GUIA 2020: F1 flerta com novo formato, adia revolução e traz poucas mudanças nas regras

Em razão da pandemia, a ampla mudança na Fórmula 1 foi adiada de 2021 para 2022. Para a temporada que se inicia neste fim de semana, poucas são as mudanças no regulamento. Houve até tentativa de alteração no formato do fim de semana de algumas provas, mas a Mercedes barrou

Durante boa parte do ano passado e do começo de 2020, a Fórmula 1 trabalhou com ‘um olho no peixe e outro no gato’. Ou seja, ao mesmo tempo em que parte do foco das equipes esteve no desenvolvimento e nos testes com o carro para a nova temporada, outra parte já estava voltada para 2021 com a revolução nos regulamentos técnico, desportivo e financeiro que se avizinhava. Até que veio a pandemia do novo coronavírus e mudou todo o cenário. Era preciso um plano de emergência para, sobretudo, conter custos e evitar a debandada de times do Mundial. De certa forma, isso foi feito: a ampla transformação da Fórmula 1 ficou para 2022. Os chassis desenvolvidos para a temporada desse ano foram congelados até o ano que vem.

No fim das contas, para 2020, mesmo com a propagada estabilidade dos regulamentos técnico e esportivo — cenário que deixou os carros deste ano praticamente idênticos aos de 2019 —, há pequenas e pontuais alterações no livro de regras. As mudanças mais visíveis vão estar mesmo nos bastidores, na esteira de novos protocolos de segurança para proteger as pessoas envolvidas e que seja possível a realização da temporada no momento em que se busca conter o avanço do Covid-19, mesmo com a pandemia longe de cessar.

Durante o período de paralisação, a Fórmula 1 lançou uma ideia: testar um novo formato de fim de semana para as segundas corridas que vão ser disputadas num mesmo país, casos da Áustria (GP da Estíria), no dia 12 de julho, e da Inglaterra (GP do Aniversário de 70 anos), em 9 de agosto. A proposta da F1 era a de avaliar como seria a categoria com grid invertido para as corridas de classificação, no sábado, e o resultado dessas provas para definir a ordem de largada para a disputa que vale, no domingo. Só que uma eventual mudança só iria pra frente com a anuência de todas as equipes. E a Mercedes foi contra, o que representou o veto à ideia.

Detalhe do projeto de carro da F1 que seria para 2021. Mas ficou para 2022 (Foto: Fórmula 1)

A nova realidade da Fórmula 1

Não se sabe por quanto tempo, mas pelos próximos meses, pelo menos, a Fórmula 1 (e o mundo, de maneira geral), vai ter de se adaptar a uma nova realidade para poder sobreviver. A temporada, originalmente marcada para começar em 15 de março com o GP da Austrália, foi interrompida por conta dos casos crescentes de coronavírus e ficou em xeque. A FIA (Federação Internacional de Automobilismo), em conjunto com a F1, determinou um amplo período de 63 dias de férias para deixar os funcionários das equipes em casa e também conter custos. Times cortaram salários e, em casos mais extremos, como na McLaren, demitiram funcionários. A Fórmula 1 encarou um cenário sem precedentes.

Até mesmo para sobreviver, era preciso regressar, desde que a pandemia estivesse num cenário menos letal, como hoje se desenha na Europa. Assim, a F1 definiu o começo da temporada, o mais tardio da sua história, com o GP da Áustria neste fim de semana. De forma também inédita, a categoria só divulgou, até o começo desta semana, as datas das oito primeiras corridas do campeonato, sendo que duas delas vão ser ‘dobradinhas’ num mesmo país: 5 e 12 de julho no Red Bull Ring, na Áustria (que na segunda prova vai levar o nome de GP da Estíria); 2 e 9 de agosto, em Silverstone, na Inglaterra. A segunda prova na antiga base aérea britânica vai ter o nome incomum de GP do 70º Aniversário da F1.

E como garantir a segurança de pilotos, equipes e todos os envolvidos diretamente com a Fórmula 1 nessas corridas? Ross Brawn, diretor-esportivo da categoria, trouxe à baila a ideia de promover uma ‘biosfera’ à parte. Segundo o protocolo que já está em vigor, testes PCR para a detecção do novo coronavírus vão ser aplicados a cada cinco dias em todos os credenciados que vão adentrar às dependências do Red Bull Ring no fim de semana. As provas, obviamente, vão ser todas sem a presença do público.

Até o número de jornalistas credenciados vai ser reduzido, com a F1 planejando um revezamento para oferecer espaço para mais profissionais cobrirem a categoria. Entrevistas coletivas com os pilotos? Só por meio de videoconferência. E a cerimônia do pódio, o grand-finale de cada corrida, não vai existir neste primeiro momento. A ideia da categoria é que a celebração aconteça na linha de chegada, com os três primeiros alinhando lado a lado. Claro, respeitando o distanciamento social.

É assim, em uma nova realidade outrora inimaginável, que a Fórmula 1 tenta ficar longe do novo coronavírus e acelera no seu retorno às pistas.

Mais economia, menos testes

Antes da eclosão da pandemia, Barcelona recebeu a sessão de pré-temporada em fevereiro. Foram só seis dias de atividades, contra oito dos últimos anos. A ampla mudança no calendário, contudo, fez a programação original de testes durante a temporada, que compreendia sessões em maio, em Barcelona, e em agosto, em Hungaroring, cair por terra.

O chamado teste de novatos em Abu Dhabi, que reúne jovens pilotos ao lado de alguns titulares e acontece dias após o fim da temporada, teria duração de dois dias. Mas sua realização também é incerta diante da nova realidade da Fórmula 1.

A já distante pré-temporada da F1 durou somente seis dias em 2020 (Foto: Williams)

O resgate do simbolismo

2020 marca o retorno da bandeira quadriculada física como símbolo do encerramento de uma corrida do Mundial de F1. No ano passado, o sinal de bandeirada emitido no painel eletrônico de led, e não a bandeira de pano, era o que determinava o desfecho de um GP. Contudo, uma confusão na penúltima volta do GP do Japão, quando o dispositivo de iluminação foi acionado de forma equivocada, fez com que a corrida em Suzuka tivesse uma volta a menos do que o determinado oficialmente.

Assim, Sergio Pérez, que se envolveu em incidente com Pierre Gasly e abandonou na última volta, acabou sendo beneficiado pelo erro e concluiu a corrida na nona colocação.

Uma hora a mais de folga

Em meio a uma temporada tão atípica, mas que se desenha como bastante desgastante em razão das corridas realizadas em sequência neste segundo semestre, a Fórmula 1 abre a temporada 2020 com algumas regras que possam aliviar um pouco o trabalho dos profissionais envolvidos na preparação e o reparo dos carros.

Não que fosse muito, mas para a nova temporada há uma mudança no regulamento do toque de recolher, dispositivo que impede que os mecânicos e engenheiros trabalhem muitas horas nos boxes das equipes. Nas quintas e sextas-feiras de fim de semana de GP, os profissionais tiveram este toque de recolher ampliado de oito para nove horas, sendo proibidos de trabalhar nos carros ou de sequer estar dentro dos limites do circuito neste período.

As equipes, contudo, podem quebrar este toque de recolher duas vezes durante a temporada sem sofrer punição.


O retorno da barbatana

Talvez a única grande mudança visual determinada para 2020 é a inclusão de uma pequena placa na tampa do motor dos carros de F1.A chamada ‘barbatana de tubarão’ vai exercer pequeno impacto aerodinâmico nos veículos, sendo mais importante para ampliar o espaço para estampar os números dos pilotos, facilitando assim a identificação por parte dos fãs.

A pequena barbatana é marca dos carros da F1 em 2020 (Foto: McLaren)


Punições mais brandas

A temporada passada já foi uma amostra do lema ‘corra e deixe correr’ adotado pela FIA com a filosofia de uma F1 menos punitiva aos pilotos. 2020 segue a mesma linha e traz a determinação do relaxamento de punições em dois quesitos em específico: na pesagem e nas queimas de largada.

Atualmente, quando um piloto não visualiza a ordem para a pesagem em um fim de semana de GP, este sofre uma punição pesada e tem de largar dos boxes. A partir deste ano, os comissários de pista podem aplicar punições menos rígidas, definidas de maneira subjetiva.

O mesmo vale, por exemplo, para a queima de largada, que até 2019 era punida com drive-through ou 10s de stop-and-go. Agora, os comissários têm a chance de aplicar sanções mais brandas, como o acréscimo de 5s ou 10s no tempo total de corrida.

Fim da asa furadeira?

A FIA determinou uma alteração na composição da asa dianteira. Com a ideia de evitar os furos de pneu quando ocorre um contato entre os carros, o regulamento diz que agora os primeiros 50 mm de placa dianteira da asa — endplates — vão ter de ser feitos somente de fibra de carbono.

Todos os elementos metálicos da asa dianteira só podem estar a 30 mm de distância do endplate.

O incidente que mudou a forma de FIA punir (Foto: Mercedes)

Mais energia, menos punições

Face ao aumento de corridas para a temporada, a Renault fez um pedido que foi acatado pela FIA para 2020. A entidade determinou o aumento do limite de novos MGU-K, sistema de recuperação de energia cinética a partir dos freios para fornecer potência suplementar ao motor.

Os pilotos vão poder usar três MGU-K por temporada sem sofrer punição, mesmo número do chamado ICE (motor de combustão interna), do turbocompressor e do MGU-H. A expectativa é que aconteçam menos punições de grid neste ano. A título de comparação, 20 pilotos foram punidos por ultrapassarem o limite de uso do MGU-K na temporada passada.

Contudo, componentes do motor como bateria e centralina seguem limitados a dois por piloto ao longo do campeonato.

Dutos de freio de fabricação própria

A partir de 2020, as equipes passam a ser obrigadas a fabricar os próprios dutos de freio e não podem mais comprar de outras equipes e tampouco de uma empresa especializada.

O piloto terá maior controle na hora da largada (Foto: Reprodução/TV)

Maior influência dos pilotos

Os artistas do espetáculo vão ter mais controle sobre suas largadas. 90% do torque do motor vai ser controlado diretamente pelo piloto ao acionar a embreagem.

No entanto, algumas das propostas da FIA para 2020, como banir auxílios aos pilotos ao retirar o sistema anti-stall — que impede o motor do carro de apagar nas largadas —, a telemetria do pit para o carro e da determinação de procedimentos vindas dos boxes, não foram em frente depois de sofrer críticas dos competidores.

Combustível onde tem de estar

Até o ano passado, o regulamento técnico da F1 permitia que 2 L de gasolina circulasse pelo carro fora do tanque de combustível. Entretanto, para 2020, este número foi reduzido para somente 250 ml, sendo que toda a quantidade deve servir para o “funcionamento normal do motor”. A ideia da FIA é evitar que as equipes tirem proveito do artifício para melhorar a performance do carro ao ter muito combustível fora do tanque.

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