Guia da F1 2018: Em primeiro ano de nova era, Liberty Media mexe na imagem da F1. Agora, enfrenta desafio político

A ‘Era Liberty Media’ iniciou sua história ao marcar terreno e mostrar grandes diferenças em relação à gestão de Bernie Ecclestone. A principal preocupação foi com a imagem da F1. Até o tradicional logo foi mudado e outras tantas mudanças estão previstas para tornar o esporte mais atraente e midiático. Foi só o primeiro passo na direção de outro, muito mais difícil, até porque envolve dinheiro e o orgulho das maiores equipes do grid. A Ferrari em especial

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A F1 viveu em 2017 o primeiro ano de uma nova era: a ‘Era Liberty Media’. Depois de 40 anos sendo chefiada com mãos de ferro por Bernie Ecclestone, o dirigente saiu de cena para ocupar a função decorativa de presidente honorário da F1, dando lugar à nova gestão liderada por Chase Carey. Com mais foco na interação com os fãs e em novidades para mudar a cara da categoria, os norte-americanos conseguiram trazer ao público, em várias variáveis, a impressão de uma F1 mais humana e afável. Para isso, mexeu — e pretende mexer muito, ainda, na forma como apresenta a categoria ao mundo. Mas a grande missão do Liberty vai muito além. E aí está seu grande desafio.

 
O primeiro passo para o Liberty Media se descolar da imagem do antigo gestor foi tornar a F1 mais acessível nas redes sociais. Parece brincadeira que um esporte apaixonante e de caráter global tinha uma participação muito tímida nas mídias, e isso era fruto justamente da administração Bernie Ecclestone. Era o primeiro passo para tornar o esporte mais próximo e também mais simpático perante os fãs, procurando deixar no passado a imagem antiga de sisudez.
O menino Thomas mostrou uma faceta mais humana da F1 (Foto: Reprodução)
Os esforços deram certo. De forma até inacreditável, os pilotos antigamente eram proibidos, por exemplo, de realizar um vídeo ao vivo em seus boxes ou no paddock. Com o Liberty, os artistas do espetáculo ganharam mais uma ferramenta para se comunicar com seu público, como pode ser visto na sexta-feira de treinos livres do GP da China, quando o temporal que desabou em Xangai fez com que os competidores procurassem interagir com os fãs presentes ao circuito e também nas redes sociais como forma de entretê-los em meio à falta de atividades na pista.
 
É impossível falar sobre o que fez o Liberty Media pela F1 sem citar o menino Thomas, que emocionou o mundo durante o GP da Espanha. Em outros tempos, a imagem de uma criança chorando nas arquibancadas pelo seu ídolo jamais seria notada pela transmissão oficial da F1. No entanto, nesta fase mais humana do esporte, o francês e sua família, depois do choro, ganharam a chance de ser parte do espetáculo, ganharam credenciais para ir ao paddock e puderam conhecer de perto o herói de Thomas, Kimi Räikkönen. Até o ‘Homem de Gelo’ teve o coração amolecido naquele momento em Barcelona.
GUIA DA F1 2018

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A F1 tornou-se mais amenicanizada com a influência direta do Liberty Media (Foto: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull)
Também vale ressaltar outra iniciativa do Liberty Media para tornar a F1 mais popular ao realizar um megaevento diante de um público de mais de 100 mil pessoas em pleno centro de Londres, na Inglaterra, berço da F1. Todos, com exceção de Lewis Hamilton — que foi muito criticado pela sua ausência — puderam acelerar seus carros e mostrar suas caras, enfim, ficar mais perto de quem pouco pode vê-los por outro veículo que não seja a televisão. O F1 Live London foi outro golaço do Liberty Media.
 
Havia também uma grande expectativa sobre o fim de semana do GP dos Estados Unidos, casa do Liberty Media. Foi, de fato, um evento tipicamente americano. Antes, a F1 se vestiu de rosa para conscientizar o público ao redor do mundo sobre a importância de prevenção ao câncer de mama. Pilotos, equipes e a própria F1 como um todo se mobilizaram para uma questão jamais abordada antes. E minutos antes da largada da corrida no Texas, o que se viu foi uma apresentação dos pilotos digna de Super Bowl, com direito inclusive à narração do lendário Michael Buffer, hino norte-americano, os jatos cruzando o céu de Austin e tudo mais. Um espetáculo à parte. Houve até quem não gostasse, mas o espetáculo pré-corrida foi mais uma forma de o Liberty Media mostrar aos fãs a cara de quem manda no negócio.
 
Em meio às farpas entre Chase Carey e Bernie Ecclestone ao longo de toda a temporada, o Liberty Media investiu muito na imagem do esporte, com foco claro em dar uma nova cara à F1. Foi diante desta premissa que a nova gestão da categoria anunciou a mudança no logo. Depois de quase 25 anos, a icônica marca foi repaginada. O gesto, claro, ganhou a oposição de muita gente, sobretudo dos mais tradicionalistas. Mas não adiantou espernear, criticar os novos donos ou os caminhos escolhidos pelo Liberty Media. A nova F1, ao menos no que diz respeito à imagem, está aí e veio para ficar.
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Liberty Media e Bernie Ecclestone vivem trocando farpas nos bastidores da F1 (Foto: AFP)
Para 2018, muitas mudanças foram colocadas em curso para passar a valer já a partir do GP da Austrália. Todo o conjunto é parte de um grandioso projeto chamado ‘Loucura Projetada’, ambicioso planejamento de marketing que visa trazer junto aos fãs a imagem dos pilotos como verdadeiros gladiadores do asfalto. Na esteira desse projeto, a principal mudança é a criação da F1 TV, serviço on demand que é uma Netflix do esporte. Uma pena, apenas, que a novidade não vai ser disponível no Brasil.
 
O fato é que dá para afirmar, sem sombra de dúvidas, que a F1 evoluiu muito nesse espaço de pouco mais de um ano e tornou-se mais moderna, atual e, sim, mais próxima dos seus fãs. Pode-se dizer que o primeiro objetivo do Liberty Media à frente da categoria foi atingido. Mas a missão dos norte-americanos vai bem além do que se chama de ‘perfumaria’. E aí, o buraco é muito mais embaixo.
 
 
A guerra agora é com as poderosas da F1
 
A F1 está prestes a abrir a temporada 2018, mas os olhos de muitos dirigentes já estão voltados para 2021. Não apenas em razão da adoção do novo regulamento de motores, que ainda está em processo de concepção, mas sim pelo novo Pacto da Concórdia. O atual documento que rege as relações comerciais entre as equipes, a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) vence em 2020, mas sobretudo as poderosas Ferrari e Mercedes estão com o alerta ligado, por vários motivos.
 
O que está claro é que as duas protagonistas da F1 não querem perder a primazia. Só que o Liberty Media defende com unhas e dentes uma categoria que seja mais democrática e que entregue a todos uma chance maior de vencer. Considerando as categorias de ponta, a ideia dos norte-americanos é tornar a F1 tão equilibrada como são hoje a MotoGP e a Indy. 

A principal medida defendida pelo Liberty Media para tornar o esporte mais igual e com chances maiores para todos é a introdução do teto orçamentário. Claro que a proposta é defendida pelas equipes menores do grid, mas aquelas que detém o poderio financeiro e um orçamento quase infinito batem o pé. Ferrari e Mercedes defendem o livre investimento na categoria

Chase Carey terá de travar uma guerra com a Ferrari de Sergio Marchionne. Tudo para tornar a F1 mais igual (Foto: Divulgação)
Tal cenário manteria a disparidade de forças na F1. E a Ferrari, por sua vez, tem ainda um benefício extra: os US$ 100 milhões recebidos a mais por ano por ser a equipe mais longeva do grid. Um valor que os novos donos do esporte e também a FIA, capitaneada por Jean Todt, desejam ao menos diminuir.
 
A grita, obviamente, começou há algum tempo, desde quando o Liberty Media começou a mostrar o desejo em ter uma F1 mais igualitária. Longe de ser um discurso novo, a Ferrari vem falando grosso, e o presidente Sergio Marchionne repetiu a fala do seu antecessor, Luca di Montezemolo, e ameaça tirar a lendária equipe de campo se “a FIA não fizer as coisas certas”, como frisou Ecclestone, muito ligado a Maranello. A equipe começa a flertar até com a Indy, num gesto que remete a 1986, quando o icônico Enzo Ferrari chegou até a construir um carro para correr nas 500 Milhas de Indianápolis. Uma manobra política para manter seus interesses intactos na F1.
 
Sobre “as coisas certas”, o significado maior disso é um só: que os privilégios sejam mantidos.
 
A Mercedes, grande rival da Ferrari nas pistas na última temporada, endossa o discurso de Maranello. A ponto de Toto Wolff fazer um alerta ao Liberty Media: “A F1 precisa muito mais da Ferrari do que a Ferrari precisa da F1”. 
 
A união das poderosas é a grande pedra no sapato dos donos do Mundial, que vai ter de mostrar muito mais que discurso para encontrar uma saída política para que seja possível acomodar os interesses das grandes e, ao mesmo tempo, tornar a categoria mais justa. Algo que, no momento, parece quase impossível de alcançar, como qualquer tipo de consenso sobre o esporte como um todo.
 

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A própria F1 mostrou recentemente e de forma muito simplista que um acordo, por mais banal que seja, é impossível. Na primeira semana de pré-temporada, muito atrapalhada pelo extremo frio em Barcelona, as equipes buscaram alternativas para garantir ao menos mais um dia de testes e evitar que o estrago fosse maior. Mas para que a ideia fosse em frente, era preciso unanimidade. Claro que não aconteceu, e a F1 acabou pagando pela própria vaidade e interesses de uma ou outra ao invés do bem comum.

 
Não é exagero dizer que os próximos meses vão ser desafiadores para a F1 no campo político, com muitas trocas de acusações e ameaças. Vai ser, definitivamente, a grande prova de fogo do Liberty Media, que terá de provar toda sua capacidade de articulação para fazer valer seu maior interesse: “Queremos o que é certo para os fãs”.
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