Norris hesita em duelos com Verstappen e frustra por falta de agressividade na F1 2024
Após um início de temporada abaixo das expectativas, já que esperava continuar o impulso visto no segundo semestre de 2023, a McLaren evoluiu a partir do GP de Miami e deu a Lando Norris a oportunidade de ter um carro competitivo com o qual poderia brigar por vitórias regularmente e até pelo título. Apesar de ter conquistado o primeiro triunfo da carreira na Fórmula 1, o saldo do britânico nos primeiros meses de campeonato foi negativo, pois deixou a impressão de que poderia ter sido, de fato, muito melhor
Na temporada 2024, Lando Norris finalmente recebeu a oportunidade pela qual vinha esperando desde que estreou na Fórmula 1, em 2019, vestindo as cores da McLaren: ter um carro competitivo com o qual seja capaz de brigar por vitórias regularmente. O britânico, porém, hesitou em diversas oportunidades e deixou a impressão de que poderia, sim, estar pressionando mais de perto Max Verstappen na disputa pelo título do Mundial de Pilotos. Agora, de olho no período pós-férias de verão da categoria, o #4 precisa dar a volta por cima se ainda quiser convencer alguém de que pode ser mais do que tem sido.
Primeiro, porém, é importante regressarmos 13 meses na linha do tempo. Ainda era 2023 quando a escuderia liderada por Andrea Stella mostrou os primeiros sinais de vida, um suspiro que há muito não se via por parte da equipe, durante o fim de semana do GP da Áustria, nona etapa daquele certame. Um pacote robusto de atualizações para o MCL60, introduzido parceladamente entre Spielberg, Silverstone e Hungaroring, colocou os laranjas em outro patamar, deixando o fundo do grid e passando a incomodar Ferrari e Red Bull, mas ainda nem perto de ameaçar o amplo domínio dos taurinos, que venceram 21 das 22 corridas disputadas.
No entanto, foi também no ano passado que Norris deu os primeiros indicativos de que não era um piloto do tipo agressivo, daqueles que dificultam a vida dos adversários independentemente se as condições estão favoráveis ou não para a disputa da vitória, como Verstappen, Lewis Hamilton ou mesmo Charles Leclerc e George Russell, para citar alguns exemplos. Aliás, essa característica do britânico ficou evidenciada principalmente em disputas contra o neerlandês, em ocasiões que poderia ter feito um pouco mais, mas simplesmente optou por deixar a porta aberta para o tricampeão — e a sprint do GP de São Paulo de 2023 foi uma amostra disso.
Pode-se argumentar que não havia motivos para Lando fazer jogo duro contra o rival, considerando que Max tinha um carro muito superior aos demais e, por isso, acabaria superando a todos de qualquer maneira. Compreensível. Mas a temporada 2024 veio para servir de tira-teima e trouxe uma perspectiva decepcionante em relação ao britânico: embora tenha o melhor carro do grid e seja extremamente talentoso, Norris demonstrou não ser sombra daquele piloto que todos esperavam ver. Falta agressividade, ousadia e gana para vencer.
É verdade que a McLaren começou o campeonato um passo atrás de Red Bull e Ferrari, tendo de ver Verstappen subir no degrau mais alto do pódio em quatro das primeiras cinco corridas, enquanto foi Carlos Sainz quem se aproveitou do abandono do companheiro de Sergio Pérez para vencer o GP da Austrália. Oscar Piastri e Lando, por sua vez, tinham dificuldades para extrair desempenho do MCL38, embora o britânico tenha conquistado dois pódios neste período, em Melbourne e em Xangai.
Mas assim como aconteceu no Red Bull Ring há pouco mais de um ano, agora foi a vez do GP de Miami, sexta rodada, servir como virada de chave na temporada da McLaren. O bólido papaia foi praticamente remodelado, com asa e suspensão traseiras, dutos de ar dos freios dianteiros, sidepod, assoalho e tampa do motor sendo modificados. E os frutos vieram. No circuito próximo ao Hard Rock Stadium, Norris se aproveitou de um erro da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) na hora de acionar o safety-car, parou nos boxes e ainda voltou à frente de Verstappen, conseguindo abrir vantagem após a relargada e cruzando a linha de chegada com 8s de vantagem para o neerlandês. Apesar do erro da direção de prova, a McLaren mostrou um ritmo superior ao da esquadra dos energéticos naquele fim de semana.
A primeira vitória da carreira na F1 parecia ser o impulso que o britânico precisava. Duas semanas depois, no GP da Emília-Romanha, quase repetiu o feito, terminando em segundo a apenas 0s7 de Verstappen. Apesar da derrota, o sangue nos olhos durante o momento em que perseguia o rival nas voltas finais convenceu a todos que um novo triunfo era mera questão de tempo. O público, que há seis anos ansiava pelo momento em que pudesse ver o talentoso britânico com uma máquina competitiva em mãos, encheu-se de expectativas.
Entretanto, as corridas seguintes mostraram que o ímpeto do #4 acabou se perdendo em alguma das curvas do circuito de Ímola. Também é verdade que a McLaren cometeu erros que uma equipe que deseja vencer o Mundial de Construtores não se pode dar ao luxo de cometer. No GP do Canadá, uma parada nos boxes tardia no primeiro safety-car, acionado por causa do acidente de Logan Sargeant, dificultou a vida do britânico, que, por sua vez, decepcionou ao não conseguir atacar Verstappen após a segunda relargada — desta vez por causa do acidente de Sainz e Alexander Albon — mesmo com um carro que foi superior em Montreal.
Largando da pole-position no GP da Espanha, Lando viu a vitória ir por água abaixo antes mesmo da primeira curva, a qual contornou já na terceira posição. Excessivamente preocupado com Verstappen, que começou do segundo colchete, Norris acabou não se defendendo da investida de George Russell e viu o #63 da Mercedes realizar uma ultrapassagem dupla logo nos primeiros metros. Em segundo, Max não hesitou e assumiu a ponta na volta 3, enquanto que o time comandado por Stella estudava uma estratégia diferente de pneus para tentar recuperar a primeira colocação, mas sem sucesso. Norris, mais uma vez, terminava atrás do #1, mesmo com um ritmo superior em Barcelona.
Mas o grande momento entre os dois na temporada ainda estava prestes a acontecer. Saindo do segundo lugar no GP da Áustria, Norris só teve realmente a oportunidade de se aproximar de Verstappen após a parada ruim da Red Bull nos boxes, que fez a diferença entre os dois sair de 7s para 1s2 nos 15 giros finais. Depois de tanto ensaiar um mergulho na curva 3, o britânico jogou o MCL38 por fora para tentar ultrapassar o rival, mas foi fechado por Max e ambos se tocaram. O piloto da McLaren abandonou, mas o neerlandês conseguiu continuar e terminou em quinto.
O que se seguiu foi uma troca de farpas entre as equipes, com Christian Horner e Helmut Marko acusando de um lado, enquanto Stella e Zak Brown vociferavam do outro. Irritado, o próprio Norris chegou a dizer que “perderia o respeito” por Verstappen caso o mesmo não assumisse a responsabilidade pelo acidente. Todavia, dias depois, o inglês voltou atrás e disse que o amigo “não precisava pedir desculpas” pelo ocorrido, minando todas as possibilidades de vermos uma mudança em sua postura já no GP da Inglaterra, a etapa seguinte no calendário.
A gota d’água aconteceu no GP da Bélgica, a grande oportunidade para terminar bem à frente do adversário na briga pelo título e diminuir a diferença no campeonato. Largando de 11º devido a uma punição por ter trocado o motor do RB20, Verstappen precisou de apenas três voltas para colar em Norris, que começou em quarto e caiu para sétimo após novo erro cometido durante a largada. Depois de sofrer um undercut na primeira janela de pit-stops, Lando não conseguiu mais ultrapassar Max e terminou atrás do rival.
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Desde a prova no circuito Gilles Villeneuve, nona da temporada, quando a McLaren já dava claros sinais de que havia superado a Red Bull, Verstappen acumulou 108 pontos, enquanto Norris não passou dos 86. A pressão vem até mesmo da garagem ao lado, já que Piastri somou 96 tentos no mesmo período e também desbancou o britânico, recebendo elogios de Marko, consultor dos taurinos, que deu pitaco e disse que o australiano é “mentalmente mais forte” que o colega de time. E colocou uma pulga atrás da orelha dos laranjas.
Restando dez corridas para o fim da temporada e 78 pontos a serem tirados do tricampeão, Lando admitiu que “cometi muitos erros no último mês, perdi oportunidades” e prometeu voltar mais forte. Entretanto, a briga pelo Mundial de Pilotos é um objetivo distante agora, quase impossível, tendo em vista que o #1 não é mais o único motivo de preocupação, mas também a dupla da Mercedes — principalmente Hamilton, que conquistou cinco pódios e duas vitórias na últimas provas, totalizando 108 pontos, também muito superior ao #4.
Em vez de entrar nas férias de verão com a tranquilidade de ter feito o que pôde, Norris leva na bagagem uma carga imensa de críticas e a sensação de que falhou, pois era capaz, sim, de conquistar mais duas ou três vitórias, pelo menos. Tinha todas as condições de assumir o papel de principal concorrente de Verstappen, porém, nem ele se vê em tal função, mesmo sendo o vice-líder da competição.
A ficha precisa cair, e o britânico tem de entender que assim como a McLaren deixou a imagem de fracassada para trás e agora briga pelo Mundial de Construtores, ele também precisa deixar o velho piloto no passado e se transformar em alguém que verdadeiramente almeja ser campeão mundial de Fórmula 1 um dia.
A Fórmula 1 agora faz a tradicional pausa para as férias de verão na Europa e volta de 23 a 25 de agosto em Zandvoort, para a disputa do GP dos Países Baixos.
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