Governador do RJ confirma ‘carta-lobby’ de chefão da F1, mas nega pressão por autódromo

Governador em exercício do Rio de Janeiro, Cláudio Castro confirmou que recebeu a carta enviada por Chase Carey para acelerar a liberação da construção do autódromo em Deodoro, mas prometeu não interferir

O governador em exercício do Rio de Janeiro garantiu que não vai fazer pressão política para a liberação da construção do autódromo do Rio de Janeiro, na região do Camboatá, em Deodoro. Nesta quarta-feira (7), durante um encontro com representantes do setor da construção civil, no Palácio Guanabara, Cláudio Castro confirmou o recebimento da ‘carta-lobby’ enviada por Chase Carey, chefão da F1, alertando para que o governante liberasse as licenças ambientais necessárias para o avanço da obra de construção, mas explicou que não vai interferir no processo, prometendo decisões técnicas.

Na semana passada, o GRANDE PRÊMIO teve acesso ao conteúdo e à carta em sua íntegra, revelado por Américo Teixeira Jr., do Diário Motorsport, parceiro do GP. Trata-se, na prática, de um lobby exercido pelo CEO da F1 em um assunto político e ambiental de um país que não é o seu nem o da categoria.

“Não fiz nenhuma pressão política lá. Os técnicos estão vendo e se for aprovado na técnica, com certeza, é um grande ganho para o estado. É o nosso interesse trazer um evento como a Fórmula 1. Mas eles precisam vencer as questões técnicas. E se vencerem as questões técnicas, serão extremamente bem-vindos aqui. A adesão política é de trazer, sim, mas caso passe pela técnica. Se não passar…”, disse Castro em coletiva no evento.

Terreno do Autódromo de Deodoro (Foto: Reprodução)

Na carta enviada em 14 de setembro ao governador, Carey disse que escrevia “para informar que fechamos acordo com a Rio Motorsports para sediar, organizar e promover eventos de Fórmula 1 no Rio de Janeiro”.

Há, porém, condicionantes. São eles que atestam o lobby. “Esses acordos estão prontos para execução e anúncio pela Fórmula 1 assim que todas as licenças necessárias forem emitidas pelas autoridades competentes, INEA/CECA no Brasil/Rio de Janeiro”, destacou o mandatário da F1.

Carta enviada por Chase Carey ao governador do Rio de Janeiro pede liberação das licenças ambientais (Foto: Reprodução)

O INEA é o Instituto Estadual do Meio Ambiente, órgão do governo estadual do Rio, e é responsável pela proteção e conservação do meio ambiente. Seus engenheiros estão a par da avaliação do terreno em Deodoro e são eles quem hão de assinar ou vetar a obra do autódromo.

Carey, assim, escreveu a missiva para pressionar Castro, que ocupa a vaga deixada por Wilson Witzel, afastado por suspeita de participcação em esquema de corrupção e, no fim das contas, fazer valer o acordo com a Rio Motorsports. “Estamos ansiosos por um futuro animador no Brasil”, encerrou o dirigente.

Na condição de CEO, Carey recebe bônus financeiros pelos contratos celebrados pela Fórmula 1. O norte-americano vai dar lugar ao italiano Stefano Domenicali na chefia da Fórmula 1 a partir de janeiro de 2021.

Chase Carey fez lobby pelo autódromo em Deodoro (Foto: Rodrigo Berton/Grande Prêmio)

Entenda o caso

O processo de construção do autódromo na região militar é alvo de suspeitas pelo envolvimento da citada Rio Motorsports, de José Antonio Soares Pereira Júnior, que virou JR Pereira para evitar expor os problemas judiciais que enfrenta desde que uma de suas empresas, a Crown Processamento de Dados, acumulou dívidas superiores a R$ 25 milhões à União.

A Rio Motorsports, através do próprio JR Pereira e de uma das companhias vertentes da Crown, acabou participando da regulação do processo de licitação da obra, algo que qualquer ente público proíbe. Ainda, nunca houve comprovação, por parte da Rio Motorsports, da origem dos mais de R$ 800 milhões inicialmente previstos para a obra — na região da floresta do Camboatá, área de Mata Atlântica.

A promessa da Rio Motorsports era tirar o GP do Brasil de Interlagos já a partir de 2021. A proposta ganhou apoio do presidente Jair Bolsonaro, que, em 24 de junho do ano passado, disse que era “99% certo” que a corrida passaria a ser realizada no RJ. O projeto do novo autódromo de Deodoro segue parado.

Os últimos meses foram marcados por intensa batalha judicial envolvendo o licenciamento do autódromo. É que ainda em maio a juíza Neusa Regina Larsen de Alvarenga Leite, da 14ª Vara da Fazenda Pública, suspendeu a audiência pública para apresentação do EIA/RIMA [Relatório de Impacto do Meio Ambiente] referente à tentativa de construção da pista na região do Camboatá.

Meses e liminares depois, em meio a uma pandemia de coronavírus, o prefeito Marcelo Crivella pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) a realização da audiência pública virtual. O governante obteve êxito.

Em agosto, na audiência pública virtual que durou mais de dez horas e atravessou a madrugada, o Ministério Público Federal e o Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro concluíram que o projeto de autódromo de Deodoro é ilegal por conta do impacto ambiental em área de mata atlântica, além do processo de licitação irregular.

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