Análise: Mercedes é bi em ano tão forte quanto 2014 e vê só Ferrari como ameaça

Rapidamente, a Mercedes se tornou a maior potência da F1. E se 2014 já havia sido um ano excepcionalmente competitivo para a marca prateada, 2015 foi ainda mais impressionante. A equipe celebrou o bicampeonato vencendo 12 das 15 etapas disputas até aqui. Foram 13 poles e mais 690 voltas na liderança

Pela segunda vez consecutiva, a Mercedes celebrou de forma antecipada o título do Mundial de Construtores e, de novo, na Rússia, mas desta vez a festa começou somente depois da punição dada a Kimi Räikkönen por um inusitado acidente na volta final da corrida em Sóchi. Ainda assim, a taça viria antes mesmo do fim da temporada de qualquer maneira, tamanho domínio imposto novamente pelos alemães em 2015.
 
O campeonato passado já havia sido excepcional. A equipe prateada trabalhara muito bem no projeto do W05 e acertara em cheio com o novo motor V6. O conjunto se mostrou quase imbatível — ganhou 16 das 19 provas —, mas tinha um ponto fraco: a confiabilidade. Juntos, Lewis Hamilton e Nico Rosberg abandonaram em cinco oportunidades sempre por algum tipo de falha no carro ou no motor.
Lewis Hamilton festeja vitória no GP da Rússia (Foto: AP)
Só que, neste ano, a esquadra chefiada por Toto Wolff conseguiu se livrar dos problemas de resistência de seu equipamento. Passou a primeira fase ilesa de falhas. Os dois únicos abandonos até aqui, com 15 corridas disputadas, foram na Itália, quando a versão mais antiga do motor de Rosberg estourou, e em Cingapura, quando Hamilton sofreu uma perda de rendimento da unidade de energia. 
 
Fora isso, a Mercedes foi ao alto do pódio em 12 destas 15 corridas até aqui, nove vezes com o inglês e três com o alemão. São oito dobradinhas e 14 poles. Ou seja, a equipe prata venceu 80% das provas, conseguiu 53,3% dos pódios e liderou 77% das corridas.
 
Embora os números apontem para uma regularidade da Mercedes na comparação com 2014, o que chama atenção neste ano é a enorme confiabilidade e velocidade do W06, além de um desempenho muito mais dominante de Hamilton, que desde a primeira prova do ano lidera o campeonato. O inglês também foi quem mais venceu, saiu na pole e dispensou os erros. E, neste momento, está realmente muito perto de fechar o campeonato, com quatro provas para o fim. 
 
E a tendência é que a Mercedes siga no comando da F1 na próxima temporada, repetindo a história de equipes que também impuseram sua força, como a McLaren no fim dos anos 1980, a Williams nos anos de 1990 e a Ferrari nos anos 2000. Times que dominaram sem grande concorrência. O principal ponto a favor da esquadra prateada está na estabilidade das regras. Para 2016, a F1 não terá mudanças drásticas e o atual cenário do Mundial mostra que apenas um time tem potencial para tentar criar uma competição mais acirrada com os alemães. 
 
No horizonte, apenas a Ferrari aparece como eventual ameaça ao domínio prateado para o próximo ano. Na prática, a equipe italiana foi a única que impôs realmente um derrota à Mercedes desde que o time se colocou na ponta da F1 ainda em 2014. Das três vitórias de Sebastian Vettel — também único a quebrar a hegemonia dos alemães —, o triunfo em Cingapura foi o mais significativo. A equipe da montadora de Stuttgart simplesmente não conseguiu andar em Marina Bay e deixou transparecer a dificuldade que possui com os pneus mais macios da Pirelli.
 
A FERRARI

Seria virtualmente impensável prever a Ferrari como um incômodo consistente para a Mercedes neste mesmo momento da temporada passada. Claro, Sebastian Vettel iria chegar para capitanear, de dentro do cockpit, um projeto novo por inteiro, e isso não deveria preceder algo ruim. Mas a impressão de Maranello era péssima após um 2014 em que Fernando Alonso e Luca di Montezemolo batiam cabeça, Stefano Domenicali foi demitido e a experiência Marco Mattiacci fracassou como uma vela no vento. Além disso, a unidade de força era ruim em demasia, correndo atrás da Renault e seus próprios problemas.
O novo projeto, então, precisava de uma nova casa. Montezemolo saiu da presidência, assumida por Sergio Marchionne, então diretor-executivo do grupo Fiat-Chrysler. Sem Mattiacci, Maurizio Arrivabene foi quem recebeu a chefia em mãos. Nas posições de diretoria, apenas quem ficou foi James Allison, o diretor-técnico. No cockpit, Alonso se foi, Vettel chegou e Kimi Räikkönen ficou.
 
Demorou muito pouco. Na realidade, apenas alguns quilômetros dos testes de pré-temporada, para todos perceberem que o motor era bem nascido. O quão bem nascido, no entanto, seria necessário esperar a ação para saber. Logo na Austrália, ficou claro que os vermelhos estavam ao menos em par com a Williams. Com a vitória de Vettel na Malásia, era evidente que a Ferrari tinha mais carro que sua maior rival na luta pelo segundo lugar. E que podia incomodar a Mercedes também.
 
Acontece que a quatro corridas do final da temporada, Vettel está na frente de Nico Rosberg na luta pelo segundo lugar do Mundial de Pilotos. Tem o mesmo número de vitórias (3), o mesmo número de pódios (11) e sete pontos a mais. A confiabilidade é maior, também. O único abandono de Sebastian até aqui na temporada nada teve a ver com ele ou com a Ferrari, mas com a Pirelli e seu pneu extra-sensível que estourou no fim do GP da Bélgica e deixou a F1 em polvorosa com as reclamações justas e duras do tetracampeão.

Talvez a Ferrari esteja, de fato, um ano adiantada no planejamento. Até para eles mesmos parece uma grande surpresa. Basta lembrar, por exemplo, que Arrivabene começou o ano falando em duas vitórias como meta. Quando viu o potencial que tinha, aumentou para três. Vettel já venceu três e dá pinta de que pode tirar mais alguma coisa da cartola. Seria mais fácil se a Ferrari tivesse dois pilotos capazes, claro, mas neste ponto Kimi Räikkönen é o mais decepcionante do grid. O campeão mundial ganhou mais um ano de contrato para fazer sua parte, mas até agora é o elo da escuderia de Maranello que não clicou.
Festa da Mercedes pelo bicampeonato do Mundial de F1 (Foto: Mercedes)
Mas, se a equipe está um ano à frente de seu calendário, provavelmente significa que ainda tem muito a avançar. Räikkönen continua perdendo chances e dando com o rosto na terra, como ao causar uma pataquada em Sóchi e acabar com a corrida dele mesmo e a de Valtteri Bottas. Manter Räikkönen talvez seja um recado da Ferrari de que ainda é hora de desenvolver o motor e chassi, mas não competir pescoço a pescoço. No momento, não se sabe. O que se sabe é que fica bem complicado duvidar do que o atual trabalho pode carregar para o segundo ano após transformar lixo em luxo em 2015.
 
E precisa falar de Vettel? Tudo fica mais fácil quando um piloto de inteligência e habilidades fantásticas está no cockpit. 
AS OUTRAS…
 
Williams e Red Bull são as duas outras equipes que podem antecipar andar na mesma atmosfera que ao menos a Ferrari em 2016. A Renault volta, mas ainda tem problemas internos para cuidar antes de pensar em ganhar corridas e ganhar campo no grid.
 
WILLIAMS
 
O tempo já deveria ter chegado. A Williams deveria estar mais próxima da Mercedes, deveria estar acima da Ferrari e, em dois anos de bons ritmos e com uma dupla forte de pilotos, deveria ter beliscado uma vitória nesta nova fase. Mas nada disso aconteceu até aqui, e se em 2014 o time de Grove era a sensação por voltar a ser relevante, a sensação em 2015 é de que está um ano atrasada na evolução. 
 
Na chuva e onde é necessário muito downforce, o time segue abaixo da crítica; os erros absurdos [como colocar compostos diferentes de pneus ao mesmo tempo no carro de Bottas na Bélgica] e a abordagem ultra-conservadora [como demorar a chamar Felipe Massa aos boxes quando ele lidera uma prova] evidenciam que se trata de um time com teto um palmo menor que as rivais.
A Williams ainda não é capaz de brigar diretamente por vitórias na F1 (Foto: Williams F1)
RED BULL
 
Essa é uma grande interrogação. Não é exatamente segredo que o chassi da Red Bull é bom. A unidade de força da Renault é, hoje, um desastre que mantém o time ancorado. Para 2016, por enquanto, o panorama é pior: nem motor há. Se Ferrari ou Mercedes aceitarem fazer acordo e fornecer motores de primeira linha, a Red Bull está de volta na conversa. Com Daniel Ricciardo capitaneando e Daniil Kvyat atrás – talvez, dada as condições corretas, um melhor número dois que Rosberg e Räikkönen – a equipe rubro-taurina tem o necessário atrás do volante para ser ao menos um incômodo.
 
Em qualquer outra situação, seja motores de segunda linha ou, obviamente, abandono, a Red Bull está fora desta lista.

NADA NOVO DE NOVO

Mesmo com possíveis rivais aumentando o poder de fogo e à espreita, a Mercedes pode procurar certo refúgio na história. Na F1 recente, a as grandes dinastias só caem por terra quando algo drástico acontece. Mudanças de regras bruscas, como com a Red Bull em 2014, pneus caindo por terra, como a Ferrari em 2005, fim da parceria com a fornecedora de motores, como a Williams em 1998. Com a normalidade com que 2016 chega, nada indica que a Mercedes possa perder espaço. Melhor que a encomenda para Lewis Hamilton.

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