F1 2023 sai de férias após show de Verstappen e Red Bull. E deixa todo resto no divã

Enquanto a concorrência se perdeu em erros e trapalhadas, a Red Bull seguiu do ponto onde parou em 2022 e partiu para uma temporada altamente dominante e irrepreensível, comandada por um maestro genial. Max Verstappen exerce em 2023 uma hegemonia poucas vezes vista na história e que o colocou em campeonato à parte

“Nunca pensamos que seria possível ganhar as primeiras 12 corridas, então por que não agora, devo dizer.” A frase é do consultor da Red Bull, Helmut Marko, ao ser perguntado sobre a chance de a equipe levar as dez provas restantes de 2023. E quer saber? Ele tem razão.

Pouquíssimas vezes na história da Fórmula 1 se viu alguém tão supremo quanto Max Verstappen. E aqui é importante estender essa sensação aos taurinos, claro. Até porque é difícil entender o peso de cada parte em uma temporada tão absurda quanto a de 2023. O holandês entendeu perfeitamente a obra-prima que pilota, enquanto o time conhece bem o que faz de seu astro o melhor. O resultado é um impressionante acúmulo de troféus, de números nunca antes alcançados e algumas doses generosas de humilhação impostas aos adversários, que ainda tentam encontrar justificativas para as frequentes derrotas. Portanto, esse é um campeonato sem briga na ponta, mas o conjunto excelente nada tem a ver com isso.

O caso é que desde a pré-temporada estava claro que a esquadra dos energéticos começaria 2023 do ponto onde havia parado na temporada passada. Ou seja, o alto do pódio. O que ninguém esperava era a forma como isso aconteceria. A Red Bull soube manter o suspense ao ‘lançar’ um carro apenas revisado no dia de uma pomposa apresentação na cidade de Nova York, em que também revelou ao mundo o acordo com a Ford para 2026. E foi só no Bahrein que a F1 teve a chance de conhecer, de fato, o novo projeto encabeçado pelo mago Adrian Newey. O RB19 é um passo largo à frente em relação ao seu ótimo antecessor, pois surgiu com soluções mais avançadas, especialmente no desenho dos sidepods, lateral, asas e difusor.

A Ford aproveitou o lançamento da Red Bull para anunciar o retorno à F1 (Foto: AFP)

Embora tenha perdido um pouco da incrível velocidade de reta do primeiro ano do regulamento do efeito-solo, o modelo taurino apresentou características ainda mais importantes, como uma maior eficiência aerodinâmica e um assertivo cuidado com os pneus. Verstappen se adaptou rapidamente ao carro e não encontrou problemas para tirar quem quer que fosse de seu caminho. A performance pura da combinação entre o RB19 e o bicampeão assombrou o Mundial e, mesmo ali em Sakhir, ficou evidente que seria a força a ser batida.

E mais um detalhe chamou a atenção nesse primeiro momento do campeonato: Sergio Pérez. Ratificando também o potencial do carro taurino, o mexicano viveu um início de temporada dos mais fortes de sua carreira. Tanto que chegou a acreditar que uma briga pelo título seria possível.

Verstappen venceu a primeira prova do ano com uma diferença de 38s para o primeiro carro não taurino. Fernando Alonso completou aquele pódio. Depois, Pérez garantiu a vitória na Arábia Saudita, tendo cruzado a linha de chegada 5s5 à frente do holandês, que dominava o fim de semana até que uma falha da transmissão levou à perda de potência, abandono e eliminação no Q2. O piloto partiu apenas de 15º, mas impôs o costumeiro domínio para escalar o pelotão. Aí Max levou o tumultuado GP da Austrália, mas acabou derrotado pelo colega de equipe no Azerbaijão.

Naquele fim de semana, que viu a estreia de um novo formato de corrida sprint, o dono do carro #11 esteve impecável. Apesar da inesperada pole de Charles Leclerc e da Ferrari, Pérez se impôs e não deu chances a Verstappen. A diferença entre ambos era de apenas seis pontos. Pareceu naquele momento que, com um carro tão superior, a briga poderia realmente se concentrar entre os dois companheiros de Red Bull.

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Max Verstappen celebra vitória contundente em Miami (Foto: Red Bull Content Pool)

Porém, Max não permitiu. E anulou o colega de garagem. Inclusive, também poucas vezes na história se viu um massacre como o que Verstappen impôs a Pérez. Nesse sentido, o GP de Miami se tornou um marco. Foi lá que o holandês reestabeleceu a história e tratou de findar qualquer esperança de disputa. Foi impactante, porque o bicampeão largou apenas de nono, enquanto o rival saíra da pole. O piloto #1 abriu caminho rapidamente, enfrentou até alguma resistente de Pérez, mas foi soberano, para voltar a vencer. A partir daí, o líder do campeonato se tornou absoluto e passou a viver um Mundial à parte. O mexicano, por sua vez, sucumbiu à pressão e não soube aproveitar sequer seus pontos fortes, como os circuitos de rua. Cometeu erros aos montes, enfrentou eliminações frequentes em classificação e só foi capaz de retornar a um ponto mais competitivo na Bélgica, sete corridas após a derrota na Flórida.

Alheio a isso, Verstappen emplacou impressionantes oito vitórias em sequência (Miami, Mônaco, Espanha, Canadá, Áustria, Inglaterra, Hungria e Bélgica, incluindo as sprints nesse período, que foram realizadas no Red Bull Ring e em Spa-Francorchamps. E foram triunfos em todo o tipo de situação. Largando da pole, longe dela, no piso molhado, em diferentes estratégias, temperaturas, pneus e até mesmo potenciais rivais. A performance rendeu recordes importantes, número que nem mesmo a poderosa Mercedes foi capaz em seus anos de hegemonia. A marca que mais chamou a atenção foi mesmo o registro de vitórias consecutivas: os taurinos bateram as conquistas da icônica McLaren de 1988. Tudo graças não só a um carro excepcional, mas também a um piloto fora de série.

E como lição dessa primeira parte de temporada ainda há essa busca por excelência e domínio. Ao longo das 12 etapas iniciais, a Red Bull tratou suas atualizações com cautela. Foram pequenas mudanças, detalhes aqui e ali, além de correções corrida a corrida. Isso se explica por duas razões: os limites do teto orçamentário e as restrições impostas aos energéticos em relação ao uso do túnel de vento — em decorrência das violações dos gastos em 2021. Ainda assim, foi possível manter as rivais devidamente afastadas em grande parte do tempo. Até o GP da Inglaterra, décima etapa da temporada.

Em Silverstone, a McLaren promoveu um enorme salto de qualidade e chegou a ameaçar Verstappen — a margem da vitória foi reduzida a apenas 3s7. A Mercedes tentou pegar carona, inclusive. No entanto, os taurinos agiram rápido. Prepararam um pacote de atualizações certeiro para a Hungria. O RB19 surgiu com novos sidepods, lateral e asas. Uma inovação que a fez retomar a supremacia do início do ano e terminar essa metade inicial com uma vantagem imperial sobre as rivais. A diferença entre Max e os oponentes nas duas etapas seguintes voltaram para a habitual casa de mais de 30s.

Max Verstappen venceu na Hungria e estabeleceu uma nova marca para a Red Bull na Fórmula 1 (Foto: Red Bull Content Pool)

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Dessa forma, Verstappen soma incríveis 314 pontos após essa primeira metade de ano, contra 189 de Pérez (2º), 149 de Alonso (3º) e 148 de Lewis Hamilton (4º). Entre os construtores, a diferença é ainda mais impactante: 503 tentos contra 247 da Mercedes, a vice-líder.

Portanto, é preciso também falar dessas supostas rivais da Red Bull. Certamente, as férias do verão europeu serão de muita análise no divã, porque ninguém foi capaz de apresentar alguma resistência real e consistente. Não que as adversárias tenham ficado apenas paradas, observando. Pelo contrário, houve um trabalho impaciente nas fábricas de Mercedes, Ferrari, Aston Martin, McLaren. O problema é todas partiram de erros graves e, antes mesmo de traçar planos para bater a Red Bull, precisaram olhar para si e entender as falhas.

Todas tiveram de recomeçar seus projetos, mudar conceitos e tentar algo novo. Nem sempre deu certo, e isso é uma das razões para o abismo técnico entre a líder do Mundial e o restante do grid. Também é necessário dizer que o regulamento é ainda muito complexo e cheio de armadilhas, uma vez que mudou tudo aquilo que os times conheciam anteriormente. Os taurinos entenderam de cara, mas também levaram tempo para explorar todo o potencial, mas nada isenta as demais, que ainda batem cabeça.

Até por isso o cenário atual se tornou tão maluco que, se Verstappen e a Red Bull estabeleceram uma liga própria, a F1 2023 se viu reduzida a uma patética briga pelo ‘posto de melhor do resto’. E essa disputa do avesso acabou monopolizando as atenções, porque a cada domingo um novo time surgia mais forte — mas não suficiente para encarar os energéticos.

Alonso foi um dos grandes nomes da primeira parte de temporada da F1 2023 (Foto: Aston Martin)

No começo, a Aston Martin foi a equipe que despontou na F1 ‘A’, sendo uma enorme surpresa. Alonso empilhou pódios e se reinventou, uma vez mais. Mais tarde, no Azerbaijão, a Ferrari deu sinal de vida, mas logo foi atropelada pelo carro verdinho novamente. Aí a Mercedes decidiu enterrar de vez o W14 do zeropod e revisou todo o projeto. Inicialmente, deu pinta de que havia, enfim, encontrado um rumo na Espanha, quando colocou sua dupla no pódio, mas foi algo apenas instantâneo.

Em seguida, os italianos apareceram momentaneamente na Áustria e ressurgiram na Bélgica, fechando a primeira parte de temporada em uma posição menos perturbadora, mas o bem da cabeça dos principais nomes do time de Maranello. Mas quem deu garantias mesmo de saber o que está fazendo foi a McLaren, em desempenhos contundentes na Inglaterra e na Hungria.

Mesmo agora, com o fim da primeira metade do Mundial, ainda é difícil de dizer quem realmente vai ocupar esse posto até o fim do ano. Com a natural mudança de foco para 2024, essa briga mais frenética deve aquietar e tornar mais preguiçosa, o que também vai conduzir os taurinos a um comando da temporada ainda maior, os aproximando, sim, de uma realidade inédita na F1: a de vencer todas as corridas de um campeonato.

Fórmula 1 entrou de férias e retorna somente no fim de agosto, entre os dias 25 e 27, com o GP da Holanda, em Zandvoort, 12ª etapa da temporada 2023. E o GRANDE PRÊMIO acompanha tudo.

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