O primeiro passo para o Liberty Media se descolar da imagem do antigo gestor foi tornar a F1 mais acessível nas redes sociais. Parece brincadeira que um esporte apaixonante e de caráter global tinha uma participação muito tímida nas mídias, e isso era fruto justamente da administração Bernie Ecclestone. Era o primeiro passo para tornar o esporte mais próximo e também mais simpático perante os fãs, procurando deixar no passado a imagem antiga de sisudez.
O menino Thomas mostrou uma faceta mais humana da F1 (Foto: Reprodução)
Havia também uma grande expectativa sobre o fim de semana do GP dos Estados Unidos, casa do Liberty Media. Foi, de fato, um evento tipicamente americano. Antes, a F1 se vestiu de rosa para conscientizar o público ao redor do mundo sobre a importância de prevenção ao câncer de mama. Pilotos, equipes e a própria F1 como um todo se mobilizaram para uma questão jamais abordada antes.
E minutos antes da largada da corrida no Texas, o que se viu foi uma apresentação dos pilotos digna de Super Bowl, com direito inclusive à narração do lendário Michael Buffer, hino norte-americano, os jatos cruzando o céu de Austin e tudo mais. Um espetáculo à parte. Houve até quem não gostasse, mas o espetáculo pré-corrida foi mais uma forma de o Liberty Media mostrar aos fãs a cara de quem manda no negócio.
Em meio às farpas entre Chase Carey e Bernie Ecclestone ao longo de toda a temporada, o Liberty Media investiu muito na imagem do esporte, com foco claro em dar uma nova cara à F1.
Foi diante desta premissa que a nova gestão da categoria anunciou a mudança no logo. Depois de quase 25 anos, a icônica marca foi repaginada. O gesto, claro, ganhou a oposição de muita gente, sobretudo dos mais tradicionalistas. Mas não adiantou espernear, criticar os novos donos ou os caminhos escolhidos pelo Liberty Media. A nova F1, ao menos no que diz respeito à imagem, está aí e veio para ficar.
GUIA F1 2018
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Liberty Media e Bernie Ecclestone vivem trocando farpas nos bastidores da F1 (Foto: AFP)
O fato é que dá para afirmar, sem sombra de dúvidas, que a F1 evoluiu muito nesse espaço de pouco mais de um ano e tornou-se mais moderna, atual e, sim, mais próxima dos seus fãs. Pode-se dizer que o primeiro objetivo do Liberty Media à frente da categoria foi atingido. Mas a missão dos norte-americanos vai bem além do que se chama de ‘perfumaria’. E aí, o buraco é muito mais embaixo.
A guerra agora é com as poderosas da F1
A F1 está prestes a abrir a temporada 2018, mas os olhos de muitos dirigentes já estão voltados para 2021. Não apenas em razão da adoção do novo regulamento de motores, que ainda está em processo de concepção, mas sim pelo novo Pacto da Concórdia. O atual documento que rege as relações comerciais entre as equipes, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) vence em 2020, mas sobretudo as poderosas Ferrari e Mercedes estão com o alerta ligado, por vários motivos.
Tal cenário manteria a disparidade de forças na F1. E a Ferrari, por sua vez, tem ainda um benefício extra: os US$ 100 milhões recebidos a mais por ano por ser a equipe mais longeva do grid. Um valor que os novos donos do esporte e também a FIA, capitaneada por Jean Todt, desejam ao menos diminuir.
A grita, obviamente, começou há algum tempo, desde quando o Liberty Media começou a mostrar o desejo em ter uma F1 mais igualitária. Longe de ser um discurso novo, a Ferrari vem falando grosso, e o presidente Sergio Marchionne repetiu a fala do seu antecessor, Luca di Montezemolo, e ameaça tirar a lendária equipe de campo
se “a FIA não fizer as coisas certas”, como frisou Ecclestone, muito ligado a Maranello. A equipe começa a flertar até com a Indy, num gesto que remete a 1986, quando o icônico Enzo Ferrari chegou até a construir um carro para correr nas 500 Milhas de Indianápolis. Uma manobra política para manter seus interesses intactos na F1.
Sobre “as coisas certas”, o significado maior disso é um só: que os privilégios sejam mantidos.
A união das poderosas é a grande pedra no sapato dos donos do Mundial, que vai ter de mostrar muito mais que discurso para encontrar uma saída política para que seja possível acomodar os interesses das grandes e, ao mesmo tempo, tornar a categoria mais justa. Algo que, no momento, parece quase impossível de alcançar, como qualquer tipo de consenso sobre o esporte como um todo.
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A própria F1 mostrou recentemente e de forma muito simplista que um acordo, por mais banal que seja, é impossível. Na primeira semana de pré-temporada, muito atrapalhada pelo extremo frio em Barcelona, as equipes buscaram alternativas para garantir ao menos mais um dia de testes e evitar que o estrago fosse maior. Mas para que a ideia fosse em frente, era preciso unanimidade. Claro que não aconteceu, e a F1 acabou pagando pela própria vaidade e interesses de uma ou outra ao invés do bem comum.
Não é exagero dizer que os próximos meses vão ser desafiadores para a F1 no campo político, com muitas trocas de acusações e ameaças. Vai ser, definitivamente, a grande prova de fogo do Liberty Media, que terá de provar toda sua capacidade de articulação para fazer valer seu maior interesse:
“Queremos o que é certo para os fãs”.
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