Por que sorte é só um fator para Williams virar equipe viciada em pontuar na Fórmula 1

Pode até parecer, mas a sorte não é a única chave para a Williams sair do zero depois de dois anos sem pontuar para virar praticamente um habitué do top-10 da Fórmula 1

Imagens do forte acidente que marcou a largada da Stock Car em Goiânia (Vídeo: Stock Car)

Outrora acostumada a viver grandes glórias na Fórmula 1, a Williams, detentora de nada menos que 114 vitórias, 128 poles, 313 pódios e nove títulos do Mundial de Construtores, viveu uma inacreditável seca de dois anos sem um mísero ponto. Entre o GP da Alemanha de 2018, quando Robert Kubica foi alçado a décimo lugar depois das punições impostas a Kimi Räikkönen e Antonio Giovinazzi, até o insano GP da Hungria, a lendária equipe de Grove passou por mudanças, foi vendida, mudou de mãos e ganhou um novo CEO e chefe de equipe com a chegada do alemão Jost Capito. George Russell, na melhor fase da sua ainda curta trajetória na F1, finalmente conseguiu corresponder, e até Nicholas Latifi, contestado por ser um piloto pagante, mostrou competência e bom trabalho e garantiu seu primeiro top-10 na carreira.

Nas últimas quatro corridas, a Williams somou nada menos que 22 pontos, deixando as adversárias do fim do pelotão, Alfa Romeo e Haas, bem para trás. Neste período, Latifi chegou a andar no começo do caótico GP da Hungria em terceiro, George Russell fez uma volta fenomenal no molhado durante a classificação em Spa-Francorchamps — que lhe valeu o segundo lugar no grid e, consequentemente, seu primeiro pódio na F1 na não-corrida na Bélgica — e voltou a pontuar com o nono lugar no GP da Itália.

A soma das circunstâncias nas corridas citadas, como o múltiplo acidente na largada em Hungaroring, o caos com o temporal e a corrida que não houve em Spa e a batida entre Lewis Hamilton e Max Verstappen no GP da Itália podem até dar a impressão de que os pontos obtidos pela Williams foram fruto meramente da sorte. Claro que tal fator foi importante, sim, mas não foi só isso que tornou a gloriosa equipe, que não vence desde o GP da Espanha de 2012, com Pastor Maldonado, uma nova viciada em pontuar na F1.

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GEORGE RUSSELL; WILLIAMS; PÓDIO; GP DA BÉLGICA;
Não é só sorte: a Williams deu um passo real à frente em termos de competitividade (Foto: Williams)

De fato, hoje a Williams ocupa a condição que lhe é merecida na tabela do Mundial de Construtores: um grande degrau acima de Alfa Romeo e muito à frente da Haas, mas ainda atrás das demais postulantes do pelotão intermediário como Aston Martin, AlphaTauri e Alpine. É nítido que o desempenho do carro melhorou de forma consistente, e prova disso foi a luta de Russell com Fernando Alonso nas voltas finais do GP da Áustria. E isso sem grandes atualizações desenvolvidas para o FW43B, um bólido que é bom, não compromete e é empurrado pelo excelente motor Mercedes.

Mas mesmo em situações mais atípicas, como no encharcado GP da Emília-Romanha, George estava lá perto, rondando a zona de pontuação. Só faltou um pouco de calma, naquela situação, para confirmar os primeiros pontos pela Williams. Pontos que vieram a partir do GP da Hungria e, daí em diante, a equipe emendou uma sequência das mais positivas.

E de maneira que ficou mais nítida nas últimas etapas, o ritmo de corrida da Williams melhorou muito, a ponto de Russell e também Latifi conseguirem lutar com os carros da Aston Martin e até da Alpine, como aconteceu em Monza.

Os tempos de calvário ficaram para trás: hoje, a Williams é bem mais competitiva na F1 (Foto: Williams)

“É muito bom ver isso. Jamais imaginaria isso no começo da temporada. Também acho que o progresso que fizemos de sexta a sábado para a corrida foi muito impressionante. E isso é o principal”, explicou Jost Capito, que em entrevista à revista britânica Autosport reconheceu que a sorte sempre ajuda.

“Precisávamos de sorte, já que os dois caras da frente abandonaram. Sem isso, não teríamos pontos”, afirmou o alemão depois do desfecho do GP da Itália. “Claro que George teve sorte com o safety-car. E Nicky [Latifi] não teve sorte. Ele fez uma ótima corrida, mas teve azar com o safety-car [com o acidente entre Hamilton e Verstappen] porque ele estava à frente do Grosjean e poderia manter aquela posição”, salientou o chefe e CEO da Williams.

Também é importante salientar a notável melhora do ‘herói improvável’ Latifi. Mesmo notoriamente com nível técnico inferior ao do companheiro de equipe, o canadense veio no embalo e aproveitou evolução em ritmo de corrida do carro nas últimas etapas e também evoluiu de maneira sensível, sobretudo em ritmo de corrida.

A grande jornada na Hungria encheu Nicholas de confiança. O filho do empresário iraniano Michael Latifi esteve entre os dez primeiros na não-corrida em Spa e quase voltou a pontuar novamente no GP da Itália ao terminar em 11º lugar.

NICHOLAS LATIFI; GEORGE RUSSELL; WILLIAMS; GP DA HUNGRIA;
A Williams tem muito a comemorar desde a volta aos pontos no GP da Hungria (Foto: Williams)

“Ele é muito forte, está cada vez melhor. Acho que agora temos de trabalhar para que ele mantenha a confiança porque ele teve finais de semana muito fortes, mas teve um pouco de azar na comparação com George. Espero que algum dia ele tenha a sorte ao seu lado”, afirmou Jost Capito.

Pode parecer pouco diante da história gloriosa da Williams, mas quando se trata do contexto atual, o oitavo lugar no Mundial de Construtores é uma boa notícia para uma equipe mais estável financeiramente, mas que não pode dispensar alguns milhões de euros a mais em termos de premiação. O fundo do poço está cada vez mais longe.

Ao mesmo tempo em que organiza a casa, a equipe de Grove tem como missão se ajustar para levar a vida adiante depois da saída de Russell. Claro que nenhum piloto é insubstituível, mas é inegável que o prodígio britânico trouxe grande qualidade ao time ao mesmo tempo em que amadureceu bastante nos três últimos anos antes de trilhar seu caminho rumo à Mercedes em 2022.

Até mesmo neste aspecto, a Williams acerta demais quando assina com Alex Albon, outro piloto de notável talento e que, na escuderia de Grove, vai trabalhar sem a mesma pressão dos tempos de Red Bull e terá pela frente uma estrada mais tranquila para mostrar sua capacidade.

Os ingredientes estão na mesa, e a McLaren, que viveu calvário semelhante ao da Williams há poucos anos, serve como enorme referência. Assim como a equipe de Woking se reconstruiu, renasceu e até antes do esperado voltou a vencer na Fórmula 1, nada impede que a coirmã de Grove siga caminho parecido. Difícil imaginar que aquela equipe do ‘carro de outro planeta’ volte a dominar o Mundial como aconteceu, por exemplo, no começo dos anos 1990. Mas não se pode nunca duvidar do poder de superação e reação de uma escuderia que leva o lendário sobrenome Williams sempre no seu DNA.

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