Russell pega carona em evolução da Mercedes e mira posição de liderança na F1 2025
Perder Lewis Hamilton para uma das principais rivais é um dano irreparável nas pretensões futuras da Mercedes na Fórmula 1. No entanto, George Russell acompanhou o crescimento da equipe na temporada 2024 e mostrou, sim, que pode ser uma pedra no sapato dos rivais e se tornar peça importante na engrenagem do time de Toto Wolff em 2025
O anúncio da mudança de Lewis Hamilton para a Ferrari em 2025, feito no início de fevereiro, deu a George Russell a oportunidade de sair da sombra do heptacampeão e finalmente mostrar que é capaz de liderar a Mercedes pelos próximos anos. A responsabilidade é das maiores, mas desde que chegou ao time de Brackley, em 2022, após passar três anos amadurecendo na Williams, o #63 não se intimidou nem mesmo na disputa contra o companheiro de equipe, o maior vencedor da história da Fórmula 1, e provou que ainda tem muito a entregar na classe rainha.
Escolhido para ocupar a vaga deixada por Valtteri Bottas há pouco mais de dois anos, quando o atual regulamento entrou em vigor na categoria, o britânico chegou ao time comandado por Toto Wolff em um dos momentos mais difíceis. A bordo do ousado W13, que apresentou um conceito inovador ao aparecer na pré-temporada sem os sidepods no formato ‘tradicional’, Russell sofreu com o porpoising ao longo de todo o ano e teve dificuldades para lidar com Ferrari e Red Bull, embora tenha terminado no top-5 em 19 das 22 corridas disputadas e vencido o GP de São Paulo, encerrando o campeonato 35 de pontos à frente de Hamilton. A consistência surpreendeu logo no primeiro ano em uma equipe de ponta.
Em 2023, Lewis conseguiu lidar de maneira melhor com a instabilidade das Flechas de Prata, que apresentaram um novo conceito para o W14 a partir do GP de Mônaco, e sobressaiu em relação ao companheiro de equipe. Oitavo colocado no Mundial de Pilotos e 59 tentos atrás do #44, Russell viveu uma temporada muito abaixo das expectativas e precisou enfrentar algumas críticas em relação ao desempenho, ainda que tenham sido poucos os que questionaram o talento e potencial do jovem. A confiança era tanta que a Mercedes renovou o contrato de George, garantindo-o na equipe até o fim de 2025.
Ainda que esperasse contar com Hamilton ao seu lado até o encerramento do próximo ano, a notícia sobre a saída do colega de garagem possivelmente trouxe um sorriso ao rosto de Russell. Acostumado a ser diretamente comparado ao heptacampeão, o piloto de 26 anos agora será exposto a um novo desafio e terá de liderar a Mercedes no caminho de recuperação pela qual a mesma está trilhando, de olho na mudança das regras que acontece em 2026. Mas será que o #63 tem cacife o suficiente para tomar as rédeas de uma octacampeã mundial?
Acompanhando o ritmo do W15, o britânico começou a temporada em baixa, não conseguindo acompanhar o ritmo das Red Bull, Ferrari e McLaren. A principal disputa ao longo das primeiras rodadas do certame parecia ser realmente contra as Aston Martin, principalmente a de Fernando Alonso, que acabou sendo culpado pelo forte acidente de George durante a disputa acirrada entre eles no GP da Austrália, no fim de março.
Nos momentos mais difíceis da Mercedes, porém, Russell decepcionou ao não se posicionar de maneira mais vocal contra as falhas da equipe e a incapacidade da mesma em conseguir evoluir o bólido prateado — foi sempre Hamilton quem apontou o dedo, mostrando ser realmente o líder da equipe, mesmo estando de malas prontas para uma rival. Claro que isso, por si só, não é o único definidor da capacidade ou incapacidade de alguém em assumir o posto de liderança, mas demonstra insatisfação e comprometimento na busca por mudanças.
Mas as coisas começaram a mudar a partir do GP de Mônaco. Apesar de ter terminado apenas em quinto, as atualizações aplicadas pela escuderia da estrela de três pontas deram indicativos fortes de que finalmente poderia acontecer uma mudança na performance do W15, com o próprio piloto elogiando o progresso feito. Duas semanas depois, em Montreal, o próximo passo foi dado: George conquistou a pole-position — com o mesmo tempo de Verstappen — e um pódio no dia seguinte, terminando em terceiro em meio às condições adversas do clima no circuito Gilles Villeneuve.
Daquele momento em diante, o britânico colecionou uma sequência de bons resultados, apesar de ter enfrentado alguns infortúnios no meio do caminho. Depois do quarto lugar na Espanha e da vitória na Áustria, quando tirou proveito do acidente entre Lando e Max, Russell foi do céu ao inferno no GP da Inglaterra. Em Silverstone, fez a festa da torcida inglesa e garantiu a terceira pole da carreira, mas foi vítima de um problema de resfriamento no carro e não viu a bandeira quadriculada no dia seguinte.
A falta de combustível no W15 durante a classificação do GP da Hungria jogou fora qualquer possibilidade do #63 conseguir um bom resultado no Hungaroring, embora ele tenha se recuperado muito bem para cruzar a linha de chegada em oitavo. Sete dias depois, no GP da Bélgica, Russell viveu a maior reviravolta da carreira. Largando de sexto, o inglês foi inteligente e ousado ao apostar na estratégia de única parada e, no fim, heroico para segurar o ímpeto de Hamilton nos giros finais para vencer. A alegria, entretanto, durou pouco tempo, já que duas horas depois do fim da etapa em Spa-Francorchamps, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) anunciou a desclassificação do piloto por infringir o peso mínimo estabelecido em regulamento. A Mercedes assumiu a responsabilidade, claro.
Como resultado das consecutivas infelicidades, Russell somou apenas cinco pontos nas últimas três corridas, ficando na oitava posição do Mundial de Pilotos, com 116 pontos. Curiosamente, o ritmo demonstrado nas etapas foi muito bom, em especial no circuito belga, onde além de provar o quão talentoso é ao volante de um monoposto, também deixou bem claro que possui uma ótima leitura de corrida e entendimento do carro. Vale lembrar que o time de estrategistas da Mercedes chegou a questioná-lo sobre a decisão de parar apenas uma vez, mas o britânico assumiu o risco.
É interessante perceber como a postura de George foi diferente em meio aos diferentes cenários vivenciados pelas Flechas de Prata em 2024: passou de um piloto apático, sem muitas cobranças, mas apenas sendo levado pelo momento difícil da equipe no início da temporada para alguém de destaque, que toma decisões importantes e não abre a porta para os rivais nas disputas de pista — isso, na verdade, foi algo que ele nunca fez. Com um carro competitivo em mãos, Russell é, sim, uma pedra no sapato dos adversários.
A má fase da Mercedes nos últimos dois anos pode ter mascarado o verdadeiro potencial do britânico e, assim, ter feito muita gente duvidar de que ele realmente pode entregar mais resultado. Mas se avaliarmos somente as suas próprias qualidades, não há dúvidas de que Russell tem total competência para isso, pois já provou ser um adversário complicado até para Hamilton, embora fique claro que um amadurecimento natural ainda aconteceria caso assumisse tal posição de comando.
Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
LEIA TAMBÉM: Sainz vive adeus à Ferrari sem se abalar com incerteza e mostra melhor versão de si
Mas ainda há um outro fator que deve ser considerado: quem será seu companheiro de equipe no próximo ano? Caso a “primeira opção” da equipe acabe realmente sendo a escolha de Wolff, Andrea Kimi Antonelli receberá mais uma promoção e chegará à Fórmula 1 com apenas 18 anos de idade, inexperiente e carecendo de um certo tempo de adaptação. Neste caso, sem dúvida, toda a responsabilidade de liderar a equipe e conquistar bons resultados incidirá sobre o #63. Mesmo se considerarmos a possibilidade de um ajuste mais rápido e, desta forma, resultados positivos por parte do italiano logo no início, é Russell quem terá de se impor.
Por outro lado — embora muito menos provável, mas ainda uma possibilidade —, Verstappen também é objeto de desejo da Mercedes. Se por alguma razão o tricampeão decidir se tornar o substituto de Lewis, então George realmente terá um problema maior. Ainda que esteja na equipe há mais tempo, o que vai contar serão os resultados na pista. Além disso, claro, há o fato de que o neerlandês possui um currículo muito mais recheado no momento, o que lhe permite chegar em qualquer equipe e não ter de obedecer hierarquias — algo, inclusive, que não está na lista de características do #1.
Independentemente do que o futuro lhe reserva, Russell já provou que tem, sim, totais condições de ser altamente competitivo e se colocar como peça fundamental na engrenagem da Mercedes, servindo de importante ajuda para os próximos anos. É hora do britânico aproveitar o ímpeto da equipe alemã na temporada e se colocar em uma boa posição para 2025.
A Fórmula 1 agora faz a tradicional pausa para as férias de verão na Europa e volta de 23 a 25 de agosto em Zandvoort, para a disputa do GP dos Países Baixos.
🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.