Vitórias contra Vettel, títulos à Schumacher: Hamilton e Mercedes empilham recordes
Depois de três anos de duelo quente com Nico Rosberg, Lewis Hamilton encarou uma nova realidade quando o rival se aposentou. Outro alemão até tentou bater de frente, mas Sebastian Vettel e a Ferrari não foram páreo. Muito menos o colega Valtteri Bottas. É o quarto texto da série do GRANDE PRÊMIO sobre o casamento Hamilton-Mercedes
O fim da carreira de Nico Rosberg trouxe uma nova realidade para Lewis Hamilton, para a Mercedes e, consequentemente, para a F1. Depois de três anos em que o time prateado viveu em ebulição e controlou totalmente os campeonatos, a chegada de Valtteri Bottas gerava um cenário diferente. E que fez Sebastian Vettel e a Ferrari entrarem no jogo.
No terceiro ano vestindo vermelho, o tetracampeão alemão chegava a 2017 disposto a fazer algo parecido com o que o compatriota Michael Schumacher havia feito na década anterior: domar as dificuldades da Ferrari, segurar o ambiente e resgatar a mentalidade vencedora do time.
Maurizio Arrivabene, que havia chegado junto com Vettel, era peça central no processo e, inegavelmente, já tinha feito o time evoluir em relação à bagunça deixada por Marco Mattiacci. Faltava o próximo passo, que teria de vir em 2017.
O começo daquele ano foi bastante interessante para a Ferrari e para quem sonhava com uma disputa que não ficasse só nos boxes da Mercedes. Nas primeiras seis etapas, Vettel venceu três, enquanto Hamilton triunfou em duas e Bottas, num trabalho discreto, tinha levado na Rússia. O que chamava mais a atenção ali, porém, era que Lewis não vivia uma fase de amor com o carro: o W08 ficou conhecido por ser “diva”, quer dizer, de temperamento forte, humor que variava muito. E isso apareceu rapidamente em corridas como Mônaco e Rússia.
Para se ter uma ideia de como Vettel e Ferrari tiveram chances reais em 2017, basta ver como a tabela de pontos se apresentava depois do GP da Hungria, última corrida antes das férias: Sebastian 202 x 188 para Lewis. O derretimento veio assim que as atividades retornaram.
Antes disso, porém, aquele que foi talvez o único grande momento de tensão mais quente entre os dois rivais, que hoje em dia se dão tão bem. No GP do Azerbaijão, Vettel acusou Hamilton de tentar um brake-test e simplesmente virou o carro em cima do bólido rival. Uma cena quase que de comédia pastelão. Mas que incrivelmente não escalou para outros episódios tão marcantes assim.
A volta das férias foi de derretimento inacreditável de Vettel e da Ferrari. Tão grandes que muita gente nem lembra que 2017 foi um ano tão equilibrado por tanto tempo. Nas seis corridas entre Bélgica e EUA, Hamilton venceu cinco e foi segundo colocado na Malásia, enquanto Vettel não levou nenhuma, fez só três pódios e ainda abandonou duas vezes. O segundo no Japão, por problemas mecânicos, mas o primeiro foi meio que a cara daquela temporada.
O GP de Singapura foi o ponto chave do tetracampeonato de Lewis, já que o inglês tinha só 3 pontos de frente para Vettel e largava em quinto, enquanto o alemão era pole. Só que um acidente bizarro na largada com as duas Ferrari e Max Verstappen simplesmente acabou com a temporada. Lewis foi de quinto para primeiro sem problemas e o adversário não passou da primeira curva. No fim, um nono lugar no México foi suficiente para o tetra antecipado de um Hamilton muito inspirado na segunda metade do ano.
Veio 2018, uma nova chance para Ferrari e Vettel, que pareciam ter condições técnicas ainda mais interessantes em um ano tenebroso de Bottas. O final, porém, foi o mesmo: a sensação de que o campeonato acabou muito antes do que deveria e de que a briga, dos então tetracampeões, deveria ter sido muito mais legal.
Novamente, Hamilton guardou o melhor de seu jogo para os momentos derradeiros, cresceu na hora H, como se deve fazer. Mas Vettel tinha tudo para fazer muito mais com o que tinha nas mãos e com a forma como o campeonato se apresentou.
Vencedor das duas primeiras corridas, o alemão saiu da Áustria, nona etapa do campeonato, com 1 ponto de vantagem para o inglês. Curiosamente, nem foi uma grande exibição de Sebastian, que ficou em terceiro atrás de Verstappen e do companheiro Kimi Räikkönen, mas o abandono de Hamilton por problemas na bomba de combustível embolou tudo de vez.
Foi aí que veio o GP da Inglaterra e que simplesmente não tinha como não olhar para aquilo e falar: “Vettel é o favorito ao título”. Na casa do rival, Sebastian fez uma de suas grandes apresentações pela Ferrari e venceu, com Hamilton em segundo. Mais do que a vantagem na tabela de pontos, o momento anímico era todo de Vettel, ‘quebrando o mando’ do adversário e partindo para Hockenheim para fazer a festa em casa, embalar de vez. Isso nunca aconteceu.
O tal momento de Vettel durou 14 dias. Se em 2017 foi o GP de Singapura que decretou o que seria o fim do campeonato, em 2018 foi a vez do GP da Alemanha decidir os rumos da briga. Seb era líder da prova e, na pista molhada, se enrolou. Travou tudo, foi parar na barreira de pneus e entregou a corrida no colo de Hamilton. O troco da Inglaterra estava dado e com juros, ali Lewis assumiu de vez o protagonismo do ano.
Nas sete corridas entre Alemanha e Japão, Hamilton venceu seis, enquanto Vettel só levou na Bélgica. Mais uma vez, uma sequência mágica de Lewis e muito abaixo de Sebastian decidia totalmente a parada. O penta veio de novo no México, com quarto lugar do piloto da Mercedes, que igualava ali Juan Manuel Fangio.
2019 e 2020 foram anos em que basicamente Hamilton correu atrás de recordes. O domínio na F1 era absoluto, naquela que talvez fosse a melhor fase técnica do inglês e com dois dos carros mais fortes de todos os tempos. Lewis bateu ali o recorde de vitórias de Schumacher na categoria, por exemplo.
Até aquele momento, só o próprio Michael, em 2004, e Vettel, em 2013, tinham vencido mais corridas em um mesmo ano: Lewis levou 11 em 2019 e 2020, sendo que a última foi uma temporada de 17 provas apenas, por conta da pandemia de covid-19.
Em anos bem mais fracos da Ferrari e com a Red Bull ainda longe de ser competitiva de verdade, os vices de Bottas indicaram o domínio da Mercedes. Isso tudo, aliado ao momento irretocável de Hamilton, transformaram a F1 em um show de um homem só por dois anos.
Lewis se tornava hepta e batia quase todos os recordes, virando, para muitos, o maior piloto de todos os tempos na F1. Mas não só pelos resultados: ainda, fez a Mercedes vestir preto contra o racismo e se engajou mais do que nunca em pautas sociais, batendo de frente com a FIA e até com parte do grid. Era, sob todas as perspectivas, o grande auge de Hamilton.
No fim das contas, para além de Hamilton, aqueles dois campeonatos serviram para moldar uma nova versão de Verstappen, que já despontava claramente como o segundo melhor piloto do grid. Era a prévia do que viria em 2021, com o crescimento da Red Bull antes do novo regulamento chegar. Mas isso é assunto para o texto de amanhã.
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