Pérez se encontra como escudeiro ideal na F1 e mostra ser muito mais que ‘segundão’

Sergio Pérez chegou à Red Bull sem saber exatamente qual seria seu papel. Agora, em maio de 2022, isso está claro

PÉREZ CUMPRE COM EXCELÊNCIA PAPEL DE FIEL ESCUDEIRO DE VERSTAPPEN NA F1

Quando Sergio Pérez flertou com a aposentadoria do esporte, nos meses finais de 2020, havia um currículo estabelecido da parte do piloto mexicano. Pudera, uma década de Fórmula 1, muito tempo, pódios, até vitória e experiência de sobra. É evidente que se sabia quem era Pérez. Muito do que se podia fazer estava ligado às pretensões das equipes de pelotão intermediário, onde se notabilizou por ser um piloto de nível alto. Mas defender uma grande era diferente. O que conseguiria fazer, então, nas diferentes exigências de uma grande? Quase um ano depois, a resposta está dada.

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Pérez passou a vida entre Sauber e Force India/Racing Point, carros quase sempre satisfatórios para alcançar os pontos e resultados esporádicos que qualquer piloto de meio de pelotão deve saber aproveitar. Em equipes deste porte, é fundamental ter a sensibilidade de entender onde estão as oportunidades e como fazer para aproveitá-las quando se mostram, faceiras, contra as possibilidades mais óbvias. E Pérez era melhor nisso que alguns pilotos de alto nível com que competia. Felipe Massa e Nico Hülkenberg, por exemplo, eram pilotos, em seus auges, mais talhados às equipes de frente. Pérez, um monstruoso líder do pelotão intermediário.

Nas grandes, a situação é diferente. Claro que aproveitar oportunidades é um traço importante, mas o sucesso é feito da constância absoluta e de ticar todas alto nível em todas as caixas de checagem. Com seus problemas de classificação e chuva, por exemplo, ‘Checo’ Pérez tinha deficiências fáceis de se compreender para este nível. Muito por isso, falhou quando recebeu, no já distante 2013, a possibilidade na então ainda tida como grande McLaren.

E, aí, 2020 veio. A venda da Racing Point para o consórcio liderado por Lawrence Stroll fora efetuada um ano antes, mas agora, sim, o novo dono colocava as garras de fora, e a saída no que era o melhor ano da carreira era golpe duro. A equipe já recebera Lance Stroll, filho do homem, um ano antes e Sebastian Vettel pingou como oportunidade. A equipe viraria Aston Martin no ano seguinte com orçamento maior, uma nova fábrica em construção e, agora, um tetracampeão mundial nos quadros. Alguém ficaria com o ônus: foi Pérez.

Sergio Pérez já conseguiu uma pole neste ano: a primeira dele na F1 (Foto: Red Bull Content Pool)

Por sorte, a Red Bull precisava de alguém. Após a temporada difícil de Alexander Albon e da sequência de fracassos ao lado de Max Verstappen, era necessário deixar os mecanismos internos e encontrar alguém. Vagou, então, um vencedor de corrida. Pérez foi chamado e não tinha como rejeitar. Estava no lugar certo, na hora necessárias. Finalmente, a segunda chance numa equipe grande.

A história era bonita, mas o mundo inteiro sabia que Pérez não chegava na Red Bull para ser campeão mundial. Para isso, havia Verstappen, dono de fato das aspirações da equipe e um piloto superior. Não se trata de uma crítica ao mexicano, mas exaltação ao unicórnio holandês. Pérez teria de se acostumar com um carro que vinha sendo preparado há anos para outros pilotos, com a comparação brital de Verstappen ao lado e as limitações pré-estabelecidas. Que tipo de piloto complementar seria?

Corte para maio de 2022 e o apelido de ‘Ministro da Defesa’ aplicado pela Red Bull. Pérez evoluiu como piloto. Pela Red Bull, venceu corrida ano passado e, neste ano, em que vai muito bem, já tem a primeira pole da carreira. Aos 32 anos de idade, ainda se molda como piloto, porque pela primeira vez tem uma oportunidade real numa equipe deste quilate. Acima de tudo, porém, disparou para ser algo que nunca fora antes: um defensor, escudeiro de almanaque.

Muitas vezes, quando se referem a segundos pilotos, a opinião pública tende a usar o adjetivo ‘escudeiro’. O escudeiro é um protetor tradicional da Idade Média, que responsável por carregar o escudo de um cavalheiro num combate. Mas para ser um protetor é necessário proteger. Nem sempre é assim.

Há ‘segundões’ que sequer merecem estar numa equipe de ponta – Heiki Kovalainen na McLaren é um que vem à mente – e outros que são velozes e marcam pontos, mas se mantém fora da linha de combate na hora do trabalho sujo – Valtteri Bottas foi assim na Mercedes. Pérez não quer se dizer um segundo piloto, foge disso, mas isso é fator menos importante. O que importa mesmo é que na hora de atrasar um rival e defender Verstappen, faz com a galhardia que ninguém mais tem na F1 atual. E há muito tempo.

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“Eu não poderia estar na Fórmula 1 só por estar, e ser o segundo piloto seria algo desrespeitoso com a minha carreira”, disse Pérez em entrevista à Fox Sports do México. “Estou na F1 porque eu sei que posso vencer e ser campeão. Não preciso provar nada, preciso provar para mim mesmo. Eu não quero vencer corridas, meu foco é vencer o campeonato”, salientou.

Pérez parou Lewis Hamilton em meio à briga do ano passado e salvou vitória para Verstappen, assim como fez na última corrida, trancando Charles Leclerc na terceira colocação quando já não tinha vantagem do carro ou do pneu. Fez outras vezes, também, sempre que é requisitado. Pérez se descobriu um defensor diferenciado, com direito até a que mudassem a página dele na Wikipédia, a enciclopédia virtual.

Pérez faz muito pela Red Bull, mas a equipe também precisa saber lidar com ele. O piloto está certo ao dizer que ser tratado como um segundo nome é desrespeitoso com a longa carreira que construiu e, apesar do mundo inteiro ter certeza que Verstappen é prioridade, é necessário tratar a situação com sutileza. Não há motivo para interferir na vida de Checo tão cedo no campeonato, quando todos os sonhos ainda são permitidos.

Sergio Pérez, o Ministro da Defesa (Foto: Reprodução)

“Se eles [Red Bull] me pedissem para deixar Max [Verstappen] vencer a corrida quando eu poderia ganhar o campeonato, nós teríamos problemas”, admitiu o mexicano. “Mas eu não vejo isso acontecendo agora. A equipe tem sido aberta em nos dizer que querem os dois andando à frente. Nada seria melhor do que disputar o campeonato com Max, porque isso significaria que a Red Bull detém o poder”, explicou.

O nível de Pérez em 2022 até agora é altíssimo e mesmo sem levar sorte. O abandono do Bahrein custou um pódio certo, enquanto o momento do safety-car na Arábia Saudita tirou o mexicano da liderança para o quarto posto. Checo vai buscar o que der enquanto der e vai sonhar com algo a mais até que não seja mais possível. Mas a Red Bull não precisa se preocupar: todas as vezes que a necessidade do trabalho sujo pintar, lá estará uma advertência do Ministério da Defesa.

A Fórmula 1 segue no próximo fim de semana, com o novato GP de Miami.

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