Opinião GP: F1 flerta com fracasso por ser preguiçosa e sofre para fazer 2023 engrenar

A F1 enfrenta um início de temporada dos mais enfadonhos em 2023. E nada tem a ver com o domínio da Red Bull. Ainda que haja um abismo técnico para as rivais, a chefia da categoria é muito mais culpada pelos problemas, porque prefere soluções fáceis. Além disso, o regulamento ainda é muito complexo e os experimentos sem sentido, como a sprint, mais atrapalham do que ajudam

A FÓRMULA 1 DEIXA o Azerbaijão com muito a refletir. O comando da maior categoria do esporte a motor decidiu usar a etapa azeri como um experimento para um formato diferente de disputa. Como sempre, a ideia é tentar melhorar o espetáculo e provocar alguma competitividade a qualquer custo. Não conseguiu nem uma coisa e nem outra. O sistema testado foi um fracasso e em nada mudou o andamento do campeonato. Só que há algo ainda mais preocupante: a temporada da F1 segue morna. E não, não é culpa do domínio da Red Bull.

Até o momento, a F1 disputou quatro etapas — cinco, contando a detestável sprint do sábado. Os GPs do Bahrein e da Arábia Saudita não foram exatamente sensacionais e deixaram clara a gritante diferença de performance entre os taurinos e o restante do grid — distância essa que parece intransponível a médio prazo. A etapa da Austrália foi a melhor até aqui, o que é absolutamente surpreendente, pois Melbourne não costuma tirar o fôlego. Mas não se engane: o agito que se viu no Albert Park foi circunstancial, impulsionado mais pelos erros de pilotos e direção de prova do que por um equilíbrio genuíno de forças. Enquanto isso, o Azerbaijão deixou muito a desejar. O que é um enorme problema, porque historicamente é um circuito que tende a exibir boas corridas.

Sergio Pérez venceu monótona corrida em Baku marcada por quase-atropelamento e erro no pódio (Vídeo: F1)

Mas o que acontece? É importante reiterar: a monotonia da Fórmula 1 nada tem a ver com o trabalho de excelência que faz a Red Bull, como já fizera Mercedes, Ferrari e tantas outras ao longo da trajetória do Mundial. No entanto, parte da culpa pela atual morosidade está no regulamento. A revolução técnica prometeu muito e entregou pouco. Quer dizer, uma mudança tão drástica de regras teria de ser feita com mais cautela do que aconteceu, com mais testes, com mais recursos.

É fácil entender ao notar que os carros sofrem as falhas de anos atrás. Ainda há uma irritante turbulência, e isso parece se intensificar em pistas urbanas, em que os muros estão mais perto. Baku viu apenas 18 ultrapassagens, isso dá praticamente uma a cada três voltas. Os pneus, resistentes demais e limitados, também evitam qualquer tentativa do imponderável. A FIA (Federação Internacional de Automobilismo) também peca ao esquecer critérios e padrões. Não é possível que ninguém veja que não é normal, que há algo que precisa ser revisado nisso. E por que não um conjunto de regras menos complexas e critérios mais claros?

Aí se chega a um outro ponto importante. Existe, sim, um abismo técnico entre as equipes, o que também contribui para afastar qualquer chance de imprevisibilidade ou de maior competitividade, o que resulta, claro, em corridas enfadonhas, ainda mais no patamar que se tem agora na F1. Em um campeonato tão sofisticado, quebras e outros incidentes são quase incipientes. O problema é que apenas uma pequena parte do grid possui recursos suficientes para absorver as mudanças rapidamente e tirar delas o melhor. Tanto que, sob o regulamento anterior, a Mercedes comandou as ações e se viu realmente ameaçada em poucas oportunidades, sobretudo em 2021, quando as regras já haviam amadurecido.

Há um elemento de incompetência dos times, é verdade. A Ferrari está aí e não deixa mentir. A própria Mercedes é exemplo. Mas há também algo que não se pode negar: é quase impossível uma equipe média surpreender sem um enorme investimento. A Aston Martin é a prova.

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A Aston Martin de Fernando Alonso só deu um salto de qualidade após uma injeção significativa de receita (Foto: Aston Martin)

Mas há uma solução para acelerar esse processo — tanto em termos de um regulamento menos restritivo quanto do ponto de vista financeiro. Um bom começo seria por meio de uma melhor distribuição da receita, uma flexibilidade no que diz respeito aos investimentos e recursos, passando por concessões técnicas. Porque, neste momento, é notório que o teto de gastos não é o bastante para reduzir a diferença de performance. Portanto, é esse ponto que precisaria de algo drástico: um maior pacote financeiro para quem vive sob um orçamento mais apertado. Só que isso exige trabalho.

No fim das contas, é um esporte que precisa de uma alta receita. E se todos os envolvidos se preocupam em manter o argumento sobre o DNA da F1, aquilo que a torna tão especial, que é o fato de que cada competidor constrói sua própria máquina, também é importante criar um sistema adequado para isso.

No entanto, a Fórmula 1 prefere opções mais preguiçosas. Dispensando a ingenuidade em achar que os aspectos acima são facilmente negociáveis, não há como negar que o Mundial flerta com mais uma derrota e deve amargar um campeonato sem surpresas ou emoção. Ao escolher apenas se olhar de fora para dentro, a categoria rainha do automobilismo se ilude. Não são formatos diferentes ou grids invertidos ou qualquer coisa maluca que vão fazer a temporada engrenar como um passe de mágica.

É certo dizer que não se pode punir quem trabalha bem — no caso agora, a Red Bull —, mas também é bem verdade que faz parte da responsabilidade da chefia do Mundial proporcionar um campeonato saudável do ponto de vista esportivo, e isso vem de um regulamento assertivo, da grana e de demais recursos. Há de se mexer nesse vespeiro em algum momento.

Fórmula 1 faz longa viagem e já retorna na semana que vem, entre os dias 5 e 7 de maio, com o GP de Miami, primeira de três etapas do ano nos Estados Unidos.

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