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Fórmula 1

Hamilton não blefou: Mercedes tem falhas reais no mundo invertido em que vive na F1

O W13 é um projeto complexo e que vai exigir tempo da Mercedes. Quando Lewis Hamilton disse que a equipe não estava em condições de lutar por vitórias, não mentiu. O carro prata tem problemas que não se resolvem da noite para o dia

A Mercedes tem um carro complexo e de desempenho longe das rivais (Foto: Mercedes)

A Mercedes tem um carro complexo e de desempenho longe das rivais (Foto: Mercedes)

 

“No momento, não acho que vamos disputar vitórias. Certamente, semana que vem vamos tentar melhorar a performance, mas as pessoas vão se surpreender.” A frase de Lewis Hamilton soou como uma daqueles blefes ordinários de início de temporada, uma vez que a Mercedes construiu uma imagem de excelência que é difícil de enxergar alguma coisa dando realmente errada ali. Mas as palavras do heptacampeão não foram jogadas ao vento. A equipe alemã mergulhou no mundo invertido e agora vive em um limbo perigoso, cheio de pequenas armadilhas.

Depois de dias esquisitos de testes, o inglês sabia que o W13 não seria fácil de domar e que a opção por soluções extremas tomaria tempo, especialmente diante do ponto de desenvolvimento das duas principais rivais – sobretudo no que diz respeito à Ferrari. Afinal, a escuderia italiana se mostrou veloz com todos os tipos de pneus e em todas as condições – classificação e corrida, especialmente com Charles Leclerc. As mudanças pontuais feitas no assoalho da F1-75 foram suficientes para colocar os italianos à frente, surpreendendo a Red Bull. A dobradinha no GP do Bahrein ratificou a força já apresentada na pré-temporada.

De fato, o projeto da marca da estrela é mais ousado. A equipe usou a primeira semana de testes como um experimento e decidiu apresentar ao mundo sua real criação somente na segunda parte das atividades, já no Bahrein. O caso é que o novo W13 adotou uma política de sidepods zero, entradas de ar mais estreitas, guelras e fendas, em uma linha que deixou o modelo ‘magrinho’. Imediatamente, o carro se mostrou arisco: saía de frente e não tinha velocidade nos trechos de alta. Além disso, sofria com o quique – ‘porpoising gerado pelo efeito-solo. E isso se tornou uma dor de cabeça, porque os engenheiros tiveram de mexer na configuração geral para compensar os saltos. O resultado: perda de performance e consistência.

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Hamilton sai dos boxes sem aderência, quase roda e perde posição para Zhou no GP do Bahrein (Vídeo: F1)

Esse acerto foi replicado no primeiro fim de semana da temporada. Mas o que surpreendeu, como Hamilton previu, foi a diferença de desempenho para Ferrari e Red Bull, aliado a outros problemas. A classificação foi o primeiro momento do choque de realidade: o W13 precisou de mais de uma volta para garantir a posição no Q2. Então, a Mercedes teve de gastar um jogo a mais dos pneus macios ou arriscava nem alcançar a fase final da sessão que definiu o grid de largada. A decisão também afetou a tática de corrida, uma vez que acabou com as chances de iniciar a prova com um conjunto novo de compostos vermelhos.

O recordista de vitórias da F1 ainda obteve uma volta limpa para se colocar apenas em quinto no grid. Mesmo assim, a diferença para o pole Leclerc foi gritante: 0s680. Na corrida, as dificuldades ficaram mais claras. O acerto gerou mais arrasto, o carro ficou mais alto do solo, e isso comprometeu a velocidade em reta. Foi a maneira encontrada pela equipe para tentar neutralizar os saltos. E como desgraça pouca é bobagem, o carro passou a ter um desgaste excessivo dos pneus.

A Mercedes também apresentou um déficit que variou de 0s5 a 1s em ritmo de corrida, na mudança dos pneus macios para os duros. “Sabíamos que não éramos rápidos o suficiente no fim de semana, então nosso objetivo foi controlar os danos para o campeonato. Em termos de ritmo, estamos mais ou menos sozinhos; não podíamos colocar uma pressão realista na Red Bull e na Ferrari, e não estávamos sob nenhuma pressão de quem vinha atrás”, explicou Andrew Shovlin, engenheiro de pista da Mercedes.

“Não temos um carro para lutar pela pole ou vitórias, e isso não é algo que podemos tolerar por muito tempo se o objetivo é ganhar o campeonato. O equilíbrio é complicado, mas o principal problema é a falta de aderência, causada pelo fato de termos um carro tão alto para evitar os saltos”, completou.

A verdade é que os multicampeões tiveram sorte na parte final da corrida no Bahrein. O safety-car acabou criando algumas oportunidades, mas foi o abandono duplo da Red Bull que permitiu a Hamilton aparecer no pódio. Durante toda a corrida, a Mercedes ficou longe de qualquer embate maior com italianos ou taurinos, mesmo lançando mão de táticas diferentes. Sem a intervenção do SC, a distância para o vencedor provavelmente teria sido algo acima dos 30s.

Lewis Hamilton foi ao pódio no GP do Bahrein (Foto: Beto Issa)

“Tentamos fazer algo distinto com a estratégia. Acho que com o composto macio, em ritmo puro antes que o pneu se desgaste, estamos quase lá – não onde Leclerc está, mas com os outros. Mas a deterioração é muito grande, então tentamos fazer algo diferente colocando o pneu duro, mas era 1s mais lento a cada volta, então a lição foi aprendida”, falou também o chefe Toto Wolff.

“Acho que estávamos com excesso de asa, tivemos muito arrasto, e isso acontece porque está nos faltando peças no momento, mas espero que possamos remediar e progredir. Nós realmente precisamos deixar tudo certo com motor e buscar todos os ganhos de desempenho, mas a asa foi o problema em velocidade em linha reta”, emendou o austríaco, referindo-se à unidade de potência da Mercedes, que foi alvo de queixas das clientes durante o fim de semana barenita.

Nem tudo está perdido, há pequenas vitórias. Mesmo ainda longe do desempenho ideal, os alemães começam o ano na segunda colocação nos Construtores, com 27 pontos, ainda que a escuderia de Maranello tenha 44. A Red Bull está zerada. E como um alívio, o W13 tem na confiabilidade um ponto forte.

Só que o caminho ainda segue nebuloso. Não é só uma questão de acerto, faltam peças, como disse Wolff. A Mercedes tem um ‘Demogorgon’ em suas garagens e precisa urgentemente de um portal de saída.