Red Bull aceita perda de Mundial ao manter Pérez, mas decisão ainda traz razões obscuras
Que vai ser questão de tempo até a Red Bull ser ultrapassada pela McLaren no Mundial de Construtores, parece óbvio, mas a permanência de Sergio Pérez na equipe soa muito mais como consequência da luta de poder interna que ainda tem Christian Horner como homem forte
Não é de hoje que Sergio Pérez é massacrado por todos os lados pelo mediano desempenho na Fórmula 1 2024, sobretudo pela própria Red Bull, que já lançou mão de um repertório vasto de críticas ao longo do campeonato. Frases como “sobe e desce“, “não dá para andar com uma perna só” e “colapso completo” foram usadas num passado nada distante, e é por declarações como essas que a manutenção do mexicano até o final da temporada 2024 parece ainda esconder verdades obscuras em uma equipe que não é mais a mesma desde o início do ano.
Antes, falemos de Pérez, que tem em uma das mãos um contrato vigente que termina ao final desta temporada. Na outra, surpreendentemente fez valer a própria vontade e conseguiu uma renovação para mais dois anos, por mais que a lógica faça o mundo duvidar que este segundo, de fato, seja cumprido. Essa impressão, aliás, ganhou corpo no instante em que Checo, como é conhecido por todos, chegou à Bélgica praticamente com um pé e meio na demissão.
Fazia, na verdade, todo sentido, primeiro, claro, pela equipe em questão, conhecida por nunca ter tido pena dos pilotos que por lá passaram. Segundo, pelos próprios resultados de Pérez falando por si, apesar do início dos sonhos para os taurinos, com o mexicano servindo três dobradinhas em quatro corridas realizadas junto com Max Verstappen. Só que ao contrário do que se espera de um piloto de equipe de ponta e com um dos melhores carros nas mãos, Pérez começou a ser constantemente superado pelos rivais.
Vejamos o retrospecto desde o último pódio, o terceiro lugar no GP da China: Checo foi ultrapassado por Charles Leclerc na classificação duas corridas depois, na Emília-Romanha. Na etapa seguinte, foi a vez de Lando Norris e Carlos Sainz — com uma corrida a menos no currículo, sempre bom lembrar! — deixarem o mexicano para trás. Na Inglaterra, Oscar Piastri apareceu em quinto na classificação. E da Hungria em diante, Pérez perdeu posição para Lewis Hamilton, indo para as férias num inexplicável sétimo lugar.
A reunião de segunda-feira (29), portanto, prometia ser rápida e direta, e cada um dos líderes da Red Bull possuíam seus favoritos. Do lado de Christian Horner, a predileção era escancarada por Daniel Ricciardo, enquanto o consultor-esportivo, Helmut Marko, defendia o frescor vindo de Liam Lawson. Mas seriam, de fato, candidatos melhores que o #11?
Num confronto direto, é difícil avaliar, pois Lawson teve cinco corridas na F1 para convencer a seletiva categoria de que era merecedor de um assento — oportunidade, diga-se, muito bem aproveitada quando o próprio Ricciardo se lesionou no ano passado, mas talvez insuficiente para assumir um cargo tão exigente. O veterano australiano, por sua vez, tem oscilado mais que o normal e está 10 pontos atrás do companheiro de equipe, Yuki Tsunoda, na classificação.
É provável, portanto, que Horner e Marko, que não são assim tão chegados, tenham tirado a conclusão de que uma substituição a essa altura do campeonato seria trocar seis por meia dúzia, e caso haja alguma verdade nessa hipótese, seria a constatação de que a Red Bull já trabalha o psicológico para perder o Mundial de Construtores para a McLaren. Verstappen é fenomenal, mas não possui mais o carro dominante nas mãos.
Só que a permanência de Pérez ainda parece ser mais um reflexo da guerra interna evidenciada após as denúncias contra Horner antes da pré-temporada. Acusado de conduta inapropriada por uma funcionária, o inglês foi inocentado após investigação privada da própria base em Milton Keynes, mas a decisão de mantê-lo no alto cargo não agradou a todos e trouxe ranhuras que afetaram a sólida estrutura taurina, por mais que lutem para manter a aparência imaculada de equipe perfeita.
A saída de Adrian Newey que o diga. Há tempos que não há um ambiente perfeitamente harmônico na Red Bull, portanto Pérez surge muito mais como um símbolo da força de Horner nessa constante queda de braço do que um elemento realmente significativo na disputa do título de Construtores da temporada 2024. A questão é ver até onde vai a paciência de quem ainda apoia tal decisão.
A Fórmula 1 agora faz a tradicional pausa para as férias de verão na Europa e volta de 23 a 25 de agosto em Zandvoort, para a disputa do GP dos Países Baixos.
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