“Mostrei a ele importância do riso”: como Ron Dennis quebrou ‘mau humor’ de Senna

Ron Dennis recordou “piadas” e tentativas de descontração com Gerhard Berger para tornar ambiente na McLaren mais tranquilo

Os anos de McLaren trouxeram uma verdadeira montanha-russa de sentimentos para Ayrton Senna, ainda que não deixasse transparecer. Foi com a equipe inglesa que o brasileiro conquistou três títulos na Fórmula 1 e escreveu definitivamente o nome entre os grandes do esporte mundial, mas foi lá também que protagonizou uma rivalidade que transcendeu limites.

Ron Dennis era o chefe da McLaren nos tempos do duelo Senna × Alain Prost. Em 1988, ano do primeiro título de Ayrton, a dupla estabeleceu um domínio tão recorde de vitórias que só foi quebrado em 2023, pela Red Bull. Das 16 provas realizadas naquele ano, ou Senna ou Prost subiram ao degrau mais alto em 15.

O ano seguinte, contudo, terminou de forma muito mais conturbada, com a polêmica decisão no GP do Japão. Senna, que precisava vencer, fez a pole-position, mas partiu mal e perdeu a ponta para Prost. O brasileiro, no entanto, conseguiu recuperar o ritmo e foi para a ultrapassagem na volta 47, só que o francês não facilitou nada, e os dois bateram.

Senna conseguiu retornar à corrida e ainda vencer, mas a ajuda dos fiscais de pista o levaram à desclassificação. “Certamente, ele também viveu momentos difíceis, como em Suzuka e o acidente com Prost”, recordou Dennis à revista Warm Up no especial de 20 anos da morte de Senna. “Ele ficou profundamente afetado pela injustiça que ocorreu depois daquela corrida. E posso dizer que foi muito difícil convencê-lo a voltar e a continuar competindo.”

Ayrton Senna ao lado de Gerhard Berger, na McLaren (Foto: Reprodução)

“Esse era o tipo de pessoa que ele era. Se ele se encontrasse em uma situação em que se sentisse injustiçado, ou que uma ação dele pudesse prejudicar outra pessoa ou mesmo o esporte a motor como um todo, ou outros pilotos, ele ficaria bastante interessado em ajudar e colocar o seu ponto de vista de maneira construtiva”, acrescentou o ex-chefe da McLaren.

“É claro que, tendo trabalhado com um grande número de pilotos, todos possuem elementos que são únicos e particulares. Ayrton era único em muitos aspectos: era dedicado, foi um dos pioneiros no que diz respeito à preparação física dos pilotos, descobriu que poderia se colocar em um nível muito alto de preparação física e que isso iria influenciar positivamente a sua condução. Isso apenas fazia parte de sua obsessão em ser o melhor”, salientou.

A determinação era tão grande que o foco excessivo deixava Senna mais fechado. “Ele não tinha muito senso de humor quando se juntou à equipe”, recorda Dennis. “Isso pode não parecer muito real porque muitos imaginam que na equipe somos mais sisudos e menos apaixonados, mas posso dizer que não é assim — dentro da equipe, o ambiente é bem diferente.”

“Mas eu dizia… Ele não tinha senso de humor quando chegou aqui, por isso iniciei um processo de mostrar a ele a importância do riso, e foi uma ótima maneira de quebrar essa tensão. E claro que essa situação se tornou ainda melhor quando Gerhard Berger e eu não parávamos com as piadas. E elas eram extremas. Até que ele viu que havia também um elemento de competitividade nisso, ou seja, de quem poderia fazer as armações mais ultrajantes para o outro, e aí ele entrou finalmente no espírito. Como resultado final, a tensão acabou, o ambiente era muito tranquilo e descontraído, e isso era muito bom para todos, além do relacionamento dos dois ter ficado ainda melhor”, completou Ron.

Sobre o 1º de maio de 1994, Dennis acredita que se fosse possível voltar no tempo, Senna “mudaria nada do que aconteceu”.

“Ele perdeu a vida fazendo algo que o apaixonava e que era a sua vida. Ele, na verdade, abria mão de muitas outras coisas que diversos outros pilotos gostavam, mas porque era completamente dedicado, focado e queria tremendamente obter a satisfação de vencer as corridas, de viver experiências emocionais edificantes. Buscava voltas fantásticas de classificação. Era a adrenalina de buscar ser o melhor, de ganhar os campeonatos mundiais. Foi sempre uma montanha-russa emocional, mas nunca se permitiu achar que já era suficiente”, finalizou.

Nos 30 anos da morte de Ayrton Senna, o GRANDE PRÊMIO resgata depoimentos dados à revista Warm Up de diversas personalidades da F1 que fizeram parte da vida do brasileiro.

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