Aston Martin se recusa a amadurecer e vive balé da mão inquieta de Lawrence Stroll

Desde a esperada transição para Aston Martin, equipe se recusa a viver continuidade vive em reconstrução que nunca termina, fruto da abordagem do homem que paga os salários

Quando Lawrence Stroll adquiriu a antiga Force India, então em grave crise financeira, em meados de 2018, e transformou na Racing Point, a promessa de investimento e virada histórica sempre esteve em riste. O desejo de se firmar como força superior se engrandeceu a partir do momento em que o magnata canadense se tornou dono também da Aston Martin e anunciou que a equipe de F1 passaria a encampar batismo e história da companhia inglesa. O tempo passou e a Aston Martin continua em constante estado de corrida em esteira, onde o fim nunca se aproxima.

Na última sexta-feira, a Aston Martin anunciou a troca na chefia da equipe. Mike Krack sai de cena após o 2024 difícil do time inglês e dá o cargo a Andy Cowell, ex-Mercedes e veterano da Cosworth, meses atrás contratado para ser CEO, numa posição evidentemente de supervisão a todas as operações do grupo.

Assim, a Aston Martin terá o terceiro chefe de equipe desde 2021, quando passou a ser Aston Martin com nomes e cores. Otmar Szafnauer foi o chefe por anos na era Force India, quando a continuidade dava frutos mesmo em meio ao absoluto caos financeiro. Não durou mais que um ano e saiu dizendo que a liberdade de tomar decisões fora picotada pela abordagem de Lawrence Stroll.

Krack foi trazido como nome de peso vindo com experiência da BMW e do grupo Volkswagen em janeiro de 2022 e esteve à frente da equipe no sucesso inesperado de 2023. Não resistiu ao fracasso tão surpreendente quanto do ano seguinte. Agora, vira diretor de pista, sabe-se lá o que esse cargo representa.

Mike Krack, agora ex-chefe da Aston Martin (Foto: Aston Martin)

O próprio Cowell é o segundo CEO da era Aston Martin, substituindo Martin Whitmarsh, trazido em 2021 para ser quem acertaria as estruturas da casa nos anos seguintes. Embora a saída do antigo chefão da McLaren tenha sido pintada com verniz de decisão mútua, trata-se de mais uma indicação de como as coisas são tratadas a portas fechadas em Silverstone.

A rotação nos principais postos não se restringe apenas a essas. Dan Fallows, contratado a peso de ouro junto à Red Bull para ser diretor-técnico e destacado como grande maestro do sucesso de 2023, foi outro a sofrer uma rasteira e deixar a chefia técnica no fim do ano passado. Para que Fallows fosse liberado pela Red Bull, a Aston Martin precisou ir à justiça e, mesmo assim, fez questão de não dar voto de confiança algum. Bob Bell e Enrico Cardile, trazido com destaque da Ferrari, agora tocam a pasta. Que, claro, também terá o projetista Adrian Newey a partir deste ano.

O leitor pode argumentar que se trata de uma postura de um dono disposto a cortar na carne, sem deixar profissionais que não estão aptos a representar a equipe causarem prejuízos. Mas se todos os profissionais que você mesmo escolheu para as posições mais importantes da sua companhia se provam, em dois ou três anos, escolhas ruins, o que isso diz sobre você? O que isso diz sobre Lawrence Stroll?

Todas essas mudanças, chegadas e saídas, durante o período em que a modernização, revolução, até, da fábrica estava em curso. O projeto, iniciado anos atrás, finalmente termina nos próximos meses, com direito a túnel de vento. Tudo para ser utilizado visando 2026, quando a Honda chega como fornecedora parceira e exclusiva de motores. Mas vai chegar com novatos – dentro da equipe – em quase todas as áreas principais.

Lance Stroll é o único a salvo na Aston Martin (Foto: AFP)

A absoluta ausência de continuidade para quem toma decisões bate cabeça com a paciência infinita com Lance Stroll no cockpit. O filho do dono da equipe é o sexto piloto com mais corridas no grid atual da F1 graças ao dois anos de Williams em que Lawrence praticamente arrendou a companhia e os sete anos completas como filho do dono na Racing Point/Aston Martin. Período durante o que o canadense conseguiu mostrar apenas que é um piloto medíocre que jamais deveria ser a 10 anos de F1, sobretudo tanto tempo num carro competitivo.

É bom recordar daquilo que Szafnauer, único que falou sobre a saída até hoje, explicou sobre a decisão. “Um amigo meu me disse: a Igreja Católica só tem um papa. E quando você tem dois papas, não dá certo. Então acho que era hora de sair e deixar a Aston Martin para seu único papa“, falou.

Lawrence Stroll não esconde que é um dono que gosta de participar no dia a dia. A questão é que os investimentos de médio e longo prazo em infraestrutura pensados a partir de 2018 não coincidem com a pressa para os resultados. Sem continuidade não há sucesso perene, não há norte a ser seguido. Há apenas a aleatoriedade dos acontecimentos seguintes. É possível até ver algum sucesso desta forma, mas será sempre curto e insustentável.

A inquietude irresponsável de Stroll torna a realidade da Aston Martin uma grande corrida em esteira: sempre em velocidade, sempre fazendo esforço, mas nunca mais próxima do destino final. A equipe corre sem sair do lugar e vive num balé regido pelo humor de um ricaço. Apesar de Fernando Alonso, a Aston Martin se converte num time opaco. A equipe mais mimada da F1, representada pelo dono perdido e pelo filho dele, o dono da bola. Um desperdício de história.

Fórmula 1 está de férias. A próxima atividade é exatamente a sessão de testes coletivos de pré-temporada, marcada para os dias 26, 27 e 28 de fevereiro, no Bahrein. A temporada 2025 começa com o GP da Austrália, entre os dias 14 e 16 de março.

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