Mercedes tem trunfo com confiabilidade, mas é insuficiente para brigar com rivais

A Mercedes demonstrou nas três primeiras etapas do ano que o carro confiável ainda é seu forte, mas não basta terminar nos pontos. Para voltar a sonhar com o título, corre contra o tempo para eliminar o problema que a impede de forçar o ritmo em busca de mais desempenho: os quiques do carro

EXPLICANDO O DOMÍNIO DA FERRARI NA FÓRMULA 1 2022

Ver a Mercedes na vice-liderança dos dois Mundiais da temporada 2022 da Fórmula 1 — pilotos e construtores — após três corridas não é nenhuma surpresa, afinal, ela defende o posto de octacampeã entre as equipes e quase viu Lewis Hamilton bater o recorde de sete títulos de Michael Schumacher no ano passado. Mas essa posição está longe de traduzir o que, de fato, acontece com as Flechas de Prata no ano: mesmo sendo a única equipe a terminar com seus dois pilotos na zona de pontuação nas etapas disputadas até aqui, a Mercedes lida com uma realidade atípica para ela: a de ter confiabilidade, porém o carro ser lento.

Essa constatação, aliás, veio — em forma de alfinetada — de Christian Horner, chefe da arquirrival Red Bull. Em três oportunidades, Hamilton e George Russell conseguiram um pódio cada, mas totalmente circunstanciais, em consequência de abandonos de pilotos que estavam à frente. Em condições normais, a dupla estaria brigando por, no máximo, um quinto lugar.

E isso é muito, muito pouco para quem ainda vislumbra alguma chance de lutar pelo título desse ano.

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Se quiser ainda lutar pelo título, a Mercedes precisa mais do que apenas terminar nos pontos (Foto: Mercedes)

A grande questão é que a Mercedes ainda apanha — no sentido literal da palavra — do chamado porpoising, os quiques que os carros dão em alta velocidade, em decorrência da volta do efeito-solo. Hamilton, por exemplo, chegou a comparar o W13 a uma cascavel e falou sobre guiar na “pior era” de um carro na F1.

Na Austrália, os quiques ainda trouxeram outro problema: dificuldade em manter os pneus aquecidos. O diretor de engenharia de pista, Andrew Shovlin, explicou que, por conta dos saltos do carro nas curvas de alta, os pilotos não se sentiam confiantes para frear no tempo certo. Eles entravam mais lentos na curva numa tentativa de amenizar o chacoalhar do carro, perdendo, além de rendimento, temperatura nos pneus.

É o famoso “uma coisa leva a outra”. Nenhum carro do grid atual sofre tanto com o porpoising quanto os prateados. A Ferrari, por exemplo, passou pela mesma situação em Melbourne, mas o próprio Charles Leclerc declarou que não é algo incômodo para ele, não o faz comprometer o rendimento na pista.

Ao contrário do que acontece com a dupla da Mercedes. Russell já afirmou que eliminar os quiques resolveria 99% dos problemas. Lógico: em primeiro lugar, traria mais conforto para dirigir, o que permitiria aos pilotos forçar o ritmo e extrair mais performance do carro. Em segundo, daria à Mercedes condições de evoluir em outras áreas, em vez de ainda bater cabeça para solucionar algo surgido para todos na pré-temporada.

Wolff tem um belo desafio: transformar seu carro lento e confiável em um carro vencedor (Foto: Mercedes AMG-F1/Steve Etherington)

O chefão Toto Wolff afirmou que caminhos óbvios não poderiam ser tomados, e aqui ele se referia a tornar o assoalho mais rígido, ajudando na estabilidade. A Mercedes foi a equipe que mais inovou no conceito do seu carro com o novo regulamento. Apresentou um assoalho muito diferente das demais, estreitou muito o bólido, praticamente anulou as entradas de ar laterais, mas nenhuma mudança surtiu o efeito esperado na prática, muito pelo contrário.

Outra solução também óbvia é subir um pouco mais o carro, só que num modelo nascido para ser grudado no chão, como fazer isso sem perder rendimento — o que ela justamente está em busca para não dar 2022 como perdido?

Uma das alternativas já testadas para eliminar, ou pelo menos amenizar, os quiques do W13 foi aumentar a asa traseira e deixar o carro mais pesado. Só que, adivinhem: carro mais pesado é carro mais lento.

É uma corrida contra o tempo. O teto orçamentário a impede de ficar fazendo mudanças no carro a todo instante. Os testes também são limitados, deixando ela refém dos fins de semana de corrida.

Uma saída tentada na Austrália foi instalar sensores no carro de Hamilton — ainda que isso tenha representado um peso extra — para coletar o máximo possível de informações e, a partir desses estudos, encontrar o caminho definitivo para acabar com os quiques que dão tanta dor de cabeça.

E como desgraça pouca é bobagem, Lewis ainda reclamou de um superaquecimento do motor nas voltas finais do GP da Austrália. Precisou tirar o pé para não ficar pelo meio do caminho, ou seja, mais um problema para a conta do time liderado por Wolff.

Hamilton reclamou do superaquecimento do motor na Austrália. Mais um problema na conta (Foto: Mercedes)

A regularidade da Mercedes tem sido importante para consolidá-la como terceira força no grid (porque não se enganem: Horner tem total razão ao dizer que prefere ter em mãos um carro rápido, e a Red Bull o tem). Mas até quando?

McLaren, por exemplo, mostrou uma evolução significativa na Austrália, embora tenha outras questões importantes para resolver, como o superaquecimento dos freios e o déficit no ritmo de corrida. E a Alpine corre por fora, mas com chances de incomodar. Esteban Ocon também faz parte do seleto grupo de pilotos que pontuaram nas três primeiras etapas do ano, composto ainda pelo líder Leclerc e, claro, pela dupla da Mercedes. E Fernando Alonso só não lutou por um top-5 em Melbourne porque bateu no Q3 quando tinha claras chances de beliscar uma segunda fila no grid.

E ambas parecem não sofrer tanto com os quiques. Ou seja: enquanto a Mercedes busca atualizações para se livrar de um problema da pré-temporada, as suas hoje adversárias diretas já pensam em como extrair ainda mais desempenho de seus carros para subir na tabela de classificação.

O GP da Emília-Romanha abrirá a chamada temporada europeia do calendário, e é quando as coisas começam, de fato, a engrenar. À Mercedes, não há outra opção a não ser encontrar o ajuste certo do W13 já em Ímola para eliminar esse arrasto aerodinâmico que a faz perder velocidade. Ou é isso, ou é se conformar em ser coadjuvante depois de oito anos seguidos de protagonismo absoluto.

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