Retrospectiva 2023: Bortoleto conquista título da F3 em ano de estreia e vira bola da vez

Foi um ano mágico para Gabriel Bortoleto: título da Fórmula 3 na temporada de estreia e, de quebra, contrato com o programa de pilotos da McLaren. Pautado pela regularidade, o brasileiro ainda demonstrou que tem sangue frio e inteligência nos momentos decisivos e chega à F2 em alta

Nem nos mais belos sonhos Gabriel Bortoleto imaginou que teria um 2023 da maneira como foi. Tal qual o compatriota Felipe Drugovich no ano passado, na Fórmula 2, o brasileiro colocou-se já na segunda rodada da temporada da Fórmula 3 como homem a ser batido, consolidando o campeonato ainda na classificação da rodada final, na Itália. Só que diferente de Drugovich, já experiente na classe, isso foi alcançado em seu ano de estreia naquela que é considerada o penúltimo degrau antes da Fórmula 1.

Não é exagero, portanto, dizer que Bortoleto fechou 2023 como a bola da vez no promissor mercado de pilotos da base. Além do natural avanço à F2 que se espera para o campeão, o jovem de 18 anos ainda passou a integrar o Programa de Desenvolvimento de Pilotos da McLaren, uma das equipes mais tradicionais da história da F1 e que tem uma relação antiga com brasileiros — a mais notável, claro, a laureada passagem de Ayrton Senna por lá no final da década de 1980 e início dos anos 1990. E tudo sob a batuta de Fernando Alonso, de quem é agenciado desde o final do ano passado.

Antes, é válido lembrar que Gabriel já captava alguns olhares para si na FRECA, categoria que tem funcionado de ponte entre as inúmeras F4 existentes e a F3. Representando a equipe de Alonso, a FA Racing, conquistou o primeiro pódio ao ser segundo na Áustria. Depois, no ano seguinte, foi defender a R-ace GP, então campeã. Foram duas vitórias e outros três pódios, fechando na sexta colocação.

Na F3, o caminho foi trilhado ao lado da Trident, e Gabriel teve ótima sintonia com o time, tanto que a rápida adaptação foi notada já nos testes de pré-temporada, com liderança em uma das sessões. Dali para frente, portanto, seria questão de lapidar o diamante corrida após corrida em busca dos resultados.

Gabriel Bortoleto é mais novo integrante do programa da McLaren (Foto: Divulgação/McLaren)

Bastou a primeira rodada, no Bahrein. Após uma punição na sprint que o jogou para 19º, Gabriel viu o jogo virar a seu favor após o líder da corrida 2, Gabriele Minì, tomar 5s de punição. O safety-car no fim o impediu de tentar descontar a desvantagem na pista, o que fez Bortoleto, o segundo a cruzar a linha de chegada, assinalar a primeira vitória da carreira na F3. Até Alonso, no Bahrein para a etapa da Fórmula 1, prestigiou o feito, indo receber o jovem ao final da prova.

O golpe que seria fatal foi na Austrália, e a vantagem aqui era ser uma pista nova para todos. Pela primeira vez, os meninos da F3 correriam nas ruas de Melbourne, um desafio e tanto até para os mais experientes. Mais uma vez, Bortoleto impressionou, primeiro com uma volta voadora no fim que o colocou na pole-position. Depois, com uma pilotagem defensiva que neutralizou Grégoire Saucy, sendo o primeiro a ver a bandeira quadriculada.

Nenhum outro piloto viu seu nome no topo da tabela da F3 2023 além de Gabriel Bortoleto. Embora não tenha vencido mais nas etapas restantes, entendeu que a regularidade é o que faria a diferença, com explicou ao GRANDE PRÊMIO em entrevista exclusiva concedida logo após a conquista do título. “Entendi que a constância não era muito o forte dos outros e era algo em que eu estava me dando bem. É difícil falar que foi erro de piloto ou da equipe, os pilotos são de altíssimo nível na Fórmula 3, corri com todos eles desde pequenininho, no kart. E sei que todos eles são capazes de fazer um campeonato bem feito, mas acabei me dando melhor, diria”, avaliou.

Foi a consciência de que o mais importante era pontuar que o segurou em várias disputas, como na Áustria, quando em vários momentos perto do fim ensaiou a ultrapassagem sobre Zak O’Sullivan, porém optou por garantir os 18 pontos da corrida principal a arriscar a vitória numa manobra talvez afobada.

É, inclusive, uma visão de campeonato muito madura para quem estava em seu ano de estreia, por mais que a adaptação tivesse sido rápida. E assim o piloto da Trident foi administrando a diferença no placar, jogando o primeiro match-point na Bélgica, a penúltima rodada. Só que a chuva resolveu roubar a cena e bagunçar a vida de todos em Spa-Francorchamps. Bortoleto, que largou de slicks e acabou tendo mais dificuldades que o grupo que escolheu os compostos de chuva, tinha apenas uma coisa em mente: seguir o mesmo que os rivais diretos haviam escolhido, conforme detalhou ao GP.

“Quem assistiu à corrida pode pensar que me arrisquei, mas, pelo contrário, o motivo de largar com slicks foi porque os meus principais concorrentes também estavam. E o Paul Aron, naquele momento, não era meu rival no campeonato, Pepe Martí era o segundo. Então o Martí em primeiro largando de pneu slick, a única coisa que falei no rádio foi ‘siga o que os meus principais rivais estão fazendo’. Não ligava se minha corrida desse errado, porque a deles também ia dar, estariam na mesma estratégia. E se desse certo para mim, ótimo, daria para eles também e eu ia me virar para chegar na frente. Não tomei risco nenhum”, assegurou.

“Sorte de campeão, diria que foi na Inglaterra, quando corri em Silverstone, choveu no meio da corrida e eu decidi não entrar para os boxes, e foi a decisão certa. Terminei em segundo, mas era uma sprint, não era uma feature, não valia uma quantia absurda de pontos. Mesmo assim, são pontos que fazem a diferença, né? Talvez isso seja um pouco de sorte”, completou Gabriel.

Bortoleto no pódio da corrida principal da Áustria, vencida por Zak O’Sulivan (Foto: James Gasperotti/KTF Sports)

A rodada da Bélgica deixou apenas três na briga: Bortoleto, Aron e Martí, mas nem foram necessárias as corridas. Com 38 pontos de vantagem, a pole-position do companheiro de equipe, Oliver Goethe, bastou para deixar apenas mais 37 em disputa. A Trident nem esperou alguma eventual punição para celebrar a conquista histórica do novato.

Só que ainda havia competição pela frente! Em jogo mesmo para Bortoleto, só o desejo pessoal de dar uma mostra do piloto que realmente era. “Na maioria do campeonato, tive de tirar o pé em situações de batalha para não arriscar uma batida desnecessária. Lógico que houve momentos, por exemplo, em Budapeste, na Hungria, que precisei fazer uma ultrapassagem na última volta e fiquei cercando o cara até a última curva e consegui passar, mas ali, para mim, era nítido que eu poderia fazer a ultrapassagem. Tinha na minha cabeça que estava mais rápido e fui, mas houve momentos, por exemplo, Silverstone, Áustria, que cheguei em segundo, mas poderia ter ganhado se tivesse arriscado um pouco mais, mas decidi ficar ali para somar os 18 pontos. Imagina bater e perder os pontos.”

“Na sprint race de Monza, consegui mostrar o que eu realmente queria. Queria realmente mostrar para o público quem eu era, porque não queria só passar a impressão de um cara que consegue administrar bem o campeonato. Também queria mostrar minha agressividade, do que sou capaz de fazer. ‘Tá, acabou o campeonato, quem você realmente é? Você ganhou, mas me mostra se você é capaz de fazer uma ultrapassagem mais agressiva’, e fiz. Tanto que passei o cara pela grama, então acho que demonstrei um pouquinho do que eu queria”, afirmou ao GP.

Bortoleto vai para 2024 como uma das grandes promessas para o grid da F2. Vai ter um desafio e tanto pela frente com os agora experientes Oliver Bearman e Victor Martins, mas há também grande expectativa de um duelo contra Andrea Kimi Antonelli, o piloto mais sensação da atualidade. 2023, contudo, provou que se tem alguém que pode roubar os holofotes, é o agora campeão vigente da F3.

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