Retrospectiva 2024: Mercedes vira equipe esquisita sempre entre topo e vexame na F1

A Mercedes se tornou uma equipe ainda mais esquisita em 2024. Enquanto teve momentos em que mandou no pelotão, em outros tantos parecia viver outro universo em relação às principais rivais

Tão estranha foi a temporada 2024 da Mercedes no Mundial de Fórmula 1 que é difícil até de começar a encaixar em alguma definição. É verdade que a decepção desfilou ao começar o ano como quarta força do grid e que voltou mais tarde quando o momento de euforia se transformou em choque de realidade. Mas também teve os melhores momentos desde a adoção do atual conjunto de regras do campeonato, em 2022, com vitórias dominantes e momentos para celebrar. A Mercedes continua, acima de tudo, uma incógnita.

Uma daquelas palavras que passou a ser utilizada aos baldes nos tempos de internet, talvez pelo sentido amplo e sem muitas limitações, a tal de intensidade, caracteriza mais o ano mercedista que qualquer adjetivo absoluto. É o que dá para dizer porque a Mercedes viveu os melhores e os piores momentos na era efeito-solo, às vezes alternando as duas coisas em semanas consecutivas. Realmente muito difícil de entender.

É necessário situar o que foram os últimos anos da Mercedes com a realidade dos fatos, porque é fácil lembrar que os anos têm sido decepcionantes. Mas o quão decepcionantes e qual a situação real do desempenho? Em 2022, a Mercedes viu Ferrari e Red Bull dispararem na frente e ficou imóvel no posto de terceira força do grid durante a primeira metade do campeonato. Depois, na parte final, evoluiu e terminou o ano até melhor que a Ferrari.

O desenho de 2023 foi diferente, com a Aston Martin pintando como surpresa nas primeiras corridas e uma Ferrari aquém da ameaça que se imaginava. A verdade é que a Mercedes, mesmo entupida pela Red Bull e sem mostrar grandes evoluções com carro e conjunto, passou a maior parte da temporada como a segunda força. Num ano em que a Red Bull venceu 21 de 22 corridas, significava pouco, é verdade, mas era um alento na comparação com as demais perseguidoras.

George Russell tem nas mãos o carro mais temperamental da F1 (Foto: AFP)

Salvo em corridas específicas aqui e acolá, por circunstâncias específicas, a Mercedes jamais foi a quarta força clara do campeonato. Mas essa era a realidade posta no começo de 2024. Mesmo sem a figura da Aston Martin, a ascensão da McLaren mudou o panorama. Pouco significava quando, nas etapas iniciais, parecia que a Red Bull desfilaria rumo a mais um caneco tranquilo. Eis que os destinos da F1 2024 tomaram alteração brusca no caminho. Neste desenho, McLaren e Ferrari achatavam a desvantagem para a Red Bull a passos largos, mas a Mercedes somente observava.

Nas primeiras oito provas de 2024, a Mercedes tinha como melhor resultado dois quintos lugares, um de cada piloto, respectivamente com George Russell no Bahrein e Lewis Hamilton em Mônaco. Em comparação, a McLaren teve uma vitória e cinco pódios, enquanto a Ferrari chegou a duas vitórias e oito pódios no mesmo período. A Red Bull, óbvio, muito à frente. A Mercedes sangrava.

Então, meio que de surpresa, a coisa pegou no tranco. Russell e Hamilton trocaram pódios e quartos lugares nas duas corridas seguintes, com George vendo a vitória cair no colo na Áustria, após o pega entre Max Verstappen e Lando Norris. A corrida seguinte era o último GP da Inglaterra de Lewis pela Mercedes e, portanto, recheado de celebração. Foi impressionante como Hamilton dominou as ações e terminou a estrada pelas Flechas Prateadas em Silverstone em glória. Depois de mais um pódio na Hungria, o GP da Bélgica viu a dupla da Mercedes comandar a situação e vencer com dobradinha. Mas Russell, que recebera a bandeirada na frente, terminou desclassificado por quesitos técnicos e entregou a vitória a Hamilton.

A Mercedes, que semanas antes via a situação apertar e sangrava sem parar, agora chegava ao recesso de meio de temporada cantando aos quatro ventos que tinha entendido qual caminho para desenvolver o carro. Era uma sensação de ‘enfim!’, uma vez que a Mercedes passou anos perdida, sem saber os motivos pelos quais o carro piorava ou melhorava.

Lewis Hamilton foi outro depois da vitória na Inglaterra (Foto: Mercedes)

Mas, aí, veio o retorno pós-recesso e um choque de realidade. Com avanço das rivais, a equipe anglo-alemã voltou a amargar o posto de quarta força em quase todas as pistas. A única exceção foi o GP de Las Vegas, onde venceu com dobradinha. A explicação ali era simples: o frio. Diferente das rivais, a Mercedes se comporta no frio bem melhor que em outras condições climáticas pela capacidade de aquecer pneus.

Mas o que marcou a segunda metade da temporada mercedista não foi a gloriosa aparição na Cidade do Pecado. O que marcou foi o constante pessimismo de Hamilton, que semana após semana indicava que tinha um carro lento e dos piores que já guiou nas mãos, enquanto se preparava para a despedida.

Agora, após as celebrações do heptacampeão – que conquistou seis dos títulos pela Mercedes – que está indo para a Ferrari, a realidade muda. Russell passa a ser o piloto veterano e recebe a companhia de um novato em Andrea Kimi Antonelli, que acabou de completar 18 anos de idade no último mês de agosto. Hamilton deixa de ser o norte, o que é certamente relevante.

Perder Hamilton não apenas significa deixar ir um talento enorme com o carro na pista, mas alguém responsável por ajudar em cada detalhe na preparação do bólido. Por outro lado, se há algo positivo a olhar, vai-se também a pressão de ter de ajustar um carro que comporte bem dado estilo de pilotagem. Afinal, se há algo que Hamilton deixou claro nos últimos anos, é que a Mercedes não estava muito disposta a mudar a rotação do próprio trabalho referente às opiniões dos pilotos. Com Antonelli, tão jovem assim, certamente não será um problema. O jovem terá de se adequar.

Toto Wolff continua sem saber qual caminho a Mercedes tem de seguir (Foto: Reprodução/F1)

Nas mãos, um quebra-cabeças que o chefe Toto Wolff terá de resolver. O que é possível dizer é que Wolff ficou com aparência de bobo após gritar para todo mundo que a Mercedes estava de volta e a queda na segunda parte se mostrar vertiginosa. A equipe continua sem saber como acertar. Depois de três anos, é algo muito grave.

Resta saber que caminho vai seguir a Mercedes, uma incógnita absoluta. A equipe mais esquisita da F1.

Com o ano encerrado, a Fórmula 1 retorna apenas para os testes de pré-temporada, agendados para acontecer no Bahrein entre os dias 26 e 28 de fevereiro.

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