Guerra de pneus é boa para F1? Dirigentes discordam e temem por desigualdade técnica ainda maior

Pirelli já se posicionou contra no passado, mas, mais recentemente, não descartou completamente encarar uma guerra de pneus na F1, como parte do pacote para melhorar o espetáculo, mas fez ressalvas quanto aos custos. Já as equipes não são a favor. Quem lançou a ideia nessa semana, aproveitando todo o furor por mudanças, foi Fernando Alonso, que viveu intensamente a disputa entre Michelin e Bridgestone especialmente durante seus dois campeonatos mundiais

google_ad_client = “ca-pub-6830925722933424”; google_ad_slot = “2258117790”; google_ad_width = 300; google_ad_height = 600;

A F1 vive uma fase em que só se fala em mudanças. Altamente preocupada com o futuro, a maior das categorias tenta reunir medidas que impulsionem a audiência e que lotem de novo os autódromos pelo mundo. Na última semana, as discussões para tornar o espetáculo melhor e mais atraente aos olhos dos fãs continuaram em Mônaco, na esteira das propostas acordadas pelas principais equipes, FIA e FOM, na reunião do Grupo de Estratégia. As ideias, entretanto, ainda encontram certa resistência e nada é unânime. Por isso, sempre há a brecha para novos pitacos.

E quem deu o pitaco da vez foi Fernando Alonso. O espanhol da McLaren se mostrou favorável a quase tudo que foi apresentado pelos principais dirigentes, especialmente o reabastecimento. Mas acha mesmo que o ideal para o Mundial agora é ter ao lado da Pirelli uma segunda fornecedora de pneus. Na real, o bicampeão quer reviver o tipo de disputa que a Michelin e Bridgestone protagonizaram no início dos anos 2000 — durante a conquista de seus dois campeonatos, especialmente.

“Eu corri alguns anos com a briga entre Michelin e Bridgestone, depois apenas com os pneus Bridgestone. As diferenças foram brutais. Os pneus de 2006 eram incríveis. Ambas as companhias estavam empenhadas em fazer o melhor e tivemos compostos sensacionais. No ano seguinte, só com a Bridgestone, acho que eles relaxaram um pouco e a qualidade caiu”, explicou o piloto de 33 anos.

Fernando Alonso gostaria de reviver a guerra dos pneus na F1 (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)

O ponto destacado por Alonso é exatamente a qualidade do pneu. Para ele, mais importante do que ter uma escolha livre dos compostos, com uma fornecedora, é ter a chance de correr com o melhor produto possível. E possibilitar o desenvolvimento da borracha. “Uma competição entre fabricantes de pneus iria ajudar muito a F1. Todo mundo estaria novamente buscando o melhor desenvolvimento possível”, completou.

A Pirelli, que atualmente é a fornecedora única da borracha no Mundial, já se posicionou contra algumas vezes anteriormente, usando como justificativa os altos custos, além da falta de interesse das equipes em reviver a disputa entre duas fabricantes.

Porém, no último fim de semana, ao questionado sobre ter de dividir o paddock com uma concorrente, Paul Hembery, diretor de competições da marca italiana, adotou um discurso menos inflexível. O contrato da fábrica de Milão com a F1 acaba no fim de 2016. “Nós não fazemos as regras para a F1”, disse o inglês aos jornalistas em Monte Carlo, na última sexta-feira.

“Nós estamos envolvidos em 250 campeonatos, sendo que em 90 deles há uma competição aberta, então tudo depende do que o esporte deseja e e aí, mais tarde, precisamos entender o regulamento, quais serão as implicações em termos de custos e tudo mais, antes de responder se realmente queremos esse tipo de coisa ou não. Quer dizer, só poderemos responder algo quando tivermos todos os parâmetros em mãos”, completou o dirigente britânico.

Paul Hembery é diretor de competições da Pirelli (Foto: Andrew Hone/Pirelli)

A mesma pergunta foi feita aos chefes de equipe da F1. E os representantes de Mercedes, Red Bull, Toro Rosso e Force India foram unânimes e todos se colocaram contra uma eventual guerra de pneus. Os custos foram apontados também como parte da justificativa, mas o que preocupa mesmo os dirigentes é a diferença técnica entre as equipes. Para eles, ter duas fabricantes de pneus pode aumentar ainda mais o abismo que há atualmente entre as equipes de ponta e as médias e pequenas, ou ainda entre as esquadras de fábrica e os times independentes do grid.

E as opiniões mais enfáticas vieram justamente de duas das mais importantes equipes independentes do grid. O chefe da Toro Rosso, Franz Tost, se mostrou um crítico ferrenho de uma disputa entre fornecedoras de pneus e lembrou a guerra mais recente entre a Michelin e Bridgestone. Para ele, sempre haverá algum tipo de privilégio a determinados times e que isso pode enfraquecer a disputa e afastar os fãs.

“Eu espero que não tenhamos uma nova guerra de pneus, isto é, nenhuma outra fornecedora, porque significa que duas equipes terão bons pneus e o resto terá só o lixo. Era assim antes, quando a Michelin estava na F1 e trabalhava com a Renault, por isso Fernando Alonso tem boas memórias dessa época. A Bridgestone estava com a Ferrari e tiveram muito sucesso com Michael. Agora se isso volta, nós teremos a mesma história: duas fabricantes de pneus, duas equipes que recebem os melhores pneus e o resto que fica com aquilo que ninguém quer”, explicou o austríaco, ao ouvir a opinião de Alonso.

“Isso que dizer que a competição vai seguir por um caminho totalmente diferente. Aí nós teríamos, ao invés da F1 dos motores, a F1 dos pneus. Uma vez que as unidades agora já estão estabelecidas, nós vamos abrir uma brecha para um novo problema”, alertou o chefe de Max Verstappen e Carlos Sainz.

Chefe Red Bull, Horner compartilhou da opinião do colega e ressaltou que uma disputa entre as fabricantes ainda poderia impedir o desenvolvimento de equipes independentes.

“Acho que Franz resumiu esplendidamente o caso, explicando como uma marca de pneus fornece maior igualdade a todos. Acho que em tempos de guerra de pneus você precisa obviamente aumentar os esforços, e isso tem também um impacto nos custos porque você tem de desenvolver o carro para um pneu específico, por isso acho que um dos pontos de positivo de se ter uma fornecedora única é que isso dá a possibilidade de um time independente com a Red Bull atingir o sucesso”, declarou o britânico aos repórteres também em Mônaco.

Toto Wolff, da Mercedes, e Bob Fernley, da Force India, concordaram que promover o retorno de um embate entre fábricas não é bom para a F1 e pode significar um passo atrás na tentativa de tornar o esporte mais atrativo. “Acho que, olhando para um lado mais positivo,se há algo que a F1 fez bem foi a opção por uma única fornecedora de pneus e, por isso, acho que não devemos voltar”, acrescentou Fernley.

A possível (única) candidata

A FIA já abriu o processo de seleção para escolha da próxima fornecedora única de pneus. O novo acordo vai valer para as temporadas de 2017, 2018 e 2019. A Pirelli, cujo contrato se encerra no fim do ano que vem, já confirmou inscrição.

As fornecedoras interessadas em entregar pneus à F1 entre 2017 e 2019 devem apresentar suas inscrições até 17 de junho, com o processo seletivo tendo início exatamente um dia depois. E foi exatamente por conta desse processo que a Pirelli entende que não haverá uma disputa entre fabricantes na F1, ao menos não nos próximos anos.

E voltou a bater na tecla de que as equipes não querem e que a marca apenas faz aquilo que manda o regulamento. "O edital saiu e diz que será um fornecedor até 2019, e isso reflete o desejo das equipes. Ou seja, os times querem manter a situação como está. Então, não tem muito mais a declarar", disse Hembery.

Michelin impõe condições para voltar (Foto: Paul Gilham/Getty Images)

Alternativa francesa?

A Michelin está fora da F1 desde 2006, quando deixou o Mundial por discordar da política da FIA em aceitar apenas um único fornecedor de pneus. Só que a marca francesa não desistiu completamente da categoria. Na verdade, até mantém interesse em voltar, mas dentro de algumas condições bem específicas.

“Por que não? Nós estamos totalmente abertos a um regresso, mas em algumas condições específicas. A F1 deve alterar seu regulamento técnico”, declarou Pascal Couasnon, diretor de esportes a motor da empresa gaulesa, em entrevista à revista italiana ‘Autosprint’.

Para retornar, a fabricante não espera ser apenas uma ferramenta para oferecer "mais ou menos espetáculo". Além disso, deseja a adoção dos pneus de 18 polegadas, os mesmos que já fornece para a F-E.  A Michelin também não vê nada contra regressar como fornecedora única, mas continua mantendo a preferência por trabalhar em meio à concorrência.

Ao todo, em 215 GPs disputados, a Michelin conquistou 102 vitórias e 111 poles, ajudando Fernando Alonso a conquistar seus dois títulos no Mundial de F1, em 2005 e 2006. Aliás, o início dos anos 2000 foi marcado por grande batalha entre a fábrica francesa e a Bridgestone — a mais recente disputa entre fábricas de pneus na F1.

A disputa entre as duas empresas começou em 2001, quando a Michelin voltou à F1, depois de um afastamento de 16 anos. E os melhores anos vieram com os dois campeonatos de Alonso. Antes do embate entre Michelin e Bridgestone. A marca japonesa também enfrentara a concorrência da Goodyear, que durou apenas as temporadas 1997 e 1998. A empresa norte-americana disputou seu ultimo GP na F1 no Japão em 98.

Nos últimos anos, a fabricante francesa é a única, além da Pirelli, obviamente, a manifestar o desejo de competir na F1. A Bridgestone, que se retirou do campeonato em 2010, nunca mais falou em voltar.

Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.