Singular pista de Baku promove equilíbrio e prepara terreno para briga quádrupla na F1

O circuito de Baku talvez seja o mais excêntrico de todo o calendário da Fórmula 1, porque exige um compromisso dos mais delicados, ou seja, reunir um bom nível de downforce a uma enorme velocidade de reta. Só que, para completar, o asfalto novo da pista também ajudou a embaralhar as cartas. Portanto, o Azerbaijão se prepara uma disputa aberta e altamente equilibrada entre as quatro primeiras equipes do grid

A Fórmula 1 está, certamente, no mais singular circuito de todo o seu vasto calendário. Baku é uma pista que exige do acerto e demanda um compromisso delicado entre velocidade de reta e downforce. Esse é o objetivo, mas, neste ano, a organização da etapa azeri decidiu reparar algumas áreas com um novo asfalto, o que tornou o piso escorregadio e pouco aderente, em um traçado já traiçoeiro que mistura curvas de 90º, trechos estreitos e uma reta de mais de 2 km. E diante desse cenário, a sexta-feira no Azerbaijão terminou com a sensação de que o Mundial está mais equilibrado do que nunca.

Também porque Charles Leclerc liderou o segundo treino livre — que acaba sendo o mais importante porque normalmente é realizado nos mesmos horários de classificação e corrida no fim de semana, geralmente sob as mesmas condições de temperatura — com uma diferença pífia de 0s006 para um inesperado Sergio Pérez. Lewis Hamilton foi o terceiro da tabela de tempos, somente 0s066 atrás. É claro que Max Verstappen, sexto, surgiu 0s5 pior que o monegasco, mas esse recorte fala mais sobre as dificuldades específicas do dia do que realmente sobre o potencial da Red Bull. E entre o líder e o neerlandês, ainda se destacaram Carlos Sainz e Oscar Piastri. Lando Norris, por sua vez, enfrentou uma sexta mais complicada, mas não dá para descartá-lo da equação.

De toda a forma, a classificação do GP do Azerbaijão se encaminha para uma briga entre as quatro primeiras equipes do grid — como bem disse Piastri. E, neste momento, não é tão simples estabelecer a hierarquia de forças entre elas. Acontece que a Ferrari apareceu muito bem com Leclerc, apesar do dia também tumultuado. O dono do carro #16 bateu na curva 15 ainda na sessão que abriu as atividades em Baku e, depois, já no TL2, se viu nos boxes por conta de uma problema na direção da SF-24. O piloto se queixou da dirigibilidade do modelo vermelho, e os mecânicos tiveram certo trabalho para encontrar o problema e solucioná-lo. No entanto, impressionou a forma como Charles voltou à pista.

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O ritmo de classificação é realmente um ponto forte. Leclerc foi capaz de registrar as melhores parciais ao longo do circuito em um interessante acerto ferrarista, para virar 1min43s484. A escuderia apostou nas curvas, especialmente nos pontos mais críticos do traçado. E ainda perdeu pouquíssimo em termos de velocidade de reta para as rivais, especialmente McLaren e Mercedes. O carro vermelho seguiu voando nas longas retas de Baku. Mais um detalhe: a gestão de pneus continua potente.

Não à toa, Charles fechou o dia com um sorriso no rosto, ressaltando a competitividade ferrarista. “Há muito o que fazer para evoluir. A minha pilotagem precisa melhorar muito, mas somos rápidos, e isso é um bom sinal. Esperamos que amanhã possamos fazer algo a mais”, falou o monegasco, que largou da pole nas últimas três edições da corrida em Baku.

Porém, há sorrisos também em outras garagens. Ou alívio. Esse é o caso da Red Bull. A equipe austríaca não escondeu a preocupação após a bandeirada do GP da Itália, há duas semanas. Verstappen chegou a dizer que, se o time não mudasse as coisas, seria difícil manter a vantagem no campeonato e conquistar os títulos de 2024. Bom, a esquadra se debruçou sobre o RB20 nesse intervalo da F1 e parece ter encontrado uma luz no fim do túnel. Os engenheiros levaram para Baku um novo difusor traseiro e um revisado assoalho. A ideia é clara: ganhar equilíbrio. Ao menos até aqui, a solução parece ter funcionado. E o fato de Pérez surgir forte não deixa de ser um sinal positivo.

Outra indicação, essa melhor embasada, vem de Max. Embora tenha se queixado do traçado e ter também escapado da pista, o tricampeão gostou do que viu — inclusive, foi o mais rápido do TL1. A sexta colocação, portanto, não reflete o real potencial dos energéticos. “Acho que, no geral, tivemos um bom dia”, disse o piloto #1. “Aprendemos algumas coisas. Agora, temos de analisar o que testamos. Mas, até aqui, parece que somos mais competitivos neste fim de semana, o que é positivo”, completou.

A Red Bull promoveu uma importante revisão do difusor traseiro (Foto: Red Bull Content Pool)

“Está muito escorregadio e tem muitas curvas de 90°. Às vezes, você mantém o freio funcionando para evitar bater o muro”, explicou. “Claro, o TL2 foi um pouco mais difícil para mim. Precisamos melhorar um pouco o equilíbrio. Aí tenho certeza que seremos competitivos”, emendou o líder do campeonato.

Foi notável também entender que a Red Bull priorizou o downforce, e a performance em curva se mostrou espantosa. A única ressalva: a perda de velocidade de reta. Estima-se que a diferença para as oponentes esteja na casa de 0s6. Ao menos, nesta sexta-feira, Max até conseguia boas parciais no primeiro e no segundo setores, mas não exibia o mesmo ritmo na parte final. É claro que é sempre prudente levar em conta o mapeamento dos motores e carga de combustível nessas situações. Mas não passou incólume.

Ainda sobre isso, também foi interessante perceber o rendimento da Mercedes. Depois de perder a chance de uma boa classificação em Monza, a equipe alemã desembarcou em Baku focada na velocidade de reta. O W15 também respondeu bem nos trechos de baixa velocidade. O ritmo de classificação impressionou e dá para colocar as Flechas de Prata no páreo, mas será imperativo não errar. E o vácuo será de grande ajuda.

“Hoje foi um dia muito bom. Fiquei satisfeito desde o início, pois o carro parecia forte desde as primeiras voltas na pista. Fizemos alguns avanços positivos em questão de configuração. Não houve nada em que precisássemos dar um passo atrás, e continuamos evoluindo ao longo das voltas”, afirmou um satisfeito Hamilton.

Lewis Hamilton terminou o dia em terceiro e saiu feliz (Foto: AFP)

“Em termos de ritmo, não completamos um grande número de voltas em nossa simulação de corrida no TL2. Teremos de fazer algumas comparações hoje à noite, portanto, para ver onde realmente estamos. Nossos rivais pareciam fortes, mas acho que estamos no mesmo nível ou perto, pelo menos”, continuou.

Esse é o ponto da Mercedes. Ao menos, parece mais próxima das ponteiras. Mas há uma questão: a confiabilidade. George Russell teve o dia atrapalhado por uma troca de motor e, mais tarde, por um segundo problema técnico.

Por fim, a McLaren. O time que está sob os holofotes viveu uma sexta-feira mais discreta, mas isso não quer dizer que os ingleses estão fora da briga. Ao contrário, o carro laranja ainda mete medo na concorrência. É que Norris, apenas o 17º na tabela, deu a entender que o dia foi mais complicado. De fato, o dono do carro #4 não completou a simulação de classificação — um encontro com Pierre Gasly na parte final da volta rápida acabou por encerrar o giro. Depois, não foi capaz de percorrer voltas limpas. Entretanto, os papaias estão muito fortes em ritmo de corrida, em um requintado equilíbrio entre os trechos seletivos e mais velozes em Baku. Piastri foi o melhor nos ensaios de condição de prova — cerca de 0s3 mais rápido que a concorrência, exceto os energéticos.

Neste aspecto, a ordem parece ser: McLaren e Red Bull mais próximas, com ligeira vantagem dos britânicos, sempre levando em conta que a simulação lida com diferentes acertos, mas os mesmos compostos médios. Mercedes surge logo atrás, em torno de 0s2 e, então, vem a Ferrari. Por outro lado, a diferença em termos de volta rápida é pouco mais de 0s1.

Lando Norris foi apenas o 17º (Foto: AFP)

“Mais uma vez, os quatro principais times parecem separados por 0s1 ou 0s2, o que vai tornar o fim de semana interessante. Vamos trabalhar duro de noite para maximizar nosso pacote e ver onde isso nos deixa na classificação e na corrida”, resumiu o chefe da McLaren, Andrea Stella.

E não poderia estar mais certo.

GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP do Azerbaijão de Fórmula 1 e transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no Youtube. Além disso, debate tudo que aconteceu na pista com o Briefing após treinos livres e classificação, além de antes e depois da corrida. No sábado (14), o TL3 abre o dia às 5h30 (de Brasília, GMT-3), ao passo que a classificação será às 9h. Por fim, no domingo (15), os pilotos disputam a corrida em Baku a partir das 8h.

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