Na Garagem: Räikkönen vence GP da Malásia e sobe em ‘pódio do futuro’ da F1 com Alonso

Uma das trajetórias mais meteóricas da história do automobilismo chegou ao momento de coroação há exatos 20 anos. Foi num 23 de março como hoje, na madrugada brasileira conforme a Fórmula 1 realizava o GP da Malásia, em Sepang, que Kimi Räikkönen recebeu a bandeira quadriculada de rosto para o vento pela primeira vez. Apenas a glória de debute duma das carreiras que viria a ser uma das mais longínquas e complexas da história da categoria. O grande dia de Räikkönen.

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A carreira de Kimi escalou assustadoramente, de 0 a 300 km da noite para o dia. Räikkönen era piloto de kart no fim dos anos 1990, até 1999. Naquele ano, disputou as primeiras corridas de monopostos, mas somente participações. Foi em 2000 que fez a transição de vez, então para a F-Renault Inglesa. Incrivelmente, já estava na F1 em 2001, com a Sauber, antes de pular à McLaren e ir a quatro pódios em 2002. Aí, logo na segunda corrida de 2003, a vitória.

O contexto não é tão difícil assim de entender. A Ferrari vinha de três títulos mundiais e dominaram de maneira resplandecente o campeonato de 2002. A primeira prova de 2002 foi esquisita na Ferrari e, largar com ambos os carros na primeira fila, acabou fora do pódio após quase dois anos. A vitória foi da McLaren, mas com David Coulthard. Räikkönen foi o terceiro, com Juan Pablo Montoya, então na Williams, foi o segundo.

A Malásia vinha na sequência. Quem começou a brilhar foi a Renault, que apenas iniciava um trabalho que levaria a equipe ao bicampeonato alguns anos mais tarde. Fernando Alonso anotou a primeira pole-position da carreira e ainda teve Jarno Trulli, companheiro de equipe, em segundo. Michael Schumacher e Coulthard formavam a segunda fila, enquanto Rubens Barrichello e Nick Heidfeld, puseram Ferrari e Sauber atrás. Räikkönen era somente o sétimo.

Depois de Jacques Villeneuve e Cristiano da Matta terem problemas no grid, o primeiro problemas entre os líderes veio logo na partida: Schumacher atacou e acabou tocando Trulli, causando uma rodada que tirou o italiano da pista e jogando para o fim do pelotão. O próprio Michael teve danos no bico da Ferrari e recebeu punição.

Enquanto isso, mais atrás, Räikkönen fazia o caminho dele. Deixou Barrichello e Heidfeld para trás, e ainda herdou a posição do companheiro Coulthard, que abandonou com problemas eletrônicos no motor. Com melhor carro em ritmo de corrida, passava a tirar tempo em relação ao ainda líder Alonso. Ali, naquele momento, os dois viviam o primeiro grande pega de um contra o outro no Mundial, algo que seria repetido à exaustão nos anos seguintes. Kimi tinha 24 anos, ao passo que Fernando tinha estava próximo de completar 23.

A ultrapassagem era questão de tempo, mas não veio na pista: quando parou nos boxes, na volta 19, já fizeram o suficiente para retornar na frente. Assumia a liderança com ainda 38 giros por fazer em Sepang. A briga pelo segundo e o terceiro lugares continuava, mas Räikkönen foi embora. Até pararia novamente nos boxes, mas não seria incomodado.

No fim das contas, venceu com quase 40s de vantagem para Barrichello, que levou a Ferrari ao segundo lugar.

“Estou muito feliz com a minha primeira vitória na Fórmula 1, ainda não acredito, a ficha só deve cair amanhã”, comemorou.

“Eu gostaria de agradecer a todos na equipe: os que estão aqui na Malásia, mas também o pessoal da McLaren e Mercedes [que, então, não tinha equipe na categoria e fazia da McLaren o time oficial] Woking, Brixworth, Stuttgart e também a Michelin por todo o trabalho duro”, seguiu.

“Fiz uma boa largada e, quando estava entrando na curva dois, vi dois carros se tocando. Eu passaria por fora, mas no último segundo vi um dos carros rodar e consegui pegar a linha de dentro. Foi a decisão correta. Então, ultrapassei Heidfeld para assumir o segundo lugar. Eu estava pegando leve nas últimas 20 voltas para ter certeza que chegaria ao fim e não forcei”, afirmou.

Por fim, ainda rejeitou a ideia de muita comemoração. “Voltarei para minha casa na Suíça hoje à noite, então acho que não teremos uma grande festa, mas com certeza irei celebrar um pouco. Estou ansioso pela próxima corrida e o resto da temporada”, encerrou.

Além disso, Alonso terminou em terceiro e conquistou o que foi o primeiro pódio da carreira. Um pódio que representaria o futuro da categoria.

Para Räikkönen, foi somente a primeira de 21 vitórias na categoria. Foram 19 temporadas, ao todo, entre 2001 e 2021, com um hiato por decisão própria em 2010 e 2011. Kimi fechou o histórico com 349 largadas, número que foi, no momento em que parou, o maior da história — depois ultrapassado por Alonso. A grande glória veio com o título de 2007.

Mas foi ali, naquele dia na Malásia, que Räikkönen coroou o surgimento. Como um meteoro, consolidou que seria um dos herdeiros naturais do pós-Schumacher.

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