Opinião GP: F1 fecha 1ª metade melhor do que começou. E tem espaço pra mais

A Fórmula 1 deu uma bela guinada na temporada 2019. Depois de um início avassalador da Mercedes e da impressão de que Lewis Hamilton poderia vencer todas as corridas, o fim de junho se apresentou magnífico com um salto de qualidade da Red Bull e de uma sequência de pistas de verdade, que proporcionaram corridas sensacionais, com doses de dramas e polêmicas. Mas ainda há espaço para mais

DEPOIS DO EXTRAORDINÁRIO GP da Alemanha, a pergunta que ficou era se a Fórmula 1 conseguiria entregar um espetáculo tão bom quanto ou melhor na etapa da Hungria, que fechou, neste domingo (4), a primeira metade da temporada 2019. Questão capciosa, uma vez que o circuito de Hungaroring é muito particular e de difícil ultrapassagem. Sem a ajuda de uma providencial chuva ou do acaso, a chance de o público acompanhar uma corrida de tirar o fôlego era realmente pequena. Mas a F1 está em uma fase tão estelar que, sim, a prova húngara foi muito, muito boa, disputada e decidida por uma mistura de risco, estratégia e performance. E mais que isso, proporcionou um embate direto entre os dois melhores pilotos do grid na atualidade.

Não dá para reclamar.

 
O fato é que as últimas quatro corridas da temporada mudaram o campeonato. Para melhor. É claro que a Mercedes e Lewis Hamilton carregam ainda uma enorme vantagem, construída ainda nas provas iniciais – foram oito vitórias nas oito primeiras etapas, sendo duas de Valtteri Bottas e seis de Hamilton. Mas calma, as notícias são boas, diante do peculiar cenário que se tem agora. Para entender, é preciso voltar um pouquinho no tempo.
Lewis Hamilton venceu oito das 12 etapas até o momento (Foto: Mercedes)

A larga liderança do inglês foi construída também devido a alguns fatores principais: os vacilos e as oscilações da Ferrari, principalmente, e a inconstância do próprio companheiro de equipe. Neste tempo, o piloto do carro #44 também se apresentou de maneira impecável, calculando riscos, mas também indo para cima quando foi necessário. Absorveu as poucas derrotas e não cometeu erros, pavimentando muito bem o caminho rumo ao sexto título mundial. 

 
Assim, quando a categoria deixou a França, bombardeada por críticas e ainda envolvida na polêmica punição a Sebastian Vettel no Canadá, Hamilton sustentava na tabela de classificação uma vantagem de confortáveis 36 pontos para o colega Bottas. Vettel era terceiro, 76 tentos atrás. Ou seja, não havia qualquer ameaça. Então, a impressão que dava era que o inglês realmente poderia vencer todas as etapas restantes, tamanho domínio. 
 
Foi então que a Red Bull surgiu como um bálsamo e com ela uma sequência decisiva de circuitos de verdade no calendário. Tudo temperado com embates eletrizantes, rivalidades antigas revividas, além dos caprichos do clima. A Áustria foi o lugar que abriu o campeonato para essa nova e excelente realidade. O calor e a altitude expuseram o ponto fraco da Mercedes: o superaquecimento. Enquanto isso, a Ferrari até que se deu bem em um circuito de alta velocidade e quente. Mas quem surpreendeu mesmo foi a Red Bull: a nova asa dianteira neutralizou os problemas com os pneus, e o cada vez mais sensacional Max Verstappen aproveitou a chance, imprimindo um ritmo absurdo para vencer, sem antes ter um belo confronto com o antigo adversário Charles Leclerc, que liderava desde o início. As lotadas arquibancadas quase vieram abaixo em cor laranja. No pódio, nenhum representante dos prateados. 
 
O Red Bull Ring viu uma corrida movimentada e cheia de alternativas, exatamente o oposto do que a F1 vivera sete dias antes em Paul Ricard. A corrida austríaca seria apenas um evento isolado? Uma exceção? Os críticos mais ferrenhos se apressaram – e até com certa razão – em responder que sim. Não poderiam estar mais errados. De alguma forma, o Mundial havia se reinventado quando partiu para Silverstone, outro traçado segue a linha de boas corridas. Correndo diante de um autódromo cheio, Hamilton se recuperou da atuação controlada da Áustria e, lançando mão de uma estratégia certeira, venceu a prova caseira. Ao mesmo tempo, a corrida teve safety-car, disputas em todo o pelotão e um novo duelo entre Charles e Max, que foi mais um remake da clássica briga entre René Arnoux e Gilles Villeneuve 40 anos antes. A F1 não poderia pedir por mais.
Teve de tudo no GP da Alemanha (Foto: Mercedes)

Em seguida, chegou a vez da Alemanha. O clima já havia interferido decisivamente na corrida da Áustria, porque afetou a Mercedes, mas Red Bull e Ferrari trabalharam bem. Em Silverstone, no GP anterior, sob temperatura mais amenas, os alemães se recuperaram, os carros vermelhos voaram, porque têm um motor incrível de reta, enquanto os austríacos comprovaram o salto de técnico dado na prova inglesa. Só que choveu muito em Hockenheim e todas os pontos fracos e fortes acabaram neutralizados. Foi uma questão de se manter na pista, assumir riscos e não errar. Mas a corrida viu mais que isso: acompanhou a ascensão definitiva de Verstappen, a redenção de Vettel e a confirmação de que Hamilton e a Mercedes são humanos. Eles também erram. O pódio foi tão divertido que viu Daniil Kvyat em terceiro. Lance Stroll foi o quarto colocado! Com esse cenário, não foi difícil se apaixonar pela etapa alemã. E decretá-la como uma das melhores dos últimos anos. 

 
Por isso, a expectativa pela Hungria era enorme. E aí, em uma Hungaroring de difícil ultrapassagem, a F1 se superou e viu uma nova corrida de encher os olhos. Uma disputa real, com performances reais. A verdade é que a Red Bull, mais até do que o efeito de boas pistas, fez diferença para essa sequência tão especial.
 
A esquadra dos energéticos se tornou a segunda força da temporada, conseguindo andar bem em todos os tipos de traçado. E hoje encara a Mercedes de frente. Além de sanar os pontos fracos, como o desempenho de pneus, a equipe também já se coloca forte em classificação, outrora o calcanhar de Aquiles do grupo chefiado por Christian Horner. Some-se a isso esse incrível Verstappen. O holandês é quase um tema a parte e destoa
 
Todo o exército laranja tem razão em segui-lo por toda a parte. Max vem tirando tudo que dá desse RB15, cresceu enormemente em termos de desempenho e leitura de corrida. Erra pouquíssimo e não teme os medalhões do grid. Nas últimas quatro etapas, inclusive, marcou mais pontos que Hamilton: 93 x 88. No topo disso, está o equilíbrio entre o extremo arrojo em pista com a maturidade fora dela. Quando Vettel o abalroou em Silverstone, o jovem aceitou as desculpas e encerrou a história ali. Não quis entrar em polêmica por conta da disputa com Leclerc e, neste último domingo, entendeu a derrota e os erros da Red Bull. A Verstappen só resta mesmo a chance de brigar por um título. Pronto, ele já está. Mas isso não deve demorar. 
Sebastian Vettel viveu uma fase terrível junto com a Ferrari, mas parece reagir (Foto: Ferrari)

De outro lado, há a Ferrari. A equipe italiana ainda oscila demais. O desempenho da SF90 ainda varia muito de circuito para circuito, e isso se reflete nos resultados da tabela de classificação. O carro tem ótima velocidade reta, mas sofre enormemente com a falta de downforce e com os pneus. A diferença de 1 minuto na Hungria não foi mero acaso. Mas essa não é a realidade da hierarquia de forças. O carro vermelho tem mais a oferecer, especialmente nas provas vindouras.

Ainda que a larga vantagem de Hamilton parece inalcançável, o Mundial foi capaz de criar maneiras, ainda que tortas, de gerar expectativas realistas. Há um equilíbrio de forças, sim. A Mercedes ainda é ligeiramente mais completa que suas adversárias, mas a vida não está tão fácil.
 
Ao fim dessas quatro próximas semanas de férias, a maior das categorias vai desembarcar na bela e veloz Spa-Francorchamps, a italiana Monza vem na sequência. Dois circuitos dos mais tradicionais e que casam muito bem com essa Ferrari, que deve, enfim, se juntar a Hamilton e Verstappen. E isso já é muito além do que se previa depois das primeiras corridas de 2019.   

A F1, portanto, deixa a primeira parte do campeonato extasiada por essa sequência magnífica de etapas, verdadeiramente otimista e em paz com seus fãs.

O Opinião GP é o editorial do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana.

 BRIEFING | GP da Hungria de F1 

A Fórmula 1 retorna daqui quatro semanas, em Spa-Francorchamps, para o GP da Bélgica. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO E EM TEMPO REAL

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