Como a Red Bull poderia ter ajudado Verstappen a brigar com Hamilton na Hungria

A Mercedes precisou lançar mão de uma estratégia alternativa e ousada para bater Max Verstappen e a Red Bull no GP da Hungria. Surpreendida, a equipe austríaca acabou não respondendo à jogada da rival e deixou o holandês vulnerável. Mas havia um jeito de manter o #33 na disputa pela vitória

A Fórmula 1 largou para o GP da Hungria em condições de pista seca e temperaturas amenas, muito diferente do cenário de caos de Hockenheim, sete dias antes. Na pole, Max Verstappen saltou bem, trancando a porta para cima dos carros da Mercedes, que tiveram um leve confronto na sequência das curvas 1, 2 e 3, até que Lewis Hamilton superou de vez o companheiro de time, Valtteri Bottas, e saiu a caça do líder. O ritmo que ambos imprimiram a partir desse ponto foi alucinante. E se estendeu durante toda a corrida, o que tornou a etapa húngara uma das mais tensas e cerebrais das últimas temporadas
 
Largando com os pneus médios/amarelos ainda do Q2 de sábado, Verstappen e Hamilton pareciam na mesma estratégia. Ou seja, apenas uma parada para a troca pelos compostos duros. Analisando após o fim da prova, a simplicidade da tática contradiz com a complexa batalha travada pelos dois representantes de Red Bull e Mercedes ao longo das 70 voltas.
A largada do GP da Hungria (Foto: AFP)

Na primeira parte da corrida, os dois ponteiros em nenhum momento estiveram separados por mais de 2s. E o que impressionou foi que ambos imprimiram um ritmo forte, constante e rigorosamente igual. No começo do stint, os dois andavam na casa de 1min21s8, 1min21s7, 1min21s6, 1min21s5. A diferença de performance entre eles mantinha-se como um reloginho, em 0s1 a favor de um e de outro. 

 
Por isso, Hamilton ora estava muito colado, ora mais distante. E Max não tinha qualquer chance de abrir vantagem. O pentacampeão  tentava se preservar ao mesmo tempo em que seguia na pressão ao jovem rival. Já o #33 não demorou para se ver em apuros com um desgaste maior do que do adversário. “Estou perdendo aderência”, alertava pelo rádio. “Os meus pneus estão ótimos ainda”, gabava-se o #44.
 
Mais atrás, as duas Ferrari se arrastavam e vinham entre 0s7 e 1s mais lentas que os dois. Ou seja, estava completamente fora da briga. 
O quadro acima é a projeção que a Pirelli fez para o uso dos pneus durante o GP da Hungria. A fabricante alertava que a tática de corrida mais veloz seria a de uma única parada realmente (Foto: Pirelli)

Lá na frente, ambos sustentaram essa performance até 19ª passagem, quando os tempos começaram a piorar, chegando a 1min22s6, 1min22s8. Com um ritmo tão parecido, a diferença na pista variava entre 1s e 1s3.  Era hora de a Red Bull tomar uma decisão diante da insistência do inglês e do desgaste dos pneus de Verstappen. E não teve jeito: o piloto precisou realmente antecipar o pit-stop.

 
Max parou na volta 25, pelo menos cinco giros antes do que previra a Pirelli no sábado. Sem nenhuma surpresa, Max voltou à pista com os compostos brancos/duros, ainda na segunda colocação, tamanha era a distância para a Ferrari. Hamilton, por outro lado, estendeu seu stint até o fim da 31ª passagem, já dentro do previsto pela fornecedora italiana. Como o rival, Lewis também foi buscar os pneus duros, reforçando também a ideia de um único pit. E saíra com a vantagem de ter um jogo seis voltas mais novo. 
 
Quando o #44 ganhou o circuito novamente, a diferença para o líder era de quase 6s. A princípio, a impressão que ficou foi de que a Mercedes havia deixado seu piloto tempo demais na pista, uma vez que a desvantagem antes do pit-stop era de só 1s. Só que o ritmo que Hamilton impôs neste momento foi assustador. Em apenas três voltas, o britânico estava colado em Max – é bem verdade que o piloto da Red Bull pegou muito tráfego também.
O quadro acima mostra a quantidade de jogos de pneus novos e usados que cada piloto tinha para o GP da Hungria (Foto: Pirelli)
Começava ali uma briga de gato e rato entre os dois. Tirando proveito dos pneus novinhos, o pentacampeão foi para cima do líder, que se defendia muito bem em uma pista travada e de difícil ultrapassagem. Ainda assim, Lewis não aliviava e, numa tentativa de passar de qualquer jeito, acabou até fora do traçado. Quando percebeu que a manobra seria arriscada de demais e que o fato de andar tão perto do holandês já começava a cobrar seu preço, Hamilton decidiu recuar, mesmo andando mais rápido que o adversário, que conseguia, insolentemente, manter uma distância segura e constante. O tempo de volta de Max girava entre 1min20s2 e 1min20s4, enquanto o inglês andava em 1min20s1 – já no modo ‘hammertime’. 
 
Então foi aí que a Mercedes teve uma sacada inteligente.
 
Como não havia não ninguém por perto e a disputa se resumia a Verstappen, James Vowles, o estrategista da equipe prata, tomou uma decisão arriscada e que não dependia só do time. A performance na pista era fundamental, mas Hamilton precisava de pneus melhores. 
 
Depois de 16 voltas sem nenhuma chance de superar Verstappen, Lewis foi chamado aos boxes no fim da 48ª passagem da prova. A equipe escolheu um jogo de pneus amarelos usados e mandou o piloto de volta. A diferença que era de 1s5 pulou para pouco mais de 20s. Restavam 21 voltas para o final, então a missão do britânico era a de tirar 1s ou mais por volta e, ainda assim, seria apertado.
 
A verdade é que o segundo pit-stop de Hamilton surpreendeu os energéticos. Mas a princípio parecia um tiro no pé, porque a tática de Max continuava a de uma parada só. Além disso, logo que o #44 voltou, os tempos de volta não foram tão vistosos. Na verdade, Verstappen respondia bem ao desempenho do inglês. Em dado momento, os dois viraram tempos na casa de 1min19s8, com uma variação de 0s1 a 0s2 entre eles. Era realmente impressionante a performance do holandês, que chegou espantar Lewis, ao saber que o rival seguia andando muito forte e quase no mesmo tempo. 
O quadro acima revela a estratégia que cada equipe teve ao longo do GP da Hungria (Foto: Pirelli)

O caso é que a performance não durou tanto quanto era preciso. Max havia poupado tudo que conseguira antes e usou tudo depois, quando ficou claro que a Red Bull não tinha entendido muito bem a jogada da concorrência. E aí Verstappen se viu vulnerável a partir do 58º giro, momento em que Hamilton passou a andar mais de 2s melhor, na casa de 1min18s, fazendo cair vertiginosamente a diferença volta a volta. Tanto que conseguiu a aproximação com quatro giros para o fim e ultrapassou o holandês sem qualquer luta. 

 
O #33 ainda pararia mais uma vez para pegar os pneus vermelhos. O desempenho na última volta lhe rendeu o melhor giro da corrida e o ponto extra. Pouco diante do que ele fez em Hungaroring. 
 
Mas o que a Red Bull poderia ter feito?

A única chance da equipe austríaca, levando em consideração o ritmo dos dois ao longo da corrida tanto com os compostos médios como com os duros, era ter chamando Max para os boxes imediatamente após a jogada da Mercedes. Ou seja, no fim do giro 49. E mudado os pneus para os médios – o holandês ainda tinha um jogo novo. A resposta aos adversários não só deixaria o piloto em condição de igualdade, como abriria a oportunidade de atacar. 

 
E faz sentido se observar que a esquadra das bebidas energéticas foi a que menos perdeu tempo nos boxes. O último pit de Verstappen, por exemplo, levou 21s164 no total. Como efeito de comparação, Hamilton precisou de 22s8 em sua segunda parada. Quer dizer, levando em conta a perda no pit-lane e o fato de que Lewis voltara 20s5 distante do holandês após a segunda visita às garagens, a Red Bull teria conseguido devolver Max à pista ligeiramente atrás do inglês.
 
Portanto, se a reação tivesse sido imediata, Max, é verdade, perderia a primeira colocação, mas estaria em uma posição de brigar pela vitória com as mesmas armas do pentacampeão, já que tinha também um ritmo fortísimo. E não seria uma presa fácil como a acabou se tornando.

 BRIEFING | GP da Hungria de F1 

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