Haas se livra de Steiner, mas só isso não basta se quiser viver dias melhores na F1

A decisão da Haas em demitir Guenther Steiner caiu como uma bomba em pleno janeiro, quando as equipes já estão trabalhando intensamente na concepção dos carros da temporada 2024 da F1. E embora pareça sensata, a opção de Gene Haas precisa vir acompanhada de um plano forte e de uma liderança sólida ou nada disso será suficiente para sair da lanterna

Com pouco mais de sete semanas para o primeiro teste da pré-temporada da F1 em 2024, a Haas decidiu que era hora de encerrar a jornada de Guenther Steiner como chefe da equipe. A saída do dirigente acontece após oito temporadas à frente do grupo de Gene Haas na maior categoria do esporte a motor, em uma longevidade rara. Steiner assumiu a face do time desde os primeiros momentos e era a liderança nas garagens, mas a falta de resultados acabou por derrotá-lo, nas palavras de Gene. Não só isso. É uma saída chocante, mas que abre a chance de um novo rumo para a esquadra que sustenta a lanterna do Mundial.

Só que antes de falar sobre a perspectiva ou um eventual novo momento da Haas, é importante entender o trabalho de Steiner e como o time chegou ao estágio atual — a rabeira da classificação. O italiano de 58 anos foi o cara que praticamente idealizou o projeto da equipe na Fórmula 1. Foi quem reuniu os elementos necessários e costurou um acordo dos mais complexos, uma vez que a Haas jamais foi construtora. A equipe ingressou no campeonato, em 2016, tendo a Dallara como parceira para a concepção do chassi e uma associação técnica ainda mais forte com a Ferrari. Foi o melhor dos dois mundos e algo totalmente único na F1.

Tanto que as primeiras temporadas da Haas foram um sucesso. Sob a batuta de Steiner, o time americano surpreendeu, conquistou pontos importantes e se colocou em posições de destaque na tabela. Reacendeu as carreiras de Romain Grosjean e Kevin Magnussen. E de quebra, o dirigente ainda emprestou o carisma para humanizar a equipe aos olhos do público, quando passou a estrelar a série que mudou os rumos da F1 em termos de novos fãs. Steiner virou um ícone do entretenimento.  

Parecia uma receita bem-sucedida, afinal. No entanto, o desenvolvimento técnico estagnou, e a Haas também precisou caminhar com as próprias pernas — especialmente a partir de 2019, temporada seguinte à sua melhor performance na F1, quando terminou o campeonato na quinta posição. E talvez tenha sido aqui um ponto dos mais críticos e que expôs as fragilidades da garagem norte-americana. Isso porque as decisões da equipe passaram a colocar em risco sua própria existência. A queda brusca de rendimento combinada com brigas com um patrocinador dos mais controversos da história da F1, além da superexposição em ‘Drive to Survive’, formaram uma sombra sobre o time, que entrou em um ciclo sem fim de fracassos.

A Haas viveu em 2023 uma de suas piores temporadas na F1 (Foto: Haas F1 Team)

E ainda que Steiner tenha sido uma peça das mais importantes durante o período da pandemia da Covid-19, em que brigou pelo teto orçamentário e impediu o colapso, os rumos seguintes caminharam ao lado de polêmicas, como a associação com Nikita Mazepin em um forte aporte financeiro russo, que depois perdeu devido à guerra na Ucrânia. E a aposta em Mick Schumacher, que acabou deixando a equipe após enorme prejuízo em acidentes.

Mas o problema mesmo foi a ausência de evolução. Em pelo menos dois momentos, a Haas deixou de investir em melhorar seus carros, passou quase uma temporada inteira andando uma configuração de uma única pista, enfrentou falhas crônicas de freios, sem contar as esquisitas escolhas de pilotos. A ideia em 2021 de esperar o novo regulamento foi interessante — a Ferrari fez o mesmo —, mas era preciso ter um plano, que nunca veio. Dessa forma, o time viveu de lampejos, como a pole de Magnussen em São Paulo. É pouco.

Outro exemplo sobre a dissonância dentro da garagem americana é a iminente saída de Simone Resta, de acordo com a imprensa italiana. O engenheiro decidiu deixar a equipe por conta devido ao desacordo quanto ao desenvolvimento do carro em 2023. Os rumores falam em desentendimentos sobre investimentos e que caminho escolher para aperfeiçoar a máquina. Resta é um dos nomes principais nomes da Haas e uma grande esperança de um salto de qualidade.

Steiner tomou, sim, decisões equivocadas —técnicas e no tratamento de seus pilotos, seja com o experiente Grosjean ou com os novatos — e se perdeu no personagem em dado momento, mas também é justo dizer que jamais teve as rédeas de fato do time. O italiano sempre precisou submeter suas ideias ao dono. E esse parece ser o grande entrave na história da Haas e de Guenther, porque o dirigente vestiu a equipe, mas Gene, não.

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Certa vez, Gene Haas foi colocado, via Photoshop, em imagem de fim de ano da Haas (Foto: Haas)

O empresário da Carolina Norte preferiu deixar o barco correr, pareceu não se importar em investir mais e dava entender que a equipe precisava se virar com o que tinha, mas o que tinha era apenas o básico, uma estrutura enxuta, dividida entre três países: Inglaterra, Itália e EUA. Setores que nunca falaram a mesma língua. Faltou o olho do dono, daquele que participa e não só palpita.

Assim, se tornou um dono omisso, apático, um fantasma. E isso se refletiu no time, apesar dos esforços de Steiner em parecer mais performático. Então, sim, talvez a saída de Guenther seja necessária. E uma chance de novos ares e uma nova forma de gestão, mas tem de ser uma administração diferente mesmo. Mais ousada e com maior investimento, inevitavelmente. A Haas precisa se levar a sério, mas, sobretudo, Gene precisa levá-la a sério.

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