentos desde pelo menos 2019, quando Alexander Albon chegou à Fórmula 1 e, posteriormente, foi alçado ao time principal. É bem verdade que Tsunoda vestiu as cores dos energéticos durante sua campanha na Fórmula 2 em 2020, mas sua relação com os taurinos é muito mais por influência da fornecedora de motores Honda do que qualquer outra coisa. A safra de pilotos do programa esteve tão ruim que Nyck de Vries, outrora piloto Mercedes, precisou ser chamado para substituir Gasly, que rumou às garagens da Alpine, após anos defendendo a caçula dos energéticos.

Isso posto, é notório que o time de Faenza vive um período sombrio e que, de fato, vem, aos poucos, perdendo seu propósito. E parte desse problema também é da dupla de pilotos – embora nem tudo dependa deles. Tsunoda, que está em seu terceiro ano na casa, se tornou o líder da equipe após a saída de Gasly.

Havia muitas dúvidas no ar a respeito do novo cargo do japonês, visto o que ele apresentou na F1 nos anos passados. Após três corridas, o nipônico até mostrou um desempenho mais sólido e arrancou elogios de Tost, que celebrou a evolução de Tsunoda e disse que ele é capaz de “tirar tudo que pode do carro”. Considerando o carro que tem, ter terminado em 11º nos dois primeiros GPs e pontuar na Austrália foi um feito digno. Mas ainda é cedo para apostar todas as fichas em um piloto que tem resultados inconstantes desde as categorias de base.

Nyck De Vries não desencantou em 2023 (Foto: Martin Keep / AFP)

Do outro lado está De Vries. Após se tornar campeão da F2 e da Fórmula E e pontuar em sua estreia pela Williams em 2022 — quando Albon precisou se ausentar do GP da Itália em decorrência de uma apendicite —, o holandês estava com a moral alta no paddock. O brilho, no entanto, está se esvaindo à medida em que a temporada avança. Embora ainda esteja se adaptando, e a AT04 não seja o melhor dos carros, o fato de ter um 14º como melhor resultado e ser constantemente superado pelo companheiro dificultam bastante as coisas. A situação fica ainda pior se levar em conta que ele não é mais um piloto jovem, já tem 28 anos de idade.

Existe muita coisa que precisa ser feita na AlphaTauri, e, para que os resultados cheguem, é inevitável uma mudança drástica na AT04. Solucionar os problemas de downforce, como citados por Tost, que deixam o carro instável nas frenagens, superaquecem os pneus traseiros e atrapalham a tração são um caminho para começar a evolução. Esse é o pontapé inicial que pode ser dado para uma possível recuperação da equipe de Faenza. Caso contrário, não existe influência de Christian Horner e Helmut Marko que segure a permanência do time na F1.

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