Punição, Stroll e até Mercedes põem quase certo top-3 da Racing Point em risco na F1

Desde os testes de pré-temporada, a Racing Point parecia ter todos os atributos para fazer a melhor temporada desta segunda geração da antiga Force India. Entretanto, a equipe de Lawrence Stroll, que tem como adversária uma McLaren com Carlos Sainz na melhor forma, pode desperdiçar sua melhor chance na Fórmula 1 graças aos próprios erros

Parece que foi há alguns anos, mas foi em fevereiro que a Racing Point impressionou o mundo da Fórmula 1 com a ‘Mercedes rosa’ que mostrou ótimo desempenho nos testes de pré-temporada e deu a perspectiva de um grande ano na Fórmula 1. Veio a pandemia, mas nem isso arrefeceu as expectativas. Mas a equipe de Silverstone demorou a engrenar na temporada e ainda sofreu uma punição por ter copiado os dutos traseiros do Mercedes W10, o carro do ano passado, perdendo 15 pontos no Mundial de Construtores. Desde então, alternou corridas boas e outras nem tanto, ficou desfalcada de Sergio Pérez em duas corridas e de Lance Stroll em uma, viu o canadense conquistar um pódio com sabor de derrota em Monza e, ao mesmo tempo, ‘Checo’ emendou uma belíssima sequência nos pontos na esteira de uma grande temporada. Sequência que foi encerrada quando o mexicano caminhava para seu segundo pódio seguido e era o terceiro quando viu o motor Mercedes abrir o bico nas últimas voltas do GP do Bahrein.

A Racing Point começou 2020 tendo totais condições de conquistar o terceiro lugar da temporada até com certa folga. Com a cópia de um ‘carro de outra galáxia’, um piloto de muita experiência e outro mais jovem, filho do dono, mas não necessariamente ruim, a equipe rosácea tinha nas mãos o pacote adequado para chegar lá. As rivais? Uma Ferrari estranhamente combalida e sem performance, uma McLaren oscilante e uma Renault em nítida evolução, mas ainda um pouco atrás. Era, definitivamente, o conjunto perfeito de fatores para que o top-3 da Fórmula 1, ou o título informal de melhor equipe do resto — levando em conta a enorme lacuna para Red Bull e, principalmente, Mercedes, ficasse com a Racing Point.

A Racing Point tinha totais condições de estar numa melhor condição em 2020 (Foto: Racing Point)

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Só que a tabela de pontos mostra uma realidade um tanto distinta do esperado. Restando duas corridas para o desfecho da temporada, hoje a Racing Point soma 154 pontos e está 17 tentos atrás da McLaren de Carlos Sainz e Lando Norris e 10 à frente da Renault de Daniel Ricciardo e Esteban Ocon. A Ferrari, com 131, está praticamente alijada da briga pelo top-3 levando em conta que a potência do motor, grande ponto fraco da equipe de Maranello em 2020, tende a ser a principal chave do GP no anel externo de Sakhir. Só mesmo um fim de semana atípico, como o da Turquia, poderia beneficiar o time italiano, mas a expectativa é que o GP de Abu Dhabi seja, como quase sempre, bastante previsível.

Mas o que explica a Racing Point tão atrás da McLaren nesta reta final do campeonato? Primeiro, é preciso reconhecer o grande trabalho que a equipe de Woking desempenha com um pacote técnico bastante inferior ao da ‘Mercedes rosa’. A tríade formada por Zak Brown, Andreas Seidl e James Key colocou definitivamente a lendária escuderia britânica nos eixos, e o carro se mostrou bom, em que pese ter demorado para encontrar uma boa performance com as últimas atualizações. Além de tudo isso, principalmente, se faz mais do que necessário lembrar que a McLaren conta com um piloto muito bom, Lando Norris, ainda em fase de lapidação, e um excelente Carlos Sainz, que só não está em melhor posição no campeonato por alguns azares, erros bizarros — como no GP da Rússia —, e também por falhas inexplicáveis da equipe nos pit-stops. Sainz mostra que merecia muito mais em 2020 na esteira de uma excepcional corrida no último domingo em Sakhir.

Mas a Racing Point não estar com grande folga no top-3 vai além da performance de um inspirado Sainz e de uma McLaren que consegue somar bons pontos mesmo em meio aos erros aqui e ali. E não dá para passar pano: Stroll é o grande ponto fraco de uma dupla de pilotos que tem um Pérez que apresenta sua melhor versão em muito tempo justamente depois que foi anunciada a sua saída da equipe, futura Aston Martin, ao fim do ano.

Stroll fazia uma temporada razoável, com alguns bons momentos, antes do GP da Itália. Teve um ótimo fim de semana na Hungria e foi muito bem também na Espanha. Em Monza, vacilou no momento crucial da prova, na relargada, foi ultrapassado por Pierre Gasly, da AlphaTauri, e perdeu a chance mais real que teve até hoje de vencer na Fórmula 1. O champanhe do terceiro lugar no pódio do icônico circuito italiano certamente veio com um sabor amargo para quem almejava o lugar que era ocupado pelo talentoso francês.

Depois do pódio em Monza, Stroll faz uma sequência de temporada bem errática (Foto: Beto Issa)

Daí em diante, Lance deu enorme azar ao ver o carro quebrar e contribuir para uma forte batida em Mugello, foi acertado por Charles Leclerc e também abandonou na Rússia e foi pivô de uma polêmica até agora sem muitas explicações que foi a sua infecção pelo Covid-19, situação que o levou a perder o GP de Eifel, em Nürburgring. Depois, ainda debilitado pelo novo coronavírus, esteve irreconhecível e cometeu uma porção de erros em Portugal e terminou muito atrás em Ímola.

O GP da Turquia foi de enorme surpresa quando, em meio ao caos com a chuva, a Racing Point deu o pulo do gato e foi decisiva para que Stroll fizesse grande volta e garantisse sua primeira pole na Fórmula 1.

Na corrida que deu até a pinta de que seria o palco da sua primeira vitória na Fórmula 1, Stroll liderou por 32 voltas, mas viu a performance do carro despencar depois de um alegado dano na asa dianteira e foi apenas o nono colocado. Uma nova decepção na temporada. No GP do Bahrein de domingo, Lance não teve culpa ao ter sido acertado pela AlphaTauri de Daniil Kvyat.

O fato é que o conjunto de fatores que tem atrapalhado Stroll desde seu ápice da temporada em Monza tem prejudicado sobremaneira não apenas a sequência da sua temporada no ano, mas, principalmente, a própria equipe.

No período em que Stroll somou apenas 2 pontos, Sergio Pérez marcou 66. E essa pontuação seria ainda maior, 81, se não fosse pelo motor quebrado nas últimas voltas em Sakhir. É evidente que o mexicano, injustiçado por perder uma ótima vaga no seu melhor momento na Fórmula 1, tem carregado a Racing Point nas costas, mas é impossível concorrer contra outras equipes, que também têm suas qualidades, contando com apenas um piloto na prática.

Injustiçado e sem vaga para 2021, Pérez hoje carrega a Racing Point nas costas (Foto: Racing Point)

Para se ter uma ideia da pontuação dos pilotos das equipes que concorrem com a Racing Point diretamente pelo top-3, Renault e McLaren, no período entre o GP da Toscana e o do Bahrein, Daniel Ricciardo somou 61 pontos, Carlos Sainz anotou 44, Lando Norris marcou 29 e Esteban Ocon, 12. Pérez, então, é o melhor de todos os seus pares neste tempo, mas só isso não é o suficiente para levar a Racing Point a uma condição segura no seu objetivo de chegar no top-3.

Mesmo que seja uma situação mais difícil, ainda é possível para a Racing Point fechar o ano como a melhor equipe do resto em 2020. Em teoria, a equipe, que é empurrada pelo motor Mercedes, desponta como uma força importante no que tende a ser um velocíssimo GP no anel externo de Sakhir, sendo possível aproveitar a potência do propulsor alemão para marcar pontos importantes antes da definição do campeonato em Yas Marina.

O que fica, no fim das contas, é uma importante lição para 2021. A Racing Point falha enormemente ao abrir mão de um piloto do tamanho de Pérez. E ainda que Sebastian Vettel chegue a Silverstone com toda a aura de tetracampeão e com a motivação para mostrar que ainda tem muita lenha para queimar após o calvário dos últimos anos na Ferrari, mesmo com todo o seu talento, contar apenas com o alemão não basta. Lance Stroll não é ruim, mas precisa ‘comer muito feijão com arroz’ e evoluir consideravelmente para que a futura Aston Martin não coloque apenas em Vettel todo o peso por bons resultados.

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